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| - “Escrito há 78 anos e parece que foi hoje! ‘Um jovem diabo perguntou a um velho homem: Como é que conseguiste trazer tantas almas para o inferno? O velho diabo respondeu: Eu despertei neles medo! O jovem respondeu: Ótimo trabalho! E eles tinham medo de quê? Guerras? Fome? O velho respondeu: Não, eles tinham medo da doença!’”, lê-se no início de uma publicação partilhada no dia 25 de dezembro.
O excerto – que o Polígrafo também encontrou em inglês, espanhol e francês – pertence, supostamente, ao livro de C. S. Lewis, de 1942, intitulado “Cartas do velho diabo para os jovens”. Descreve-se que o “medo da doença” levou as pessoas a pararem de “se abraçar, de se cumprimentar”, já “não saíram de suas casas” e “pararam de visitar os seus familiares”. Estes comportamentos surgem como paralelo às práticas de distanciamento social, implementadas durante a atual pandemia.
Este excerto faz parte de algum livro do autor em questão?
Clive Staples Lewis (C.S. Lewis) foi um professor e escritor britânico, mais conhecido por escrever “As Crónicas de Nárnia”, uma série de sete livros de fantasia e aventura, publicados na década de 1950.
De acordo com o “Check your fact”, a Snopes e a Reuters, C.S. Lewis nunca escreveu o excerto que está a ser partilhado nas redes sociais. Não aparece em “The Quotable Lewis“, um livro que contém mais de 1.500 citações verificadas do autor, nem em nenhum dos seus livros.
De facto, Lewis não escreveu nenhum livro intitulado “Cartas do velho diabo para os jovens”. Escreveu sim “Cartas de um Diabo a seu Aprendiz” (tradução oficial em português do Brasil para o original “The Screwtape Letters”). O romance, que Lewis publicou em 1942, examina conceitos teológicos através de cartas trocadas entre o demónio Screwtape e o seu sobrinho Wormwood. Embora não haja vestígios do excerto, este livro pode ter inspirado a longa citação que circula na Internet.
William O’Flaherty, um investigador de citações falsamente atribuídas a C.S. Lewis, também reforça, no site “Essential C.S. Lewis”, o facto de estas citações não pertencerem ao escritor. “Ao longo dos anos houve muitos que escreveram uma ‘Screwtape Letter’, o que significa que escreveram no mesmo estilo que Lewis escreveu”, escreveu Flaherty. “Alguns afirmam claramente que não foram escritos por Lewis e outros parecem pensar que é mais inteligente não mencionar este facto”.
O professor Joel Heck da Universidade Concordia do Texas, autor de quatro livros sobre C.S. Lewis, também disse à Reuters que estas palavras não foram escritas pelo autor. “Não é Lewis. A teologia (aparentemente cristã) encaixa Lewis, e a linguagem soa um pouco Screwtapian, pelo que se presta à credibilidade”, conclui.
Tanto a Reuters como a plataforma de fact-checking Snopes já tinham verificado outras declarações falsamente atribuídas ao escritor.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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