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| - “Em plena situação de seca por todo o país, em Portugal temos 75% da água a ser usada na agropecuária, ultrapassando mesmo a média da União Europeia, de 24%, e a média mundial, de 69%. O paradigma da agropecuária tem de ser alterado, o planeta não aguenta mais monocultura, não aguenta mais agricultura e pecuária em modo intensivo e superintensivo”, começa por alertar o partido liderado por Inês Sousa Real, num post de 3 de fevereiro que gerou bastante controvérsia nas redes sociais.
De acordo com o PAN, “é preciso implementar um Plano Nacional da Água às Alterações Climáticas, apoiar agricultores/as a apostarem em sistemas de eficiência de gestão eficiente da água, criar apoios e benefícios para quem tem boas práticas agrícolas” e ainda “apoiar na reconversão de práticas menos sustentáveis para práticas social e ambientalmente sustentáveis”.
Como consumidores, defende o partido, “também temos o poder nas nossas mãos, privilegiando escolhas alimentares mais sustentáveis”. Por conter informação alegadamente manipulada (recebemos vários pedidos de verificação), o Polígrafo consultou o estudo em que se baseia este post e verificou se os números estão realmente corretos.
Desde logo, o estudo em questão, “O Uso da Água em Portugal“, foi apresentado pela Fundação Calouste Gulbenkian em 2021, mas foi desenvolvido entre 2019 e 2020, pelo que os seus dados remetem para esses dois anos em particular.
Segundo o documento, “em Portugal, o setor agrícola (incluindo a pecuária) é responsável por 75% do total de água utilizada no país“, um número que “contrasta com a média da União Europeia (24%) e chega a ser superior à média mundial (69%), estando no entanto alinhado com o de países mediterrânicos como a Espanha e a Grécia”.
“Se considerarmos a Espanha ou a Grécia, o peso do setor primário no consumo total de água é da mesma ordem de grandeza (cerca de 80%). Sendo países mediterrânicos, também se caracterizam por parte da sua agricultura ser regada. Alternativamente, se olharmos para a Europa do Norte, a situação é distinta. No Reino Unido, apesar de a agricultura ocupar mais de metade da superfície do país, o clima da região permite que a atividade seja maioritariamente de sequeiro e o peso do sector agrícola no consumo de água seja apenas de 14%; na Alemanha esse valor é ainda menor: 2%. Não se podendo falar de uma só realidade europeia, no contexto dos países mediterrânicos, onde há agricultura de regadio, as estatísticas de Portugal não são surpreendentes”, explicam os autores.
Mas a que se deve, essencialmente, um “valor desta magnitude”? O estudo responde: “À existência de regadio no país. Pelo facto de a estação mais quente do ano ser também a estação mais seca em todo o país, a rega compensa a falta de chuva, garantindo a produtividade das culturas e a competitividade do setor.”
Ora, na medida em que a “agropecuária” não representa toda a agricultura praticada em Portugal, mas somente uma parte (não quantificada no estudo), não é possível fazer esta extrapolação. Pelo que classificamos o post em causa como difusor de informação descontextualizada.
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Avaliação do Polígrafo:
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