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| - Na pergunta final do debate, aliás, o deputado e líder do partido Chega voltou a insistir no mesmo tema: “Porque é que o João Ferreira, candidato a Presidente de Portugal que é um país moderno, cosmopolita, um país capaz de enfrentar os desafios que o século XXI nos impõe, porque é que o João Ferreira não é capaz de condenar os países tão próximos do seu partido e tão próximos de si, como o caso da Coreia do Norte. E hoje, João, gostava que dissesse aqui quais são as suas palavras para o regime da Coreia do Norte“.
André Ventura não indicou qual é a entrevista em causa, mas o Polígrafo verificou as mais recentes, protagonizadas por João Ferreira, eurodeputado do PCP, na antecâmara da campanha para as eleições presidenciais que estão agendadas para o dia 24 de janeiro de 2021.
Em entrevista conjunta à Rádio Renascença e ao jornal “Público”, a 24 de setembro, João Ferreira foi questionado sobre os regimes de Vladimir Putin (Rússia), Donald Trump (EUA), Nicolás Maduro (Venezuela) e Kim Jong-un (Coreia do Norte). Pareceu fugir das perguntas, mas acabou por responder mais concretamente, englobando todos os regimes evocados, da seguinte forma: “Para lhe ser franco, encontro naquilo que defendo para o meu país, no projecto de desenvolvimento que tenho para Portugal, inúmeras diferenças com qualquer um dos exemplos que referiu“.
Não é uma “condenação” ou crítica explícita a tais regimes, mas é seguramente uma distanciação relativamente aos mesmos, sublinhando as “inúmeras diferenças“, embora não as especificando.
Eis a transcrição integral dessa parte da entrevista:
“Como classifica o regime de Putin?
Eu não quero fugir a nenhuma pergunta. Deixe-se concluir: para retomar aquilo que me disse ‘ah, mas isso muitos dizem’, creio que não, mas seguramente poucos fazem. E eu estou entre os que fizeram. Estive presente no momento em que era necessário dizer que não podiam continuar um conjunto de abusos, estive presente no 1.º de Maio.
Diga-me lá, em relação a estas três inspirações, que acho que todos os portugueses se perguntam: Rússia, o que é que pensa?
Vou se muito claro a respeito disso: no exemplo que refere não encontro inspiração particular.
Como classifica aquele regime?
Classifico-o a partir do que deve ser o exercício das funções a que me candidato. A Constituição diz muito claramente que Portugal se deve pautar pelo respeito pelo direito internacional, pela carta das Nações Unidas, pelo direito de cada povo a escolher livremente o seu caminho. Eu escolho para o meu país e bato-me por um caminho que é muito diferente, e em muitos aspectos está nos antípodas daquele que refere.
Como classifica o regime do senhor Trump?
Eu defendo para o meu país algo que é muito diferente de qualquer dos exemplos que deu. Que em muitos aspectos estão nos antípodas daquilo que se passa nos exemplos que deu.
Incluindo na Venezuela?
Independentemente da apreciação que possa fazer de cada um desses casos e até me deu dois exemplos que…
Coreia do Norte?
…que são bastante diferentes, e a nossa Constituição – e eu revejo-me nessa disposição – garante uma visão que dá a cada povo o direito de escolher livremente o caminho que entender.
Última oportunidade de classificar um regime: Venezuela?
Para lhe ser franco, encontro naquilo que defendo para o meu país, no projecto de desenvolvimento que tenho para Portugal, inúmeras diferenças com qualquer um dos exemplos que referiu”.
Mais recentemente, em entrevista ao jornal “Observador”, a 18 de dezembro, questionado sobre se Kim Jong-un é um democrata, João Ferreira voltou a sublinhar as diferenças em relação ao que defende para Portugal, embora não condenando explicitamente e, aliás, não rejeitando a possibilidade de estabelecer relações com a Coreia do Norte, se for eleito para o cargo de Presidente da República.
“Questionado sobre se Kim Jong-un é um democrata, João Ferreira diz que o seu conceito de democracia é ‘muito diferente‘ do daquele país. Mas, como Presidente, diz que ‘Portugal deve tendencialmente estabelecer relações com todos os povos do mundo, respeitando a vontade de cada um deles’. Apesar de visões diferentes, isso não impede que se estabeleçam essas relações. João Ferreira não defende o regime político da Coreia do Norte, mas admite estabelecer relações com o país liderado por Kim Jong-un para ‘diversificar as relações internacionais'”, destaca o “Observador” a partir da entrevista.
Em conclusão, não há dúvida de que é um tema incómodo para o PCP e, por conseguinte, também para João Ferreira que evita sempre “condenar” ou criticar explicitamente o regime político em vigor na Coreia do Norte. No entanto, importa ressalvar que o eurodeputado comunista não deixa de se distanciar do mesmo, ao salientar as “diferenças” em relação ao que defende para Portugal e ao seu conceito de democracia.
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Avaliação do Polígrafo:
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