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  • O que estão compartilhando: postagem alega que produtores estariam “escondendo” café para o preço subir. A publicação anexa uma captura de tela de uma notícia publicada pela CNN, sob o título “Café atinge recorde enquanto agricultores brasileiros relutam em vender”. O Estadão Verifica investigou e concluiu que: falta contexto. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) explica que a recente alta nos preços do café no Brasil pode ser atribuída a diversos fatores, como condições climáticas adversas, aumento da demanda internacional e valorização do dólar frente ao real. A postagem checada omite que a estocagem é uma prática normal frente a um cenário incerto, segundo especialistas consultados pelo Verifica. Saiba mais: em 2024, a safra de café encerrou em 54,2 milhões de sacas, uma queda de 1,6% em relação ao volume de 2023, segundo a Conab. A empresa afirma que a redução é reflexo dos impactos climáticos no setor cafeeiro. Celírio Inácio, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), explica que a diminuição da produção no Brasil, causada por fatores climáticos, fez com que os preços do grão aumentassem. Ele avalia que tensões geopolíticas e fatores internos, como desvalorização do real e custos logísticos elevados, também pressionam as cotações. Ao Verifica, a Conab explicou que a alta no Brasil faz parte de uma tendência global. Os preços internacionais também registraram aumentos expressivos. A companhia ressalta que o café arábica teve um salto de 66% na Bolsa de Nova York, durante 2024. Já o café robusta em Londres subiu 79% no mesmo período. “Essa valorização foi impulsionada por estoques globais em níveis historicamente baixos, ao mesmo tempo em que o consumo mundial cresceu 3,1%, atingindo 168,1 milhões de sacas. Apesar da expectativa de recuperação da produção global para a safra 2024/25, o volume de estoques reduzidos tem sustentado a elevação dos preços”, afirmou, em nota. Em relação à alteração cambial, a economista Carla Beni, professora da Fundação Getulio Vargas e Conselheira do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon-SP), pontua que, quando o câmbio sobe, o produtor é estimulado a exportar uma parte maior. Em 2024, segundo a Conab, o Brasil exportou 50,5 milhões de sacas de 60 kg de café, uma alta de 28,8% na comparação com o ano de 2023. Leia também A professora da FGV ressalta, ainda, que o café é um produto inelástico. Isso significa que, apesar da variação de preços, a demanda não sofre alterações significativas. “Você deixa de gastar em outras coisas, mas não deixa de comprar o café. E o produtor sabe disso. Como o produtor sabe disso? Quando você eleva o patamar de preço por uma questão climática ou cambial, e você continua vendendo, não há queda de venda”, exemplifica. Em nota, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Cepea-Esalq/USP), mostra que o indicador do café arábica tipo 6 posto na capital paulista atingiu máxima histórica nesta segunda-feira, 3. A marca foi de R$ 2.565,86 por saca de 60 kg. “Pesquisadores do Cepea explicam que o impulso segue vindo da oferta limitada de cafés para negociação, tendo em vista o alto volume já vendido, dos estoques apertados por conta da menor produção no Brasil e no Vietnã, da demanda internacional firme e também de projeções indicando safra 2025/26 ainda pequena”, afirma a nota. Ao lado do Brasil, o Vietnã é um dos maiores produtores de café do mundo. Assim como a produção nacional, a safra do país asiático também sofre consequências de fenômenos climáticos. Postagem ignora dinâmicas do mercado A postagem verificada, publicada no Threads, afirma que os produtores de café estariam “escondendo” a mercadoria para elevar ainda mais o preço. A alegação é baseada em uma notícia publicada pela CNN, com o título “Café atinge recorde enquanto agricultores brasileiros relutam em vender”. A reportagem compartilhada explica que os preços globais do café arábica haviam atingido recordes de alta no dia 27 de janeiro deste ano. Apesar disso, explica a matéria, os agricultores do Brasil permaneciam resistentes em vender a mercadoria, motivados pela incerteza sobre a próxima safra e a expectativa de preços ainda mais elevados. Isso não significa, no entanto, que os produtores estejam deliberadamente “escondendo” a mercadoria. Inácio, da Abic, explica que a prática é uma dinâmica normal de mercado, influenciada pela oferta e demanda. “É comum que, diante de incertezas na produção e expectativa de preços mais altos, produtores segurem parte da safra, vendendo aos poucos para obter melhor rentabilidade”, explicou. Da mesma forma, Carla ressalta que a estocagem faz parte do processo do produtor, para garantir uma venda contínua no ano. “Isso tem a ver com a margem de lucro. Estocar é uma questão normal. Você faz uma produção e você estoca. O café bem armazenado pode durar mais de um ano guardado.” Alegação semelhante também foi desmentida pela Reuters Fact Check. Como lidar com postagens do tipo: a alta nos preços dos alimentos é um assunto comumente noticiado pela imprensa. No caso do café, diferentes reportagens explicam que a redução da safra em decorrência de fatores climáticos e a demanda aquecida impactam diretamente nos valores pagos pelos consumidores. A postagem verificada omite este contexto para desinformar sobre o tema. Ler materiais na íntegra em fontes confiáveis é uma solução para evitar cair neste tipo de boato.
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