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| - “Gráfico da evolução anual do número de ocorrências de incêndio florestal em Portugal Continental, entre 1968 e 2017. (…) Até 1978 praticamente não havia incêndios florestais em Portugal. Daqui pode-se concluir que os incêndios florestais são também uma conquista de Abril, a par da desordem e da corrupção”, alega-se num post de 15 de agosto no Facebook.
O gráfico tem origem no Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), é referente a 2017 (acesso exclusivo) e foi citado em pelo menos dois estudos sobre o tema: o primeiro, de 2014, desenvolvido por Flora C. Ferreira Leite, António José Bento Gonçalves e Luciano Lourenço; e o segundo, de 2018, também de Luciano Lourenço.
Assim, de acordo com o primeiro estudo mencionado, “o levantamento dos incêndios ocorridos durante os anos de 1943 a 1979, inclusive, realizava-se somente quando estes atingiam áreas geridas pelo Estado“. Significa isto que, “para o resto do país, a informação sobre o número de incêndios e a área ardida em áreas privadas era calculada por extrapolação, com todos os erros inerentes a este método“.
De acordo com Ferreira Leite, Bento Gonçalves e Lourenço, “foi apenas a partir de 1980 que a informação estatística passou a ser tratada de forma mais científica” e só a partir de então é que se começou a organizar “o processo de recolha e tratamento estatístico da informação relativa aos incêndios florestais, que levou algum tempo até ser aceite e implementado com rigor em todas as Circunscrições Florestais de então”.
Através de um método que “foi sendo aperfeiçoado nos anos seguintes, de modo a contemplar em igualdade de circunstâncias todo o território nacional”, a partir de 1985 “a base de dados passou a estar relativamente estabilizada, com os dados a aproximarem-se da realidade e a ficarem disponíveis ao nível de concelho, o que passou a permitir uma representação cartográfica suficientemente pormenorizada do fenómeno”.
Tendo por base o gráfico do ICNF, Lourenço afirmou que “se remontarmos a meados do século passado, podemos afirmar que os incêndios florestais não eram um problema, na medida em que as poucas ocorrências eram rapidamente debeladas pelos populares“.
Assim, por norma, “quando os bombeiros chegavam, o que era raro acontecer, acabavam por ajudar nas tarefas de rescaldo” e “só muito excecionalmente os incêndios florestais atingiam grandes dimensões e eram notícia, como foram os casos de Vale do Rio, Figueiró dos Vinhos, em 1961, ou de Sintra, em setembro de 1966″.
“Na década seguinte, correspondente aos anos 70 do século passado, apesar de os registos estatísticos não serem de grande qualidade, dá para perceber que o problema se agudizou, não tanto em número de ocorrências, mas sobretudo em termos de área ardida, o que levou à tomada de medidas com vista a resolver o problema que, à luz da realidade atual, teria pouco significado”, explica Lourenço.
Contudo, e para servir como termo de comparação, o que se considera hoje como “grandes incêndios” são todos “aqueles que detêm uma área ardida igual ou superior a 100 hectares, ao passo que, nessa época, se consideravam grandes incêndios todos aqueles que detinham um área ardida igual ou superior a 10 hectares“.
Assim sendo, “num curto espaço de tempo, a área associada ao conceito de grande incêndio florestal decuplicou, ou seja, passou a ser 10 vezes maior, o que pode ajudar a compreender a importância que então se deu ao substancial acréscimo da área ardida, em relação à década anterior, o que implicou a necessidade de legislar com vista a conter o fenómeno”.
Em suma, até 1979, o levantamento dos incêndios ocorridos “realizava-se somente quando estes atingiam áreas geridas pelo Estado“, ao passo que “a informação sobre o número de incêndios e a área ardida em áreas privadas era calculada por extrapolação, com todos os erros inerentes a este método”. Só a partir de 1980 é que “a informação estatística passou a ser tratada de forma mais científica“, pelo que a comparação direta entre os diferentes períodos (e métodos de recolha de informação) acaba por ser enganadora.
Por outro lado, o gráfico apresenta dados somente a partir de 1968, não englobando os referidos incêndios florestais de grande dimensão em 1961 e 1966, entre outros exemplos.
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Avaliação do Polígrafo:
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