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| - Objetivo: legitimar, sob a chancela de um jornal considerado credível, práticas xenófobas contra uma etnia já várias vezes acusada por André Ventura de possuir património – nomeadamente automóvel – não condizente com os seus alegados rendimentos.
Nos últimos dias, o post tornou-se viral nas redes sociais. Os comentários xenófobos sucedem-se: “Onde me posso inscrever para RSI, também queria comprar um Mercedes”, escreveu um utilizador”; “Eh, venham ali à avenida da praia no Barreiro, aquelas casas em ruínas têm lá à porta grandes Mercedes”, sublinhou outro.
Será a notícia verdadeira e atual?
A notícia em causa foi realmente publicada pelo jornal “Expresso”, mas, ao contrário do que é dado a entender no post, onde a data de publicação é omitida, já não é atual. Foi publicada no dia 5 de outubro de 2008 – ou seja, tem perto de 14 anos. No artigo é referido um documento divulgado internamente na empresa C. Santos, “um dos principais concessionários” da Mercedes em Portugal, onde eram emitidas diretrizes para evitar a venda de veículos a pessoas de etnia cigana. O documento era assinado por Pedro Lourenço, diretor comercial da C. Santos até 2004, e datado de 22 de novembro de 2001.
Na altura em que foi publicado o artigo do “Expresso”, o diretor-geral e presidente do Conselho de Administração da empresa não negou a existência do documento, mas garantiu ao semanário que “se há uma besta que fez um papel desses, ele não representa a empresa“, afastando a alegada prática de discriminação de uma forma generalizada. E acrescentou: “Quem me dera que tivéssemos mais clientes ciganos.”
Contactada agora pelo Polígrafo, a empresa reafirma que, “tal como foi referido na notícia [que] data de 2008, o C. Santos V.P. desconhece a existência do documento referido”. Reitera ainda que “não existe na empresa qualquer tipo de política discriminatória no tratamento de clientes”.
Em resumo: a imagem que está a ser partilhada nas redes sociais refere uma notícia real, mas que foi publicada há quase 14 anos, quando o Chega nem sequer existia. Passados todo este tempo surge de novo, sem referência à sua data, colado ao discurso político de André Ventura, numa tentativa clara de o legitimar e produzindo, desta forma, desinformação.
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Avaliação do Polígrafo:
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