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| - António Costa enumerou, no primeiro discurso no Congresso do PS, uma série de conquistas do Governo que lidera. Num dos momentos, elogiou alguns avanços conseguidos na área tutelada pelo ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita. Foi então que disse: “É com orgulho que olhamos para o nosso país ter passado de 18.º país mais seguro do mundo em 2014 para 4.º país mais seguro do mundo em 2021”. Os números estão corretos, mas falta contexto à frase — e os anos escolhidos para a comparação (que não correspondem aos anos de governação do PS) inflacionam a melhoria que realmente existiu nesta área.
O ranking que Costa refere é o Global Peace Index 2021, um índice da “paz” que mede aqueles que são os países mais pacíficos do mundo. A prova de que é este o ranking utilizado pelo Governo está na comunicação do próprio Executivo, que até coloca o link para o estudo na nota pública divulgada sobre o assunto. Trata-se de um índice calculado pela revista The Economist em parceria com várias universidades. De facto, como se pode comprovar, Portugal estava em quatro lugar no ranking de 2021 — divulgado em junho deste ano — e em 18.º no ranking 2014.
Ranking de 2021
Ranking de 2014
Se os números estão corretos, a forma como Costa os apresenta sugere que Portugal tem vindo sempre a evoluir de forma progressiva e positiva neste ranking até 2021 — mas na verdade neste ano até desceu um lugar no ranking, já que em 2020 estava em 3.º lugar. E não era inédito. Portugal já tinha conseguido o terceiro lugar neste ranking também em 2017.
Ranking de 2020
Há outro problema na comparação de António Costa. O primeiro-ministro utiliza como termo comparativo o ano de 2014, quando Portugal estava em 18.º lugar. No entanto, foi no ranking de 2015 — que foi divulgado em junho desse ano, quando o Governo ainda era liderado pela coligação PSD/CDS — que o país teve a maior subida neste ranking (de sete lugares) passando desse mais modesto (ou inseguro) 18.º lugar para 11º lugar. No ano seguinte, ainda em 2016, subiria mais seis posições, para o 5.º lugar, uma subida que também seria — no mínimo — de responsabilidade partilhada entre o Governo de Passos Coelho e o de Costa (já que a subida ocorreu entre junho de 2015 e junho de 2016, sendo que António Costa tomou posse em novembro de 2015). Desde então, de 2016 a 2021, tem andado relativamente estável em zona segura pelo 3.º, o 5.º e o 4.º lugar.
O Governo, na sua página oficial, refere-se a este índice como “relatório do Institute for Economics & Peace” e destaca que esta já é a 15.ª edição do índice e que “abrange 99,7% da população do mundo”, o que corresponde a a “163 estados e territórios independentes.”
O índice avalia a posição do país em áreas como conflitos domésticos ou internacionais, proteção e segurança social, militarização e custo económico da violência. Tudo áreas em que Portugal está, genericamente, bem posicionado.
Conclusão
António Costa é factual quando diz que, em 2014, Portugal estava em 18.º lugar no ranking de países mais seguros do mundo e, em 2021, está no quarto lugar. No entanto, quando o secretário-geral do PS diz que é um “orgulho” para o seu Governo ter subido todas estas posições, está a descontextualizar números, uma vez que parte desta subida aconteceu durante o Governo PSD/CDS. Além disso, está a referir-se não ao último ano do Governo anterior, mas ao pior dos últimos oito relatórios. Além disso, sugere que em 2o21 o ranking melhorou, quando Portugal desceu um lugar relativamente a 2020.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
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