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| - O tom não baixou nos primeiros minutos de reunião plenária na Assembleia da República: foi com sucessivas interrupções que se ouviu, esta tarde, a intervenção do deputado único do Livre, Rui Tavares, que apelidou o grupo parlamentar do Chega de “falsos amigos” das forças de segurança, já que terão “aprovado e aplaudido todos os piores orçamentos para a polícia de que há memória”.
Sobre racismo, um tema que também estava na ordem do dia, Tavares acusou o partido de Ventura de o querer “desvalorizar”:
“Não falam naquilo que estava nesses fóruns na Internet, nunca falam das ameaças, da contratação de snipers, da conversa sobre as balas de 9 milímetros para matar políticos. Quem é que está do lado dos criminosos e quem é que está do lado dos polícias íntegros que os denunciaram?”
Na resposta, Ventura foi impreciso e faltou à verdade duas vezes: “Ouvir o único deputado desta casa que tinha uma deputada negra sentada no seu lugar, que a mandou embora, dizer que nós somos racistas… Que o céu me caia aqui em cima de mim. A única deputada negra… Olhe, eu vou-lhe dar um conselho: está a ver aqui um deputado negro [Gabriel Mithá Ribeiro]? O único deputado negro desta casa é do Chega. Está aqui connosco.”
As reações surgiram de imediato, com as restantes bancadas parlamentares a reclamarem a presença de Romualda Fernandes, mulher negra, eleita deputada à Assembleia da República pelo PS em 2019 e 2022. Para se defender, Ventura argumentou: “Que eu saiba, a doutora Romualda é uma mulher e não um homem. Que eu saiba.”
O argumento de Ventura cai por terra tendo em conta aquilo que disse poucos minutos antes das declarações sobre Gabriel Mithá Ribeiro: que Joacine Katar Moreira era também a única deputada negra com lugar no Parlamento.
Eleitas no mesmo ano, Katar Moreira era acompanhada por Beatriz Gomes Dias, bloquista, licenciada em Biologia e nascida no Senegal há 48 anos, e Romualda Fernandes, nascida na Guiné-Bissau há 65 anos, jurista, eleita nas listas do PS. Também Nilza de Sena, professora, 43 anos, nascida em Moçambique, foi eleita nas listas do PSD na última legislatura.
Antes delas, e tal como o Polígrafo já escreveu em 2019, o que se verifica é que há um enorme vazio: em democracia, antes de Nilza de Sena em 2015, nunca tinha sido eleita uma mulher negra. É preciso recuar até 24 de abril de 1974 para encontrar Sinclética Soares Santos, deputada por Angola que se notabilizou pelas suas intervenções sobre o consumo de drogas em Angola – a cronista Helena Matos descreve a sua atividade num ensaio publicado no “Observador” em junho de 2018 (pode ler aqui).
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Avaliação do Polígrafo:
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