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| - André Ventura foi entrevistado ontem à noite pelo “Porto Canal“, numa conversa que não passou pelo comentário sobre futebol (atividade que o líder do Chega manteve até maio de 2020) mas que se focou nas próximas eleições legislativas, agendadas para 30 de janeiro de 2022. Confrontado com a escolha de Pedro Arroja para mandatário nacional do Chega, com base em declarações do economista sobre a presença de mulheres em direções de partidos políticos, Ventura confessou estar “completamente à vontade” nessa matéria, referindo que o Chega tem levado “mulheres à direção do partido”.
As declarações de Arroja sobre mulheres, recordadas na entrevista a Ventura, remetem para 2016, quando o economista – e agora mandatário nacional do Chega para a campanha das eleições legislativas – escreveu no blogue “Portugal Contemporâneo” um texto intitulado “A ascensão das mulheres“.
Sem especiais entraves, Arroja considerou mesmo que “o significado da ascensão generalizada das mulheres nas direções partidárias é um sinal da degenerescência dos partidos“, lembrando que, à data, “entre os cinco maiores partidos portugueses, até há pouco tempo, apenas um era liderado por mulheres – o Bloco de Esquerda. No último mês, porém, uma mulher ascendeu à presidência do CDS-PP e, no último fim-de-semana, três mulheres ascenderam a vice-presidentes do PSD, em substituição de três homens”.
Mas para grandes ditos, grandes justificações: “A razão é que o espírito masculino é mais sectário do que o espírito feminino, os homens são mais sectários do que as mulheres, sendo estas mais comunitárias do que aqueles. Elevar mulheres à direção de partidos é enfraquecer o espírito partidário“.
Quando, já na parte final da entrevista de ontem, Ventura se viu confrontado com estas declarações, tentou protelar os comentários sobre Arroja, dizendo até que não conhece as intervenções do mandatário por ele nomeado. Ainda assim, o líder do Chega fez questão de referir a constituição dos mais altos cargos do seu partido. Mas logo depois de começar a nomear funções, Ventura teve mesmo que recorrer a ex-vice-presidentes que já nem sequer fazem parte da Direção Nacional do Chega.
“O Chega tem hoje… teve duas vice-presidentes, uma delas aqui do Porto, a Ana Motta Veiga, uma vice-presidente que é a Marta Trindade, duas vogais, uma delas a Patrícia Carvalho e outra a Rita Matias. Quatro em oito são mulheres“, afirmou Ventura.
Vamos aos dados concretos. Ana Motta Veiga chegou a ser, efetivamente, uma das duas vice-presidentes do Chega, ao lado de Marta Trindade. Contudo, na sequência do IV Congresso do Chega, em novembro, quatro meses depois de ter sido promovida a vice-presidente do partido, Motta Veiga deixou de ocupar o cargo. Subiu então à Direção Nacional, substituindo-a, o deputado do Chega nos Açores, José Pacheco, contribuindo para aumentar a quota masculina no partido.
Segundo afirmou Diogo Pacheco de Amorim ao jornal “Expresso”, “foi ela [Ana Motta Veiga] que pediu para sair, alegando que está no Porto e tem uma vida bastante ocupada. Do lado da direção percebemos também que acabava por ser pouco funcional“.
Quanto a Marta Trindade, a vice-presidente eleita em maio deste ano continua a exercer tais funções, mas é a única no meio de quatro homens: António Tânger Correa, Gabriel Mithá Ribeiro, Pedro Frazão e José Pacheco.
Descendo na hierarquia, o Chega não tem nenhuma mulher a assumir o cargo de secretária-geral, dando lugar a Tiago Sousa Dias e a Pedro Pinto, que se juntam aos quatro vice-presidentes já mencionados. É nos vogais que encontramos os outros dois nomes mencionados por Ventura: Patrícia Carvalho e Rita Matias. Não fossem, mais uma vez, os quatro homens que as rodeiam, as contas de Ventura poderiam estar próximas da realidade. Mas além de Patrícia Carvalho e Rita Matias, os restantes vogais são todos homens: Diogo Pacheco de Amorim, Rui Paulo Sousa, Ricardo Regalla Dias e Nuno Pinto Afonso.
Assim, nem quatro mulheres, nem um universo de oito membros. Dos 14 cargos desempenhados na Direção Nacional do Chega, incluindo o de presidente, apenas três são preenchidos por mulheres. Ou seja, uma percentagem de 21% do total, distante dos números indicados por Ventura.
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Avaliação do Polígrafo:
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