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| - “Foto de uma família turca acabada de chegar à Alemanha, há 50 anos. De camisola amarela está Uğur Şahin, agora um famoso médico e imunologista alemão, diretor da empresa BioNTech que produziu a vacina contra o coronavírus”, lê-se na descrição que se repete nas partilhas da fotografia feitas no Facebook, Twitter e Instagram.
O rapaz de camisola amarela na fotografia é mesmo o fundador e atual diretor da empresa de biotecnologia que em conjunto com a Pfizer desenvolveu uma das primeiras vacinas contra a Covid-19?
Depois de a fotografia se ter tornado viral nas redes sociais, várias plataformas de fact-checking internacionais como a Newtral e a AFP Factual entraram em contacto com a BioNTech. Em resposta, o departamento de comunicação esclareceu que as pessoas no retrato não são a família do diretor da empresa de biotecnologia e que o rapaz que surge no canto inferior direito da fotografia não é Uğur Şahin.
Assim sendo, qual a origem do retrato de família e quem são as pessoas que nele figuram?
Com recurso a uma ferramenta de pesquisa inversa de imagens é possível descobrir que a fotografia disseminada pela Internet pertence à coleção do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Espanha. É da autoria da fotógrafa alemã Candida Höfer e foi tirada em 1979, integrando a coleção “Turks in Germany” (“Turcos na Alemanha”, em português).
O título da coleção cruza-se com a história de Uğur Şahin, podendo ser este um dos motivos para o equívoco propagado pelas redes sociais nos últimos dias. De facto, o atual diretor da BioNTech de 55 anos tem origem turca. A sua família emigrou para a Alemanha nos anos 60, país onde Şahin estudou e se formou enquanto médico especialista em oncologia e onde mais tarde se tornou fundador e CEO de uma das maiores empresas de biotecnologia do mundo, segundo noticiou a BBC em novembro.
A fotografia surge também publicada numa conta do Twitter dedicada à partilha de histórias e memórias da diáspora turca. A imagem foi publicada neste perfil no dia 16 de agosto com a legenda: “Nova casa, novas esperanças”. Na publicação estão indicados os devidos créditos da fotografia: (1975-Düsseldorf, Sobreviventes das Migrações, Candida Höfer).
Uma publicação de 17 de agosto, na mesma conta de Twitter, veio trazer novas informações sobre a identidade do casal e dos seus filhos. “Quando o neto da família viu a foto na nossa página ontem conseguimos obter mais informações sobre eles. Contou-nos coisas sobre o seu avô, avó, tias e tios e a sua mãe que não está na fotografia. A família é de Aksaray [ndr: cidade no centro da Turquia], o pai veio para a Alemanha em 1956 como trabalhador e, em 1975, decidiu trazer a sua esposa e quatro filhos para Düsseldorf”, lê-se na legenda do segundo tweet, no qual é partilhada uma nova fotografia do casal, desta vez sem os filhos.
A história desta família é semelhante à de Uğur Şahin, no entanto, os dados revelados ajudam a comprovar que o menino na fotografia não é o atual diretor da BioNTech, como explicou a própria empresa.
Os pais de Şahin não são originários da cidade de Arkasay como é descrito, mas de Iskenredum, no sul da Turquia, como foi relatado num artigo do jornal The New York Times. Além disso, a cidade para onde se mudaram na Alemanha não foi Düsseldorf mas sim Colónia, onde mais tarde Uğur Şahin se formou em medicina e iniciou a sua carreira de investigação sobre a imunoterapia das células tumorais.
Em suma, conclui-se que é falso que a fotografia de emigrantes que chegaram à Alemanha nos anos 60 seja um retrato da família do atual diretor e CEO da BioNTech. Apesar da história dos dois agregados serem idênticas, o menino da camisola amarela não é Uğur Şahin.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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