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| - Um vídeo, que circula na rede social Facebook, mostra um convidado de um podcast brasileiro, Alexandre Pontioli (que se autodefine como especialista no desenvolvimento humano), a alertar para os riscos do medicamento protetor gástrico Omeprazol, dando a entender que o fármaco não é seguro. “A bula do Omeprazol diz que pode causar paragem cardíaca e demência” em pessoas que usam o fármaco há mais de dez anos, diz o entrevistado. Por isso, continua, uma alternativa ao Omeprazol são os óleos essenciais, nomeadamente o zengest, que é “tão ou mais resolutivo”.
Comecemos por explicar o que é o Omeprazol. Trata-se de “um inibidor da bomba de protões”, que serve para controlar a acidez do estômago e o refluxo, explica, ao Observador, a diretora do Serviço de Gastroenterologia do Hospital Beatriz Ângelo. Comercializado desde o final da década de 80, o Omeprazol está indicado para tratar situações de gastrite, úlceras, esofagite, dispepsia, hemorragia digestiva alta ou Síndrome de Zollinger-Ellison.
Mas terá o Omeprazol, no mercado há mais de 30 anos, problemas de segurança? A resposta é não, garante Marília Cravo. “É completamente seguro. Já associaram o Omeprazol a tumores no estômago, demências. Mas nada disso se verificou. Cada vez temos uma população mais idosa, e cada vez há mais pessoas a utilizar o Omeprazol, mas não há uma associação direta com as demências”, por exemplo, explica a médica.
Aliás, na bula do medicamento, no site do Infarmed, não é feita qualquer referência a enfartes do miocárdio ou demências como possíveis efeitos secundários do Omeprazol. Entre os possíveis efeitos secundários estão dores de cabeça, diarreia, gases, inchaço dos pés, insónias, tonturas vertigens, reações alérgicas ou, em casos muito raros, fraqueza muscular ou problemas hepáticos.
Quanto ao ataque cardíaco, a que se refere Alexandre Pontioli, dois dos últimos estudos conhecidos que avaliaram a relação entre o risco de enfarte agudo do miocárdio (vulgo ataque cardíaco) e a utilização do Omeprazol concluíram que o fármaco aumenta em 16% e 20% a probabilidade de enfarte. Falamos da investigação, de 2015, feita por cientistas da Stanford School of Medicine (nos EUA), e que foi publicada na revista científica PLOS ONE. E, mais recentemente, de um outro estudo, realizado por investigadores do Houston Methodist Research Institute (também nos EUA), e disponível na National Library of Medicine. Ainda assim, nem a FDA (a entidade que regula os medicamentos nos EUA) nem a EMA (Agência Europeia do Medicamento, que regula os fármacos na Europa) emitiram qualquer aviso em relação a esta possível relação para a população em geral. O que existe é um declaração pública da EMA, datada de maio de 2009, a alertar para “um risco aumentado de eventos trombóticos, incluindo enfarte agudo do miocárdio” em doentes estejam a tomar em simultâneo Omeprazol e Clopidogrel, um antiagregante plaquetário.
Por isso, para a população em geral, o Omeprazol é seguro. Não existe nenhuma evidência científica que indique que deva ser substituído por um óleo, como o zengest, como alega Alexandre Pontioli. Quem o confirma, à agência Reuters, é o ex-presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia, Decio Chinzon. Ainda que alguns estudos mostrem algum potencial gastroprotetor de ingredientes do óleo essencial, seriam necessários estudos clínicos para validar a eficácia e segurança de uma terapêutica com este tipo de produtos, diz Wanda Almeida, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de Campinas. O zengest é um produto natural à base hortelã-pimenta, coentros, raiz de gengibre, semente de algaravia, cardamomo, funcho e anis. A empresa que produz este óleo não faz qualquer referência ao uso do produto para tratar as condições para as quais o Omeprazol está indicado.
Conclusão
A utilização de Omeprazol é segura. A gastroenterologista Marília Cravo, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia, explica ao Observador que não se verificou a associação entre o Omeprazol e tumores no estômago ou demências. Quanto aos enfartes do miocárdio, só existe um risco aumentado em pessoas que combinem a toma do Omeprazol com o Clopidogrel, um antiagregante que serve para prevenir a formação de coágulos sanguíneos.
Já quanto à teoria de que o omeprazol deve ser substituído pelo óleo natural zengest, a mesma não tem qualquer base científica.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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