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| - A história conta-se em poucas palavras: quem quiser utilizar as instalações da casa mortuária, em Freamunde, inaugurada recentemente, tem que pagar nada mais nada menos do que 75 euros por dia. A gratuitidade, normalmente associada a este tipo de serviço, não se verifica nesta paróquia que, depois de confrontada com as queixas dos freamundenses, divulgou um comunicado sobre o assunto.
A primeira publicação sobre o tema surge a 28 de outubro, no Facebook: “Hoje fiquei perplexo. Estava – como sempre faço – a tomar o meu café da manhã num café de Freamunde e, depois de ler que um freamundense estava depositado na capela do cemitério n.º 2 de Freamunde para o seu funeral, levei que se dava o caso de pertencer a outras religiões não cristãs. Ao perguntar ao dono do café se era esse o motivo foi-me dito que não. O motivo era sim que, quem quisesse utilizar as instalações da casa mortuária – inaugurada há dias – tinha de pagar 75 euros diários.”
“Então agora no Freamunde democrático há capela do cemitério para os pobres e casa mortuária para os mais abastados?“, questiona o autor do post, que pede inclusive aos filhos para que, “quando morrer”, não “paguem 75 euros diários para ser depositado na Casa Mortuária de Freamunde. Vai dar complicações e transtornos aos meus familiares e amigos. Mas quero ter umas exéquias como tive o nascimento: pobre“.
Face às partilhas e queixas que chegaram à Paróquia de Freamunde, o Conselho para os Assuntos Económicos divulgou um esclarecimento, referindo que “a contribuição financeira, no contexto das exéquias, nesta Paróquia de Freamunde, não tem nada a ver com o serviço religioso ou sacerdotal, mas simplesmente com a utilização de um espaço – a mortuária que é, em muitos casos, da responsabilidade das juntas de freguesia, com ou sem taxa de utilização”.
O pagamento é solicitado à Agência Funerária responsável pelo funeral, de forma a que a Paróquia consiga “pagar as despesas associadas ao consumo elétrico, à limpeza e à manutenção daquele espaço”. Em compensação, “também a Paróquia cumpre os seus deveres económicos e sociais para com as pessoas que a servem, nomeadamente na vigilância e limpeza deste espaço”.
Conscientes de que existem juntas de freguesia e paróquias “que aplicam uma taxa e outras que não sentiram (ainda) necessidade de o fazer, contando com outro tipo de receitas ou apoios (paroquiais ou estatais)”, a Paróquia de Freamunde não se esquiva da responsabilidade de ter imposto o custo de 75 euros diários e refere que a decisão “não resultou da vontade singular do pároco, mas foi ponderada em sede própria do Conselho para os Assuntos Económicos da Paróquia”.
“Tivemos em conta, com realismo, os nossos recursos, dificuldades e compromissos financeiros, bem como o das famílias, que recebem – como se sabe e na maioria dos casos – alguma contribuição social para as despesas de funeral, gerida habitualmente pela Agência Funerária”, argumenta-se no comunicado. A gratuitidade seria o cenário ideal, mas a Paróquia admite não conseguir, “por iniciativa espontânea e livre de uma parte significativa dos seus fiéis, uma habitual contribuição”.
A falta de fiéis praticantes também é utilizada como justificação para a cobrança, na medida em que “são, de facto, muitas as pessoas que não se sentem vinculadas a qualquer contributo paroquial regular, para o cuidado da sua casa comum (a igreja)”, pelo que “a contribuição, nesta circunstância, é também uma forma de cuidar de um espaço aberto a todos”.
Sensíveis às “situações de comprovada carência económica sinalizadas pela Agência Funerária”, os membros da Paróquia dizem ter em conta estes casos, mas não avançam se o pagamento será anulado ou se há apenas um “desconto”.
“Os que conhecem, por dentro, a vida da nossa comunidade paroquial, sabem que não divinizamos nem diabolizamos o dinheiro. Este pode ser um bom servo e será sempre um mau senhor. Nós desejamos apenas que nos ajude a servir mais e melhor”, defende-se no comunicado. “Somos transparentes na prestação de contas e ficamos muito gratos àqueles que têm garantido à Paróquia, com sacrifício pessoal e alegre generosidade, os recursos financeiros necessários para esta cumprir a sua missão, no anúncio, na celebração e no serviço da caridade”.
Ao Polígrafo, o presidente da Junta de Freguesia de Freamunde não assume qualquer responsabilidade pela cobrança dos 75 euros, alegando que terá sido uma decisão tomada a inteiramente pela Paróquia. Reforçando que o valor é cobrado à agência funerária, o socialista Arménio Ribeiro assume que o valor lhe parece avultado e garante que a junta está em conversação com a Paróquia para fazer com que a gestão da capela mortuária passe a ser da sua responsabilidade.
Assim que esse objetivo for conseguido, os freamundenses podem esperar que a gratuitidade do serviço volte a ser a norma e não a exceção. Até agora, só em casos de manifesta insuficiência económica é que as famílias foram dispensadas do pagamento deste valor, diz Arménio Ribeiro, uma narrativa que entra em contradição com o facto já referido de ser a Agência Funerária a arcar com esta responsabilidade.
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Avaliação do Polígrafo:
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