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| - “25 de abril, liberdade para eles, pobreza para o povo: o país mais endividado da Europa; o país mais pobre da Europa; os impostos mais altos da Europa; o quinto país mais corrupto do mundo”.
Esta é a mensagem do post em causa, datado de 25 de abril de 2021, exibindo uma imagem das comemorações da Revolução dos Cravos na Assembleia da República, não em 2021, mas numa altura em que Mário Centeno ainda exercia o cargo de ministro das Finanças, além de ser notória a ausência de máscaras nos retratados que incluem o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro António Costa.
Respondendo à solicitação de leitores, o Polígrafo analisa as quatro alegações em causa.
“O país mais endividado da Europa”?
De acordo com os dados mais recentes do Eurostat, gabinete de estatísticas da União Europeia, a dívida pública de Portugal destacou-se no quarto trimestre de 2020 como a terceira mais elevada entre os 27 Estados-mebros da União Europeia mais a Noruega.
No topo da tabela surge a Grécia, com uma dívida pública de 205,6% do Produto Interno Bruto (PIB), seguindo-se a Itália com 155,8% do PIB e Portugal com 133,6% do PIB. A média da União Europeia cifrou-se em 90,8%.
“O país mais pobre da Europa”?
Consultando os dados mais recentes do Eurostat referentes ao Produto Interno Bruto (PIB) real per capita verificamos que, em 2020, Portugal surge na 17.ª posição da tabela dos 27 Estados-membros da União Europeia, com 17.180 euros, muito distante da Roménia (8.780 euros) e da Bulgária (6.600 euros) que se destacam nas últimas posições.
No ano anterior, Portugal estava na 16.ª posição, com 18.630 euros.
É um facto que, neste indicador macroeconómico, Portugal está bastante abaixo da média da União Europeia que em 2020 foi de 26.230 euros e em 2019 foi de 27.978 euros. No entanto, pelo menos 10 Estados-membros registam um PIB real per capita inferior ao de Portugal, desmentindo assim a alegação de se trata do “país mais pobre da Europa”.
“Os impostos mais altos da Europa”?
No que concerne à carga fiscal, segundo os dados mais recentes do Eurostat também não se confirma que Portugal esteja sequer nas posições mais elevadas ao nível europeu, mas praticamente a meio da tabela, com 34,7% do PIB em 2018 e 34,6% do PIB em 2019.
A grande distância da Dinamarca (46,1% do PIB em 2019), França (45,5%) Bélgica (43,6%) e Suécia (43%) que lideram essa mesma tabela. A média da União Europeia (total de 27 Estados-membros) em 2019 cifrou-se em 40,1% do PIB.
“O quinto país mais corrupto do mundo”?
Esta última alegação já tinha sido analisada pelo Polígrafo num artigo de verificação de factos publicado em maio de 2020. Em diversas publicações que circulam nas redes sociais aponta-se para um estudo da consultora Ernst & Young sobre fraude e corrupção em 38 países que “coloca Portugal na quinta posição dos mais corruptos“.
Mas esse estudo foi apresentado em 2015 e a conclusão de que Portugal é “o quinto país mais corrupto do mundo” não se confirma.
“Dos trabalhadores portugueses inquiridos – de um universo de 3.800 entrevistados, de 38 países da Europa Ocidental e de Leste e do Médio Oriente, Índia e África – 83% concordam que as práticas de suborno/corrupção acontecem de uma forma generalizada em Portugal”, noticiou a Agência Lusa, a 16 de junho de 2015. “Na Croácia são 92% dos entrevistados que têm essa crença, sendo o país com pior resultado, enquanto na Bélgica são 34%, na Alemanha 26% e na Finlândia 11%, sendo a Dinamarca o país com melhor desempenho no inquérito, com apenas 4% dos inquiridos nacionais a defender que as práticas de suborno e corrupção são generalizadas”.
“‘No último ano e meio, Portugal tem sido fustigado por casos de corrupção. Por isso, os entrevistados terão mais propensão para responder positivamente’ a questões relacionadas com corrupção e fraude, afirmou Pedro Cunha, da Ernst & Young, na apresentação dos resultados do inquérito. […] Dos inquiridos em Portugal, 61% consideram que existiu uma distorção de resultados financeiros das empresas e apenas 28% consideram a ética empresarial da sua organização como ‘muito boa’. Contudo, 25% dos inquiridos em Portugal acredita ter existido uma melhoria na ética empresarial da sua empresa nos últimos dois anos”, acrescenta-se na mesma notícia.
Além da questão da data, importa salientar que o estudo da Ernst & Young não contabiliza os casos de corrupção registados em Portugal e nos restantes 37 países analisados. Também não procura apurar o nível de corrupção nesses países, através de dados estatísticos. O estudo baseia-se nos testemunhos de 3.800 entrevistados, ou seja, foca-se na percepção da corrupção dos entrevistados. Pelo que concluir a partir deste estudo que Portugal é o quinto país mais corrupto do mundo (ainda que se trate apenas de um conjunto de 38 países) não tem fundamento e induz em erro.
Uma fonte mais credível (e atualizada) para aferir sobre o grau de corrupção que caracteriza um país consiste mo Índice de Percepção de Corrupção, um relatório divulgado anualmente pela organização Transparência Internacional.
De acordo com o mais recente (disponível aqui), entre 180 países e territórios analisados, Portugal situa-se na 33.ª posição, numa tabela em que a Nova Zelândia e a Dinamarca ocupam a 1.ª posição (correspondente ao país menos corrupto do mundo), ex aequo.
No fundo da tabela destacam-se (pela negativa) a Somália e o Sudão do Sul que, numa escala que vai de zero (altamente corrupto) a 100 (nada corrupto), obtêm apenas 12 pontos.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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