schema:text
| - Os resultados operacionais da TAP – Transportes Aéreos Portugueses continuam a motivar diversas publicações nas redes sociais. Desta vez aponta-se para um prejuízo acumulado de 3.300 milhões de euros em três anos, desde 2020, apesar da retoma pós-pandemia do tráfego aéreo que se tem verificado já em 2022.
“Da série: ‘Paga, contribuinte desgraçado.’ A caminho dos 3.300 milhões de euros de prejuízos em três anos”, destaca-se num post de 31 de maio no Facebook, em referência à TAP – Transportes Aéreos Portugueses, empresa privatizada em 2015 (num processo que seria parcialmente revertido em 2017, por iniciativa do Governo de António Costa) e novamente resgatada pelo Estado português em 2020.
Os resultados operacionais de 2020 e 2021 estão inscritos no Relatório de Gestão e Contas Consolidadas de 2021 que a TAP apresentou à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Segundo informou a empresa nesse documento, “2021 foi um ano de recuperação das receitas com um total de rendimentos operacionais 31% acima do valor de 2020 alcançando 1.388,5 milhões de euros, valor impulsionado sobretudo pelos segmentos de rendimentos de passageiros, no valor de 1.067,2 milhões de euros (+25,8% de variação face ao período homólogo do ano anterior), e de receitas de carga e correio, no valor de 236,2 milhões de euros (+88,0%)”.
Por outro lado, “os gastos operacionais recorrentes ascenderam a 1.866,5 milhões de euros em 2021, o que representa uma diminuição de 52,1 milhões de euros (-2,7%) quando comparados com o mesmo período de 2020, começando a refletir as medidas de reestruturação implementadas pela empresa, nomeadamente depreciações, amortizações e perdas por imparidade (decréscimo de 95,0 milhões de euros e -16,2% de variação face ao período homólogo do ano anterior), custos com pessoal (decréscimo de 46,3 milhões de euros e -11,0%), gastos de manutenção de aeronaves (decréscimo de 5,0 milhões de euros e -20,5%) e custo dos materiais consumidos (decréscimo de 10,1 milhões de euros e -25,1%). A diminuição dos custos com pessoal reflete já a diminuição (em termos líquidos) de 1.480 empregados ao longo do ano e os cortes nos salários que começaram em março de 2021, no âmbito do Plano de Reestruturação”.
“O aumento em juros e despesas similares em 47,8 milhões de euros (+19,4%) foi na sua maioria devido ao aumento da componente de juros associada ao empréstimo do Estado convertido em capital no final do ano. A perda líquida do ano foi de 1.599,1 milhões de euros e foi negativamente impactada pelas perdas cambiais do euro frente ao dólar norte-americano, sendo que beneficiou dos ativos por impostos diferidos registados em 2021″, sublinha-se.
Ou seja, em 2021 registou-se um prejuízo total de 1.599,1 milhões de euros, superando o valor negativo de 1.230,3 milhões de euros que se tinha verificado em 2020, primeiro ano de impacto da pandemia de Covid-19 no setor da aviação. Os números indicados no post sob análise estão corretos.
Entretanto, os resultados do primeiro trimestre de 2022 foram comunicados pela empresa à CMVM no dia 27 de maio de 2022 (pode consultar aqui) e indicam um resultado líquido negativo de 121,6 milhões de euros.
Ainda assim, uma diminuição de 66,7% comparativamente ao prejuízo registado no primeiro trimestre de 2021, período homólogo, que ascendeu a 365,1 milhões de euros.
“O resultado líquido registou uma melhoria material quando comparado com o primeiro trimestre de 2021, com a perda líquida a diminuir 66,7% para -121,6 milhões de euros, apesar do impacto líquido negativo das diferenças cambiais de 14,7 milhões de euros, em resultado da depreciação do euro face ao dólar norte-americano, com um forte impacto nas rendas futuras e, portanto, non-cash neste período, parcialmente compensado pela valorização dos recebíveis do Brasil, por via da apreciação do real brasileiro face ao euro”, informou a TAP no comunicado à CMVM.
“Os custos não recorrentes, relacionados com a reorganização do grupo, tiveram um impacto de 15,5 milhões de euros nos resultados. Como tal, mesmo considerando o impacto negativo destes custos, a empresa conseguiu gerar um EBITDA positivo de 58,1 milhões de euros, no primeiro trimestre, superando os níveis do primeiro trimestre de 2019 em cerca de 55 milhões de euros. O Resultado Operacional (EBIT) registou um valor negativo de 62 milhões de euros, reduzindo a perda operacional em 72,8% quando comparado com o primeiro trimestre de 2021″, realçou.
No primeiro trimestre de 2022, segundo a TAP, “os principais indicadores operacionais ficaram moderadamente abaixo dos níveis do trimestre anterior (quarto trimestre de 2021), o que é explicado pela sazonalidade da indústria da aviação – o primeiro trimestre é tipicamente o trimestre mais fraco. Ainda assim, a atividade apresentou melhorias significativas quando comparada com o primeiro trimestre de 2021 e demonstrou que a empresa está a retomar os níveis operacionais pré-pandémicos de 2019 de forma consistente e progressiva”.
Neste âmbito, o valor indicado no post (125 milhões de euros) é ligeiramente superior ao apurado (121,6 milhões de euros) no documento oficial da TAP. Somados os três valores (prejuízos de 2020, 2021 e do primeiro trimestre de 2022), porém, chegamos a um total de 2.951 milhões de euros, não muito distante dos referidos 3.300 milhões de euros.
Esse valor poderá vir a ser alcançado no final do ano se o prejuízo do primeiro trimestre voltar a repetir-se nos demais trimestres, mais ou menos ao nível de 121,6 milhões de euros. Terá sido esse o raciocínio do autor do post, apresentando uma estimativa (“a caminho”) não verificável, baseada num mero cálculo de probabilidade.
_______________________________
Avaliação do Polígrafo:
|