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| - “O sobrevoo constante e a baixa altitude de Lisboa (700 aviões/dia, mais de 20 mil aviões por mês), em zonas densamente povoadas, constitui uma aberração que não se vê em nenhuma outra capital europeia. Um problema grave – para a segurança, para a saúde, para o ambiente. São cada vez mais os que o vão percebendo. São cada vez menos os que, como o PS e Fernando Medina, insistem em prolongar (por décadas) esta aberração”, pode ler-se na publicação de 3 de setembro, partilhada pelo comunista e candidato à Câmara Municipal de Lisboa, João Ferreira.
Esta não é a primeira vez que o candidato demonstra preocupações ambientais com as rotas aéreas próximas à cidade de Lisboa, tendo mencionado esse tema quer no debate das autárquicas promovido pela SIC, quer na mais recente entrevista à TVI, esta quarta-feira, onde defendeu mesmo o fim do Aeroporto Humberto Delgado, na Portela: “Esta é uma evidente falta de visão estratégica sobre o presente e o futuro da cidade por parte de Fernando Medina. Lisboa não pode continuar a conviver com esta aberração – que não encontramos em nenhuma outra capital europeia – que é termos o principal aeroporto do país a crescer dentro da cidade.”
“Esta é uma evidente falta de visão estratégica sobre o presente e o futuro da cidade por parte de Fernando Medina. Lisboa não pode continuar a conviver com esta aberração – que não encontramos em nenhuma outra capital europeia – que é termos o principal aeroporto do país a crescer dentro da cidade.”
O discurso é semelhante e coerente, mas será que João Ferreira tem razão quando diz que Lisboa é a única capital europeia com sobrevoo constante e a baixa altitude?
Com dados para sustentar as suas alegações, João Ferreira apontou para cerca de 700 aviões a sobrevoar a cidade de Lisboa todos os dias. Se olharmos apenas para o último ano em que se viveu normalidade nos aeroportos europeus – 2019 – o comunista está certo. Aliás, nesse mesmo ano foi atingido um recorde de maior número de voos num só dia. Foram ao todo 709 aviões a passar pelo Aeroporto de Lisboa, no dia 9 de agosto de 2019.
Ainda assim, esta é uma estatística diária e que não engloba os restantes dias do ano. De acordo com a NAV Portugal, responsável pela gestão do espaço aéreo nacional, em 2019 o Aeroporto de Lisboa recebeu em média, entre aterragens e descolagens, 611 voos diários, um número inferior ao mencionado por João Ferreira e que resultaria em cerca de 18 mil aviões por mês. Segundo a mesma entidade, foi também no mês de julho de 2019 que foi batido o recorde de movimentos, tendo sido registados um total de 20.063 voos. A somar aos restantes, entre janeiro e dezembro passaram por Lisboa 222.984 voos.
Ao Polígrafo, fonte oficial da organização ambientalista Zero diz, no entanto, que “há também dezenas de voos executivos e militares por dia não contabilizados por esta estatística e que aterram e/ou descolam de Lisboa”.
Fonte oficial da organização ambientalista Zero diz, no entanto, que “há também dezenas de voos executivos e militares por dia não contabilizados por esta estatística e que aterram e/ou descolam de Lisboa”.
“Do levantamento que a Zero efetuou, a situação de Lisboa é de facto muito preocupante”, alerta a associação, ressalvando, no entanto, que, com base num relatório da Agência Europeia do Ambiente (AEE), “Lisboa é a segunda capital e não a primeira mais afetada da Europa, tendo em conta o número de pessoas afetadas por ruído excessivo dos aviões”.
O Polígrafo consultou o relatório da AEE e verifica-se que é na cidade do Luxemburgo, capital do país com o mesmo nome, que existe maior exposição ao ruído provocado pelo tráfego aéreo. E a distância é longa até Lisboa, que ocupa o segundo lugar do pódio com bastante menos exposição ao ruído. Seguem-se Berlim e Londres, com aeroportos relativamente próximos aos centros das cidades.
Segundo o documento, “áreas urbanas maiores geralmente têm mais pessoas expostas ao ruído dos aviões”. “Não surpreendentemente, capitais como Amesterdão, Berlim, Bruxelas, Lisboa, Londres, Luxemburgo ou Roma parecem ter mais pessoas expostas a níveis de ruído de aviões. (…) Cidades capitais como Berlim, Lisboa, Londres e Luxemburgo têm a maior proporção de pessoas expostas ao ruído das aviões“, sendo que entre “os principais aeroportos que expõem um maior número de pessoas ao ruído do tráfego aéreo” estão capitais como Londres (Heathrow) e Lisboa (Portela).
Questionada pelo Polígrafo sobre estas estatísticas, fonte oficial da ANA Aeroportos indica que “o aeroporto de Lisboa, à semelhança de outros aeroportos no mundo, e na Europa, encontra-se numa área densamente povoada em consequência da evolução da urbanização em seu redor, não sendo considerados os limites administrativos de concelhos um fator relevante neste âmbito”.
“A ANA continua a trabalhar na implementação de um plano de ação para a mitigação dos impactos sonoros dos aviões e para a promoção da evolução das frotas para aeronaves mais modernas e silenciosas”, assegura a mesma fonte.
“A ANA continua a trabalhar na implementação de um plano de ação para a mitigação dos impactos sonoros dos aviões e para a promoção da evolução das frotas para aeronaves mais modernas e silenciosas”.
Ao recorrer ao Google Maps para calcular a proximidade dos aeroportos às respetivas cidades onde estão localizados, verifica-se que, no Luxemburgo, onde a exposição ao ruído é altamente elevada, o Aeroporto Internacional de Luxemburgo-Findel está a apenas 12 minutos de carro do centro da cidade, cerca de 9,2 quilómetros.
Em Lisboa, o cenário é semelhante: são cerca de 14 minutos desde o Aeroporto Humberto Delgado até ao centro, mas no que respeita à distância falamos de apenas 5,6 quilómetros. Em Londres, por exemplo, o Aeroporto de Heathrow encontra-se a 25 quilómetros do centro da capital.
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Avaliação do Polígrafo:
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