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| - Tinha todos os ingredientes para ser mais uma “bomba” contra o ex-presidente do Brasil. Uma publicação no Facebook sugere que um “vídeo guardado a sete chaves pelo PT [Partidos dos Trabalhadores]” foi, por alguma razão, libertado pelo ex-ministro Antonio Palocci (PT) e acabou amplamente difundido nas redes sociais. E porque é que o vídeo não podia ver a luz do dia? Porque, alegadamente, Lula da Silva é apanhado a lançar um ataque aos regimes democráticos e a defender regimes totalitários. “O PT precisa de convencer as pessoas [da] negação da democracia — fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos a democracia”, ouve-se Lula a dizer.
Lula da Silva voltou a estar no topo da agenda nos últimos dias, depois de o Supremo Tribunal Federal do Brasil ter anulado as condenações de que o ex-presidente foi alvo no âmbito da Operação Lava Jato. Consequência imediata: Lula pode ser candidato às eleições presidenciais do próximo ano; e as atenções voltaram a centrar-se no ex-líder petista. O vídeo nem é propriamente atual — o original tem cerca de três anos e meio e a versão editada, a que se acede através da publicação analisada, ganhou força nas redes sociais há cerca de um ano. Mas o conteúdo voltou a circular nas últimas semanas.
Detalhe: tudo não passa de uma (notória) edição das palavras de Lula, proferidas durante uma ação de captação de novos militantes para o Partido dos Trabalhadores, em setembro de 2017 (nota: o original nem sequer estava guardado a “sete chaves”, como alega a publicação, e continua a poder ser consultado na íntegra na página do PT no Facebook).
https://www.facebook.com/105821366170914/videos/1502837216469315
Na versão editada, Lula da Silva “diz”, por exemplo, que “é importante as pessoas participarem no PT (…), convencer as pessoas a mudarem (…) para as pessoas destruírem tudo o que o Estado faz”. Mas basta percorrer o vídeo para concluir que o conteúdo original foi adulterado — foram feitos cortes cirúrgicos na intervenção, extraindo umas partes do discurso e colando excertos que não tinham ligação entre si de forma a (des)construir a mensagem final. Esta edição torna-se óbvia quando se constata que, na gravação partilhada, e que tem pouco mais de dois minutos, Lula “salta” de uma zona para a outra do palanque entre dois frames — uma evidência de que o vídeo foi adulterado.
Como surgem, então, as referências a regimes totalitários? Precisamente para enquadrar a necessidade de os cidadãos brasileiros, naquele caso, o futuro do país só se faz com a intervenção cívica. “O PT precisa de convencer as pessoas de que não existe saída para o Brasil e para qualquer país do mundo fora da política. Ou seja, o PT tem de ser um partido que enfrenta essa discussão contra a negação da política. Fora da política, nós teremos fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia, menos participação popular. Por isso que é importante as pessoas participarem do PT”, defende o ex-presidente brasileiro.
Quando a montagem começou a circular pela primeira vez, o Instituto Lula tomou posição sobre o assunto. “O vídeo é tão absurdo que você imagina que ninguém vai acreditar. Mas tem gente recebendo e ficando em dúvida sobre um vídeo em que Lula aparece defendendo até o nazismo”, escreveu o organismo. O comunicado assinala, de resto, o facto de o ex-presidente se “teletransportar” de um ponto para o outro do palanque. “São os cortes que o criador de fake news faz para tirar trechos da fala do ex-presidente. A montagem é bem mal feita”, concluía-se.
Conclusão
Um vídeo adulterado pretende colocar Lula da Silva a atacar os princípios de um Estado de direito democrático e a fazer a apologia de regimes totalitários. Esse vídeo estaria guardado a “sete chaves” e teria sido divulgado à revelia do ex-presidente do Brasil. Tudo falso. O vídeo continua disponível e, consultando-o, rapidamente se conclui que as frases reconstruídas não foram proferidas por Lula da Silva com o sentido do vídeo editado.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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