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| - “Não existe qualquer efeito de estufa sequer. É uma hipótese nunca confirmada.” É esta a tese defendida numa de várias publicações no Facebook cujos autores acreditam que “tudo quanto nos vendem sobre o clima e as alterações climáticas antropogénicas [influenciadas pela ação humana] é absolutamente falso”.
Os autores deste tipo de publicações negam, portanto, o processo de retenção do calor no planeta por gases presentes na atmosfera, como o dióxido de carbono, o metano e o vapor de água. No entanto, tal como o climatologista Carlos da Câmara confirma ao Polígrafo, não há dúvidas na comunidade científica sobre a existência deste mecanismo que permite a vida na Terra.
O professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa lembra que, sem este efeito, “a temperatura média do planeta” seria significativamente mais baixa e não existiria vida tal como a conhecemos. O problema, acrescenta, surge quando “este efeito é exagerado”, ou seja, quando há uma concentração excessiva destes gases na atmosfera, provocando alterações climáticas.
Noutro plano, o investigador explica que – além de este efeito estar “documentado” e de não ser apenas uma “corrente de pensamento” de um grupo limitado de cientistas – a ciência sabe que “uma alteração na constituição da atmosfera tem implicações na quantidade de energia armazenada no planeta”.
Na perspetiva do climatologista, a confusão expressa em algumas publicações nas redes sociais sobre a existência deste efeito surge porque o mecanismo que provoca o aquecimento das estufas de plantas não é exatamente o mesmo que provoca a retenção de calor na Terra. Porquê? Porque, no caso das estufas, não é apenas pelo facto de o vidro ser transparente para a radiação solar e menos transparente para a radiação infravermelha que o ar dentro delas é quente, dado que outros fatores, como a ausência de vento, também contribuem para esse aquecimento.
Segundo Carlos da Câmara, este facto levou a que, nos anos 1990, vários cientistas tentassem substituir o termo “efeito de estufa” pela expressão “efeito atmosférico”. No entanto, “o nome já tinha pegado” e continuou a chamar-se efeito de estufa a um fenómeno atmosférico que não é exatamente igual ao que acontece nestas galerias envidraçadas.
Em conclusão, embora o termo “efeito de estufa” possa não ser a analogia mais perfeita para descrever o processo de retenção do calor no planeta pelos gases presentes na atmosfera, é inegável que este mecanismo existe, permitindo a vida na Terra.
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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.
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Avaliação do Polígrafo:
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