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| - “A gripe H3N2 é uma farsa! Trata-se da variante Ómicron. Inventaram essa ‘gripe de verão’, para o povo não perceber que esse surto é de Covid. Um surto de Covid atingindo os totalmente vacinados iria desmoralizar as vacinas, trazer a revolta e descrença dos vacinados para tomar a próxima dose, além de derrubar a narrativa do passaporte sanitário”, lê-se na publicação partilhada no dia 6 de janeiro.
A alegação tem algum fundamento?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) explica que existem quatro tipos da gripe sazonal: A, B, C e D. Os tipos A e B, quando circulam, causam epidemias sazonais da doença. “Os vírus da gripe A são ainda classificados em subtipos de acordo com as combinações da hemaglutinina (HA) e da neuraminidase (NA), as proteínas na superfície do vírus.
Atualmente, os vírus da gripe do subtipo A(H1N1) e A(H3N2) circulam nos seres humanos. Sabe-se que apenas os vírus da gripe de tipo A causaram pandemias. Os vírus da gripe de tipo B não são classificados em subtipos, mas podem ser decompostos em linhagens. O vírus da gripe C é detetado com menos frequência e geralmente causa infeções leves, pelo que não apresenta importância para a saúde pública. Já os vírus da gripe D afetam principalmente o gado e não são conhecidos por infetar ou causar doenças nas pessoas.
É possível a comunidade científica confundir a gripe com a Covid-19?
São doenças diferentes e existem formas de as distinguir. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA realça que a influenza (gripe) e a Covid-19 são ambas doenças respiratórias, mas são causadas por vírus diferentes. “A Covid-19 é causada por uma infeção com um coronavírus identificado pela primeira vez em 2019, e a influenza é causada por uma infeção com vírus da gripe”.
Tanto a Covid-19 como a gripe podem ter vários graus de sinais e sintomas (incluindo assintomáticos) e ambas têm vários sintomas em comum, como a febre, a falta de ar (ou dificuldade em respirar), dores musculares, dores de cabeça, entre outros.
No entanto, num esclarecimento anterior ao Polígrafo, Paulo Paixão, presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia, chamou à atenção para a questão dos sintomas, pois “mesmo isoladamente, nós já não conseguimos distinguir uma da outra. A história da anosmia – o sabor e o cheiro – mesmo agora com a Ómicron já não é muito frequente”. Assim sendo, é recomendado que continuem a ser feitos os testes à Covid, analisados em laboratório, e até existem testes que detetam ao mesmo tempo a Covid-19 e a gripe.
“Um surto de Covid atingido os totalmente vacinados iria desmoralizar as vacinas”?
Esta afirmação também é falsa. Como já foi esclarecido pela Organização Mundial de Saúde, na secção de perguntas e respostas sobre o novo coronavírus, as vacinas Covid-19 são muito eficazes em todas as variantes atuais do vírus e previnem infeções graves, hospitalização e morte. São menos eficazes na proteção contra infeções e doenças ligeiras do que eram para as variantes de vírus anteriores; “mas se adoecer após ser vacinado, é mais provável que os seus sintomas sejam ligeiros”.
Por outro lado, a OMS destaca que “embora as vacinas Covid-19 autorizadas sejam incrivelmente eficazes na redução do risco de desenvolver doenças graves e morte, nenhuma vacina é 100% eficaz. Uma pequena percentagem de pessoas continuará a adoecer com a Covid-19, apesar de terem sido vacinadas. Atualmente, existe informação limitada sobre o risco de pessoas vacinadas passarem o vírus a outras pessoas se estiverem infetadas. Isto torna muito importante continuar a praticar medidas de saúde pública e sociais, mesmo depois de ter sido totalmente vacinado”.
Além disso, num comunicado de 26 de novembro, a OMS esclarece que a nova variante Ómicron tem um grande número de mutações, algumas das quais são preocupantes. “As provas preliminares sugerem um aumento do risco de reinfeção com esta variante, em comparação com as outras variantes de preocupação (VOC)”.
O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA informa que esta variante propagar-se-á provavelmente mais facilmente do que o vírus original do SARS-CoV-2. O CDC calcula que qualquer pessoa com infeção por Ómicron possa espalhar o vírus a outros, mesmo que esteja vacinada ou não tenha sintomas.
Em suma, a gripe H3N2 e a Covid-19 são duas doenças distintas, causadas por vírus diferentes. Está provado cientificamente que ambas existem e há formas de detetá-las separadamente e em conjunto, através de análises em laboratório.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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