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| - O ambiente no Hospital da Cruz Vermelha (HCV) Portuguesa está a ferro e fogo. Numa missiva endereçada ao Presidente da República, presidente da Assembleia da República, primeiro-ministro e ministros das Finanças, Defesa e Saúde, e assinada por médicos, enfermeiros, técnicos, administrativos e auxiliares de ação médica e colaboradores, Francisco George, presidente da instituição e ex-director-geral da Saúde, é acusado de “estar a pôr em risco a sobrevivência clínica e económica do hospital”.
Na mira dos profissionais estão uma série de decisões de natureza organizacional, financeira e clínica, tomadas por Francisco George que consideram ruinosas. A gota de água surgiu recentemente, a propósito da estratégia de combate do hospital à Covid-19.
Os profissionais sublinham que, em reunião alargada com Francisco George (estiveram presentes cerca de 30 pessoas), foi decidido manter o HCV como livre de Covid-19, ou seja, que não trataria doentes infetados com o novo coronavírus. Nessa reunião, Francisco George defendeu que o HCV devia dedicar-se em exclusivo à doença mas acabou por ceder à opinião maioritária, que considera que o hospital não tem condições de segurança nem capacidade instalada para acolher doentes daquela natureza. Dizem os médicos que dois dos quatro pisos do HCVP não têm rampas de oxigénio nem de aspiração, indispensáveis para o tratamento dos doentes COVID. E acrescentam que também na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) não há capacidade de recursos humanos para usar as 17 camas com ventilador. No melhor dos cenários, com todo o pessoal saudável e a trabalhar, o máximo disponível seriam 10 camas na UCI e 20 na enfermaria.
Foi por isso que, poucos dias depois da decisão tomada, os funcionários ficaram altamente surpreendidos quando Francisco George lhes comunicou a decisão de transformar o hospital numa unidade Covid-19. Argumento utilizado: o Ministério da Saúde teria tomado essa decisão “irrevogável”.
Será verdade que Marta Temido deu essa instrução a Francisco George?
Contactado pelo Polígrafo, o ex-director-geral da Saúde recusou prestar declarações. Já o Ministério da Saúde, através de fonte oficial, foi claro: “O Ministério da Saúde não tem qualquer tutela sobre a Cruz Vermelha Portuguesa.” Leia-se: não deu nem poderia dar qualquer orientação formal a Francisco George nesse sentido.
De facto, quem tem a tutela da CVP é o Ministério da Defesa. Ou seja, havendo qualquer decisão “irrevogável” ela teria de ter tido origem no Ministério tutelado por João Gomes Cravinho, o que não aconteceu.
O que aconteceu foi exatamente o contrário. Na sequência da polémica, a ministra da Saúde emitiu ontem, quinta-feira, um comunicado em que refere que o HCV não será utilizado como “Hospital Covid: “Consideramos não se justificar atualmente a integração do Hospital da Cruz Vermelha na rede COVID, sem prejuízo do contributo vital que, nesta fase, já é desenvolvido por essa instituição no apoio ao Estado num cenário ímpar e de especial exigência.”
Avaliação do Polígrafo:
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