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| - Ainda que a pandemia seja o assunto recorrente nos últimos tempos, as redes sociais continuam a disseminar informações ou notícias falsas que colocam em choque a cultura ocidental e a cultura islâmica. No passado dia 29 de julho, foi publicado um artigo no blogue “Amigo de Israel 2.0” com o seguinte título: “França: Muçulmano assassina mulher-polícia (Imprensa ignora)”. O post atingiu as 48,2 mil visualizações e as 262 partilhas. A publicação é, no entanto, falsa.
O artigo começa logo com uma contradição. No título alega que a imprensa ignorou o caso em questão mas, logo a seguir, afirma que “todos os dias temos notícias de franceses assassinados pelos colonos muçulmanos”. No mesmo parágrafo, volta a contradizer-se, alegando que “a imprensa francesa e internacional escondem tudo quanto podem”. Para além de tecer comentários xenófobos, e de se contradizer, o autor não indica qualquer dado que justifique aquela afirmação.
No dia 4 de julho deste ano, Mélanie Lemée, uma agente da polícia francesa, de 25 anos, foi atropelada depois de o condutor se ter recusado a obedecer durante uma operação Stop em Port-Sainte-Marie. Mélanie acabou por falecer, vítima dos ferimentos. O que o artigo alega é que esta morte não foi noticiada, porque a pessoa que cometeu o crime é muçulmana. Algo que não se verifica quando, através de uma pesquisa por notícias desse dia na internet, encontramos diferentes resultados noticiosos sobre este caso. Por exemplo, o jornal francês Le Figaro noticiou a sua morte no dia seguinte e, no dia 6, chegou mesmo a fazer um perfil sobre Mélanie Lemée. Outro jornal de referência em França, o Le Monde, também noticiou o caso na altura. Mesmo as televisões francesas, como a TF1, emitiram uma peça sobre a morte da agente de polícia.
Do lado da imprensa internacional, a AFP cobriu o funeral, com honras militares, de Mélanie Lemée, como se pode comprovar pela reportagem que está disponível no Youtube.
Sobre o autor do crime, aquele dois jornais afirmam que já estaria indiciado pela polícia por ligações ao tráfico de droga. Não se refere, em lado algum, que se trata de um cidadão muçulmano. Por outro lado, algumas publicações francesas dão conta de que se tratava de um cidadão chamado Yassine E., que não teria licença de condução desde 2019, mas não referem, igualmente, que se trata de um cidadão muçulmano. O próprio autor do artigo inicial cita essas informações, mas em nenhum lado refere que Yassine E. é muçulmano. Apelida-o, sim, de “delinquente”.
Conclusão
Um artigo no blogue “Amigo de Israel 2.0” tornou-se viral depois de alegar que a imprensa internacional e francesa tinha desprezado a morte de uma agente de polícia em França, por atropelamento, porque o autor seria muçulmano. Nenhuma destas alegações são verdadeiras porque, tanto o Le Monde como o Le Fígaro falaram do caso na altura em que ocorreu (4 de julho), bem como em nenhuma das notícias é é referido que o autor do crime é muçulmano.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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