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| - “Nem sempre as mortes serão causadas por um vírus, tem coisas piores matando a população”. Esta é a legenda de uma imagem disseminada pela Internet e que acompanha a lista das diferentes causas de morte e número respetivo de óbitos em todo o mundo durante o ano passado. Alegadamente, as fontes utilizadas para a realização do quadro são a Worldmeters e o Google.
Mas está esta tabela comparativa correta?
A publicação em causa pretende demonstrar que existem doenças mais letais do que a causada pelo novo coronavírus. No entanto, alguns dos dados apresentados estão errados: há casos em que os números são mais altos do que os verdadeiros e outros em que são mais baixos. É ainda importante explicar que a Worldmeters, citada como fonte, é uma plataforma que disponibiliza dados em tempo real tendo por base informações oficiais e cálculos resultantes das taxas de óbito.
- Aborto
Assegura-se na publicação que as interrupções de gravidez correspondem a 42.652.318 óbitos por ano – um valor menor do que aquele que é anunciado em diversas análises. Segundo o artigo “Gravidez indesejada e aborto por rendimento, região e a situação legal do aborto: estimativas de um modelo abrangente para 1990-2019”, publicado pela revista científica The Lancet em julho de 2020, foram realizados 73,6 milhões de abortos anuais entre 2015 e 2019.
Também a Organização Mundial de Saúde (OMS) avança que a média ronda os 73,3 milhões de abortos (entre seguros e não seguros) por ano. A estes dados pode ainda somar-se o número de mulheres mortas durante procedimentos ilegais ou mal feitos: num artigo também publicado na The Lancet, em 2014, indica-se que este valor ronda os 193 mil óbitos.
Em Portugal, segundo dados disponibilizados pela plataforma Pordata referentes ao ano de 2018, foram realizadas 14.928 interrupções voluntárias da gravidez. No entanto, espera-se quem em 2020 haja uma redução de cerca de 40% do número de abortos devido à pandemia de Covid-19, segundo noticia o Expresso.
De referir ainda que a OMS não reconhece o aborto como causa de morte. Esta designação é, como tal, uma escolha política, fundamentalmente baseada na crença de que a vida humana começa no momento da concepção – uma visão que, até ao dia de hoje, não tem reflexos nas principais bases de dados de referência ao nível da mortalidade mundial.
De referir ainda que a OMS não reconhece o aborto como causa de morte. Esta designação é, como tal, uma escolha política, fundamentalmente baseada na crença de que a vida humana começa no momento da concepção – uma visão que, até ao dia de hoje, não tem reflexos nas principais bases de dados de referência ao nível da mortalidade mundial.
- SIDA
A publicação fala em 42.371.649 vítimas mortais de SIDA em todo o mundo, mas o valor real está longe de chegar ao que é referido na publicação em análise. Segundo dados da OMS morreram, em média, 690 mil pessoas vítimas do HIV, o vírus que provoca esta doença. Este valor estimativo poderá variar entre os 500 mil e os 970 mil. Os mesmos dados são avançados pela Unaids, um programa das Nações Unidas que tem como objetivo combater esta doença em vários países.
Ainda não há informação disponível relativa a 2020, mas é esperado que se mantenha a tendência decrescente que tem vindo a registar-se desde 2010.
Em Portugal, os dados mais recentes remetem a 2018, ano em que morreram 312 pessoas vitimadas por esta doença. Esta informação é igualmente veiculada no relatório da DGS “Infeção VIH e SIDA em Portugal”.
- Cancro
Os valores de óbitos por cancro são um dos exemplos em que a realidade ultrapassa os dados que são referidos na publicação. Enquanto na listagem é indicado que morreram 8.226.779, o valor real registado pela OMS é de 9.958.133. Ou seja, há 1,7 milhões de óbitos a mais do que o referido. O cancro do pulmão é o mais mortífero a nível mundial, com 1.796.144 casos, seguido pelo colorretal e pelo do fígado.
O cancro do pulmão é o mais mortífero a nível mundial, com 1.796.144 casos, seguido pelo colorretal e pelo do fígado.
O cancro é igualmente uma das principais causas de morte em Portugal: em 2018, revela a Pordata, foram registados 27.849 óbitos por tumores malignos.
- Malária
O valor apresentado na publicação sobre a morte por malária é próximo do referido no Relatório Mundial da Malária 2020 da OMS. Segundo dados referentes a 2019, morreram 409 mil pessoas com malária. Ou seja, cerca de 14 mil óbitos a mais do que o número apresentado na publicação em análise (395.006).
A malária está erradicada em Portugal. Esta doença foi considerada endémica até cerca de 1950, principalmente nas bacias dos rios Mondego, Sado e Águeda. No entanto, o vetor – os mosquitos da espécie Anopheles – desapareceu e os casos que são registados resultam de contaminações em regiões externas. Desta forma, trata-se de uma doença que aparece esporadicamente em Portugal.
A malária está erradicada em Portugal. Esta doença foi considerada endémica até cerca de 1950, principalmente nas bacias dos rios Mondego, Sado e Águeda.No entanto, o vetor – os mosquitos da espécie Anopheles – desapareceu e os casos que são registados resultam de contaminações em regiões externas.
- Tabaco e Álcool
Segundo a publicação analisada, o tabagismo matou 5.007.485 pessoas durante 2020, enquanto o consumo de álcool vitimou 2.505.326.
No primeiro caso, o valor está deflacionado, ou seja, a OMS estima que haja mais mortes por consumo de tabaco do que as referidas: cerca de 8 milhões em todo o mundo. Em Portugal, o tabagismo foi responsável por 11.843 óbitos em 2016.
Quanto ao consumo de álcool, o valor real fica muito abaixo do referido: a OMS prevê 3 milhões de mortes anuais. Já em Portugal, o número de mortos em 2018 terá sido de 1087. Segundo a TSF, 37% morreram em acidentes, 37% por morte natural, 13% por suicídio e 5% por intoxicação alcoólica.
- Suicídios e Sinistralidade
O número apresentado na publicação em causa – 1.074.164- não corresponde à realidade. Segundo a OMS, cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos, o que significa “uma pessoa a cada 40 segundos”. Cálculos feitos com base nos dados de 2016 indicam que o suicídio é a 18.ª causa de morte no mundo e representa 1,4% do total de óbitos. Portugal registou, em 2018, 989 casos de suicídio, segundo o Pordata.
Já no que toca à sinistralidade, os dados são semelhantes à média de mortes anuais avançada pela OMS: 1,35 milhões, sendo que 93% dos acidentes com fatalidades ocorrem em países de baixo e médio rendimento. Em Portugal, foram registados 35.704 acidentes de viação em 2019, dos quais resultaram 474 mortos.
- Coronavírus
O número de mortes referentes à Covid-19 indicado na publicação está correto à data de 31 de dezembro. Até ao final de 2020 tinha morrido 1,82 milhões – muito próximo do 1.810.360 referido na publicação –, segundo a plataforma Our World in Data. Desde então o número de mortos subiu e já ultrapassou os 2 milhões de óbitos.
Portugal tem vindo a registar um crescente aumento quer do número de casos positivos, quer do número de óbitos diários. Dados da Direção-Geral da Saúdemostram que desde o início da pandemia e, até 23 de janeiro, foram registadas 10.194 mortes.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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