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  • Tudo começou num concerto, em 1964, no The Railway Tavern, em Harrow, na zona noroeste de Londres, maioritariamente povoada pela classe operária. Tocavam ali todas as quintas-feiras e num desses dias, durante um momento de maior entusiasmo, Pete Townshend acertou em cheio com o braço da guitarra no teto, que era bastante baixo, contou à revista Rolling Stone, numa entrevista publicada a 14 de setembro de 1968. A partir daí, tudo mudou, e as guitarras que passavam pelas suas mãos estavam sempre à beira do desaparecimento. Mas o que levou Townshend a partir guitarras, intencionalmente, depois de o ter feito de forma acidental? A explicação foi dada à Rolling Stone na mesma entrevista, com mais de 50 anos: “esperava que toda a gente ficasse tipo ‘wow, ela partir a guitarra’, mas ninguém reagiu, o que me deixou irritado, de certa forma, e determinado a tornar este pequeno evento bem evidente para toda a audiência. E avancei, no sentido de tornar a destruição da guitarra num acontecimento. Saltei por todo o palco com a guitarra despedaçada, atirei os pedaços para o chão e peguei na minha guitarra de substituição e continuei como se tudo aquilo tivesse sido preparado.” As reações não se fizeram esperar e Townshend foi como que compelido a fazer da destruição de guitarras um hábito. “Aquele movimento cresceu de tal forma até que um dia um jornal muito importante veio ver-nos e disse ‘ouvimos dizer que vocês são o grupo que parte guitarras. Espero que o façam hoje porque somos do Daily Mail. Se o fizerem, provavelmente chegarão à primeira página’”, revelou à Rolling Stone. Aquela seria apenas a segunda guitarra que iria “assassinar” em palco e, perante a possibilidade de chegar à primeira página do Daily Mail foi ter com o manager da banda, Kit Lambert, e perguntou-lhe se conseguiriam suportar os custos de mais uma guitarra partida. A resposta foi positiva. Mas a imagem do esmagamento da segunda guitarra não chegou aos jornais. “O Daily Mail não comprou a fotografia e não quis saber da histórias”, revelou Townshend em 1968. Contudo, o hábito já lá estava e, independentemente do prejuízo, decidiu continuar com o seu rasto de destruição. Aquele episódio, de 1964, tornou-se uma imagem de marca das atuações ao vivo dos The Who e acabaria por integrar uma lista que a Rolling Stone compilou, no verão de 2004, onde elenca aqueles que considera serem os 50 momentos que mudaram o Rock and Roll. O cartaz do documentário “The Kids Are Alright”, de 1979 – composto por atuações ao vivo, outras gravações vídeo e entrevistas registados entre 1964 e 1978 – tira proveito do extravagante hábito de Townshend para conseguir uma promoção mais eficaz. Uma fotografia do guitarrista com a guitarra acima da cabeça e a frase “this guitar has seconds to live”, algo como “a esta guitarra restam segundos de vida”. No filme promocional do documentário, o baterista dos Beatles, Ringo Starr, fala-nos sobre o que iremos ver, sobre o que podemos esperar do filme e refere, a dado momento, “3 mil guitarras destruídas” (aos 58 segundos). Não terão sido tantas. No website thewho.net, espaço virtual não oficial dedicado aos The Who e construído por fãs, existe uma lista assumidamente “incompleta de esmagamentos de guitarras por Peter Townshend” que contabiliza mais de 140 “atentados”. Os anos 60 e 70 são os mais intensos e, nesta fase da sua carreira, aos 74 anos e com muitos quilómetros percorridos pelo mundo e incontáveis horas em cima dos palcos, Pete Townshend promete só voltar a partir guitarras por caridade. Numa entrevista concedida à BBC Radio 2, em novembro do ano passado, citada pela revista Guitar World, Townshend confessa: “já não esmago guitarras há muito tempo. Para mim era uma expressão de juventude”. Porém, ao recordar a destruição de uma guitarra no talk show Late Night (aos 3 minutos e 33 segundos) – “parti uma guitarra no David Letterman e foi leiloada por 168 mil dólares” – o compositor e guitarrista revela que está “preparado para partir uma guitarra como ação de caridade”. Os The Who lançaram um novo disco de originais no final de 2019 – o 20º da carreira – e vão entrar em digressão. Pode ser que o velho hábito regresse à tona e Pete Townshend decida destruir mais umas Fender ou Gibson, as principais vítimas documentadas. Avaliação do Polígrafo:
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