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| - A imagem, com um texto, ora em português ora em espanhol, e uma fotografia do escritor português José Saramago, tem sido amplamente divulgada nas redes sociais, como uma espécie de profecia feita pelo Nobel da Literatura, que morreu em 2010, aos 87 anos.
Segundo os vários posts, Saramago afirmou: “Os fascistas do futuro não vão ter aquele estereótipo de Hitler ou de Mussolini. Não vão ter aquele jeito de militar durão. Vão ser homens a falar de tudo aquilo que a maioria quer ouvir. Sobre bondade, família, bons costumes, religião e ética. Nessa altura, vai surgir o novo demónio, e tão poucos vão perceber que a história se está a repetir”.
Tendo em conta que foi escrito no passado, o pensamento do escritor parece, de facto, uma previsão daquilo que veio a acontecer nos últimos anos, com a ascensão dos movimentos e líderes populistas, na Europa e no Mundo, como Santiago Abascal, em Espanha, de Matteo Salvini, em Itália, de Donald Trump, nos Estados Unidos, de Jair Bolsonaro, no Brasil, ou até de André Ventura, em Portugal.
Porém, as publicações levantam algumas dúvidas: em primeiro lugar, as palavras de Saramago não são localizadas no tempo, ou seja, não apresentam nenhuma data; em segundo lugar, não há qualquer referência à forma que o pensamento em causa terá tido: foi escrito ou dito?; em terceiro lugar, a afirmação não é contextualizada em nenhum dos posts.
[facebook url=”https://www.facebook.com/search/top/?q=Saramago%20fascistas%20do%20futuro&epa=SEARCH_BOX”/]
Sendo assim, não é possível perceber quando, como nem porquê o Nobel fez esta consideração em relação aos “fascistas do futuro”. Pois bem, a explicação para estes espaços vazios é muito simples: a profecia não passa de uma invenção, que nada tem a ver com o Nobel da Literatura, tal como dá conta a plataforma de verificação de factos espanhola Maldita.es.
Além disso, o boato não é novo. Na pesquisa que o Polígrafo fez no Facebook, é possível constatar que a publicação, apesar de ter voltado a ser muito partilhada nas últimas semanas, já circula nas redes sociais, pelo menos, desde 2018. Numa das publicações, o texto, igualmente atribuído a Saramago, é acompanhado por uma fotografia de Jair Bolsonaro.
Na altura, tendo em conta o alcance dos posts, a fundação com o nome do escritor viu-se obrigada a desmentir a autoria da afirmação em comunicado oficial: “A Fundação José Saramago informa que a mencionada frase não foi escrita ou dita por José Saramago.”
[twitter url=”https://twitter.com/FJSaramago/status/1028236403052879872″/]
Esta não é a primeira vez que se atribuem, erradamente, ao Nobel da Literatura ideias e raciocínios, alegações que o Polígrafo também já desmentiu.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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