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| - “Quando se comunica que se vem em bolha é porque se vem em bolha. Senão não se diz que se vem em bolha. Diz-se vêm tantos, uns vêm em bolha, outros não. E depois tem de se explicar porque foi diferente. E tem de se ter a noção do exemplo que se dá“, afirmou ontem o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, durante uma visita às instalações de Lisboa do Banco Alimentar Contra a Fome.
“Não devemos cair em facilidade, permitindo aglomerações, mas não estamos na situação em que estávamos há três meses. As pessoas estão muito sensatas, o português é muito sensato. Quando sente que é para fechar fecha, neste momento percebe que há coisas que têm de ficar fechadas e outras que têm de abrir”, prosseguiu Rebelo de Sousa. “Agora temos de encontrar o discurso adequado. Não se pode dizer que a realidade é a mesma de janeiro, fevereiro, março porque as pessoas não acreditam“.
Entretanto, nas redes sociais, o partido Iniciativa Liberal exponenciou a crítica do Presidente da República ao Governo, salientando ironicamente que “rebenta a bolha“.
“Em 13 de maio, a ministra Mariana Vieira da Silva anunciou publicamente um conjunto de medidas que, supostamente, iriam ser aplicadas com rigor aos adeptos que viessem assistir à final da Champions e que seriam, na versão do Governo, indispensáveis para garantir a saúde pública. De acordo com a ministra, os adeptos deslocar-se-iam com ‘ida e volta no mesmo dia e teste feito‘, e permaneceriam ‘em situação de bolha, ou seja, em voos charter, com deslocações para uma zona de espera’ de onde seguiriam para o estádio, regressando imediatamente após o jogo“, recorda-se no post do Iniciativa Liberal.
“Todavia, a realidade veio demonstrar que nunca houve qualquer intenção – ou possibilidade prática – de o Governo garantir a bolha de segurança que anunciou, servindo a divulgação pública das referidas regras apenas de manobra de diversão para tentar esconder que as restrições que continuam a ser aplicadas aos portugueses em nome da saúde pública estão afinal fundamentadas na mais absoluta arbitrariedade”, sublinha-se.
“Não é aceitável, como referiu o Presidente da República, dizer-se que ‘vêm em bolha e depois não vêm em bolha‘. Mas não é sobretudo admissível que a generalidade dos portugueses continue sujeita, aí sim, a uma bolha de limitações, proibições e imposições arbitrárias que se levantam depois, de acordo com o capricho do Governo, para situações em tudo idênticas”, concluem os liberais.
Confirma-se que o Governo assegurou que adeptos ingleses vinham “em bolha” mas não cumpriu?
De facto, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião do Conselho de Ministros de 13 de maio, a ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, questionada por um jornalista sobre a presença de adeptos ingleses no jogo final da Liga dos Campeões agendado para 29 de maio na cidade do Porto, anunciou que “foram definidas um conjunto de regras“, desde logo “o limite do número de adeptos que poderá estar no Estádio [do Dragão], 12 mil adeptos“.
“As pessoas que vierem à final da Liga dos Campeões, virão e regressarão no mesmo dia, com teste feito, em situação de bolha. Ou seja, em voos charter, deslocações para uma zona de espera… Duas zonas de adeptos, digamos assim, e destas serão deslocadas para o estádio e do estádio novamente para o aeroporto, estando em território nacional menos de 24 horas, nesta permanência em bolha e com, obviamente, testes obrigatórios feitos em princípio antes de entrar no avião”.
Posteriormente na mesma conferência, respondendo a outra pergunta sobre a Liga dos Campeões, especificamente sobre se estava a ser “acautelada alguma medida paralela para adeptos que viajem fora da bolha e que se limitem a ir à cidade do Porto”, Vieira da Silva respondeu da seguinte forma: “Eu referi uma lista de requisitos que é muito fechada. Obviamente que as pessoas que possam vir de avião, sendo que neste momento os voos ainda têm limitações, cumprem as regras que estiverem definidas e obviamente o dispositivo de segurança que terá de ser montado, como aliás foi o ano passado na cidade de Lisboa, será montado“.
“Aquilo que importa é garantir que as pessoas que são o público deste jogo, que é o que é novo e fora do que tem acontecido, cumprem estas regras de viajar em bolha, de entrarem e saírem em 24 horas, de virem todas testadas e de não terem, no fundo, um contacto com a população em geral, é isso que significa estar em bolha. E portanto não contribuírem para nenhumas alterações nos nossos níveis de incidência. Estas são as condições em que se realizará a final da Liga dos Campeões em Portugal”, concluiu.
Esta garantia foi reiterada no dia 26 de maio por João Paulo Rebelo, secretário de Estado do Desporto, ao afirmar que “desde a primeira hora, o Governo entendeu-se com a Federação Portuguesa de Futebol e, por consequência, com a própria UEFA, de que a esmagadora maioria dos espectadores teriam de cumprir condições muito especiais. E a informação que tenho – ainda hoje pedi essa informação à Federação Portuguesa de Futebol – é que isso está a ser cumprido“.
“O Governo sabe é que está a ser cumprido o que estava comprometido: a esmagadora maioria dos espetadores vir em voos charter, garantidamente, estarem todos absolutamente testados à Covid-19 com teste PCR, serem depois encaminhados para as zonas de fãs, onde levantarão os seus bilhetes e, depois, no final do jogo, reencaminhados para o aeroporto“, assegurou Rebelo.
Na realidade, porém, a “bolha” parece não ter funcionado. Na noite do jogo, entre outros exemplos, “um grupo de adeptos do Manchester City provocou alguns desacatos na zona da Ribeira do Porto. No final do encontro com o Chelsea, cerca de 30 simpatizantes dos citizens, depois de terem abandonado a fanzone, ocuparam indevidamente a via pública e obrigaram à intervenção da polícia. Do incidente resultaram duas detenções, assim como um polícia ferido”, noticiou a Agência Lusa.
Comentando esta notícia no Twitter, Rui Rio, líder do PSD, escreveu que “o Governo e a Câmara do Porto deviam pedir desculpa aos portugueses que, privados de tanta coisa, assistem a esta vergonha em pleno combate à pandemia. Nada aprenderam com o que se passou em Lisboa. Hoje foi bem pior. Muita conversa politiqueira… E muito pouca eficácia“.
Nas redes sociais multiplicam-se as publicações de imagens de adeptos ingleses no Porto, aparentemente sem cumprirem as regras em vigor (para os cidadãos portugueses em geral) no âmbito da pandemia de Covid-19, com críticas ao Governo por causa dessa contradição.
A Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte aconselhou hoje vigilância e redução de contactos nos próximos 14 dias a quem frequentou no sábado, no Porto, locais relacionados com a final da Liga dos Campeões, em futebol.
Em comunicado, a ARS Norte informa que a delegada de saúde regional do Norte “recomenda, para os próximos 14 dias, a quem frequentou algum dos locais definidos para este evento ou espaços similares, com alta probabilidade de contacto, atenção aos sintomas da covid-19”, assim como “reduzir os contactos”, a par das demais medidas de prevenção aconselhadas desde o início da pandemia.
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Avaliação do Polígrafo:
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