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| - Um meme profusamente distribuído no Facebook acusa o presidente brasileiro de ter sido preso por incitar e planear “um atentado contra o próprio exército”, com o objetivo de pressionar as autoridades a aumentar o seu salário. Na mesma imagem, lado a lado com Jair Bolsonaro, surge Lula da Silva (que ontem deu uma entrevista exclusiva à RTP), apresentado como um herói popular: “Lula, preso na década de 80 por liderar uma grave no ABC Paulista por um salário melhor para todos os trabalhadores”.
A distinção flagrante entre a postura dos dois políticos brasileiros tem um objetivo claro: revelar o passado alegadamente comprometedor de Bolsonaro, em contraposição aos créditos firmados de Lula da Silva enquanto defensor do povo.
Este conteúdo foi denunciado ao Facebook como potencialmente falso e o Polígrafo, no âmbito da parceria que tem com aquela rede social, procede à sua verificação.
De facto, é verdade que Lula passou 31 dias na prisão em 1980 por liderar uma greve dos trabalhadores no ABC Paulista. O então líder sindical foi preso em 19 de abril de 1980, no 17º dia do movimento grevista daquele ano. Na ocasião, num depoimento gravado à Comissão Nacional da Verdade, o ex-presidente afirmou que os militares cometeram uma “burrice” ao prendê-lo. Desde então, foi sempre a subir até chegar ao mais alto cargo da nação – e depois disso protagonizou uma descida aos infernos que o levou onde se encontra neste momento: à prisão, condenado pela prática do crime de corrupção passiva.
E quanto a Jair Bolsonaro, será verdadeira a informação veiculada? A resposta é negativa.
Em outubro de 1987, a conhecida revista Veja publicou uma reportagem em que garantia que “o capitão Jair Messias Bolsonaro” e outro militar, Fábio Passos, tinham um plano para fazer explodir bombas em unidades militares do Rio de Janeiro, no sentido de “pressionar o comando” a aumentar os salários dos militares. Questionado pela publicação sobre o alegado plano em marcha, Bolsonaro brincou: “Só a explosão de algumas espoletas.” Naquele momento talvez não tivesse noção do problema que as suas afirmações criariam. Veja o artigo em causa:
Quando a notícia foi publicada, o agora presidente o Brasil foi chamado, juntamente com o seu colega Fábio Passos, pelo ministro do Exército. Ambos negaram e existência de qualquer intenção daquele teor. Depois de uma primeira investigação, os coronéis responsáveis pelo inquérito decidiram-se, por unanimidade, pela condenação, pelo facto de o militar ter revelado “comportamento antiético e incompatível com o pundonor militar e o decoro da classe, ao passar à imprensa informações sobre sua instituição”.
Bolsonaro recorreu ao Superior Tribunal Militar e este, por 8 votos contra 4, ilibou-o da condenação.
Bolsonaro de facto foi preso, mas no âmbito de outro caso, embora relacionado com o mesmo tema. Aconteceu em 1986, quando foi punido com pena de prisão de 15 dias, por “ter sido indiscreto na abordagem de assuntos de caráter oficial comprometendo a disciplina.” Em causa esteve um artigo de opinião que assinou na mesma revista Veja, em que dá conta da sua insatisfação com os salários dos militares: “Como capitão do Exército brasileiro, da ativa, sou obrigado pela minha consciência a confessar que a tropa vive uma situação crítica no que se refere a vencimentos”, escreveu, num artigo que intitulou da seguinte forma: “O salário está baixo”.
Pouco depois disso, Bolsonaro reformou-se do Exército. Foi a 22 de Dezembro de 1988, tinha ele 33 anos de idade. Mas não o fez porque foi punido – fê-lo porque foi eleito vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Democrata Cristão.
Em resumo, trata-se de um meme que distorce a realidade dos factos para beneficiar politicamente o ex-líder do Partido dos Trabalhadores, em detrimento de Jair Bolsonaro.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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