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| - O que estão compartilhando: vídeo em que um homem afirma que a batata-doce é o alimento com maior concentração de potássio do mundo. Ele diz que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a ingestão diária de 4,7 miligramas de potássio e que a batata-doce teria 540 miligramas. Segundo ele, os rins não seriam capazes de eliminar o mineral presente no alimento e isso poderia ter consequências fatais.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Na realidade, a OMS recomenda a ingestão de pelo menos 3.510 miligramas de potássio - ou seja, 740 vezes mais do que citado no vídeo. O nível do nutriente na batata-doce varia de acordo com a preparação. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, vai de 230 mg a 475 mg a cada 100 gramas. Portanto, bem abaixo do nível diário recomendado. A nutróloga Isolda Prado, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), cita o feijão-branco, o espinafre, a beterraba e a banana, entre outros, como alimentos com maior concentração de potássio que a batata-doce.
O Estadão Verifica pediu um posicionamento para o responsável pelo conteúdo checado, mas não teve resposta. O espaço segue aberto.
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Saiba mais: publicada no Facebook, a peça verificada é uma versão editada de um vídeo originalmente publicado no YouTube em 2018, no canal do biólogo Tiago Rocha. Ele já teve outros conteúdos desmentidos pelo Verifica (aqui, aqui e aqui). Na gravação original, Rocha dá início a uma série de vídeos sobre 20 alimentos que as pessoas ainda poderiam comer sem medo. O primeiro citado é a batata-doce. Conforme apurado pela reportagem, há alegações enganosas em informações sobre o tubérculo transmitidas por Rocha.
O Estadão entrou em contato com o biólogo Tiago Rocha por e-mail, mas não obteve resposta até o fechamento desta verificação.
Vídeo contém imprecisão sobre concentração de potássio na batata-doce
A OMS recomenda a ingestão diária de pelo menos 3.510 miligramas de potássio para adultos saudáveis. Segundo a nutróloga Isolda Prado, essa quantidade pode ser aumentada para 4.700 miligramas ao dia para reduzir a pressão arterial.
A médica explicou ainda que a quantidade de potássio na batata-doce pode variar conforme o tipo e o preparo. “Pode variar entre 300 a 500 mg por 100 gramas”, informou.
Na plataforma de dados alimentares do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, é possível conferir a quantidade de potássio presente no alimento de acordo com a forma de preparo, como:
Cozida, assada com casca, polpa, com sal: 475 mg por 100 gramas;
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Cozida, fervida, sem casca: 230 mg por 100 gramas;
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Crua, não preparada: 337 mg por 100 gramas.
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Excesso de potássio está ligado à dieta geral
No vídeo enganoso, o biólogo diz que a batata-doce é um alimento benéfico no controle da pressão arterial, mas que pode causar danos aos rins por conta de sua excessiva concentração de potássio. Isso não é verdade.
Isolda explica que o consumo excessivo de potássio não costuma estar ligado a um único alimento, mas à dieta em geral e ao uso de medicamentos. “Para atingir níveis tóxicos de potássio apenas com batata-doce seria necessário um consumo extremamente alto e constante, algo improvável na prática”, pontuou.
Segundo ela, o risco de intoxicação por potássio em pessoas com função renal normal é baixo, já que os rins regulam bem os níveis desse mineral.
“O excesso pode ser perigoso em casos de uso de medicamentos como inibidores da ECA [indicados para hipertensão arterial, insuficiência cardíaca e problemas renais], e betabloqueadores [usados no tratamento de condições cardiovasculares], além de desidratação severa, doenças renais ou consumo exagerado de suplementos de potássio”, disse.
“A hipercalemia (excesso de potássio no sangue) pode causar arritmias cardíacas graves e, em casos extremos, levar à morte”, disse a médica.
Ela ressaltou que isso geralmente ocorre em pessoas com problemas renais, pois os rins são responsáveis por eliminar o excesso de potássio do organismo pela urina.
Consumir batata-doce em excesso pode ser prejudicial?
O consumo excessivo de batata-doce pode resultar em alguns problemas, conforme comentou a nutróloga. Entre os possíveis efeitos adversos estão o excesso de carboidratos na dieta, o impacto na glicemia (quantidade de açúcar no sangue), a ingestão elevada de oxalatos (que podem contribuir para a formação de pedras nos rins) e, em casos extremos, um desequilíbrio eletrolítico (de minerais), incluindo o potássio.
“Não há um consenso exato sobre a quantidade segura [para ingestão de batata-doce], mas um consumo moderado, dentro de uma dieta equilibrada, não oferece riscos para a maioria das pessoas saudáveis”, disse Prado.
Conforme explicou a nutricionista clínica e funcional Andrea Ferrara em entrevista ao Paladar, o consumo da batata-doce não é recomendado para pessoas intolerantes ao alimento ou que tenham sensibilidade digestiva.
Segundo Ferrara, o tubérculo é contraindicado para “indivíduos com problemas renais (já que são ricas em potássio), pedras nos rins (pois são ricas em oxalatos, que podem potencializar a formação de cristais nos rins), além daqueles que devem controlar índice glicêmico ao longo do dia e para quem faz uso de medicamentos que afetam os níveis de potássio no sangue”.
Em relação à quantidade ideal de batata-doce para consumo no dia a dia, Ferrara pontuou que nada em excesso faz bem, por isso, o consumo diário varia de acordo com as necessidades de casa pessoa e atividades físicas praticadas.
Os benefícios da batata-doce são frequentemente abordados na internet e noticiados em sites especializados. Segundo Prado, é verdade que o tubérculo contribui para o controle da pressão arterial devido ao seu teor de potássio. O mineral ajuda a reduzir os efeitos do sódio no organismo e promove a dilatação dos vasos sanguíneos. No entanto, os efeitos da batata-doce no controle da pressão dependem da dieta como um todo, e não apenas desse único alimento, ressaltou a profissional.
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