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| - “Xanana Gusmão, o herói com pés de barro! O herói da independência, primeiro presidente do país de 2002 a 2007 e depois primeiro-ministro até 2015, foi filmado sem máscara, numa discussão acalorada na rua com a ministra da Saúde e agrediu em dois enlutados, um deles mulher!” Este comentário no Twitter serve de mote para a reprodução do vídeo em causa.
São 33 segundos de surpresa total. Um homem que aparenta ser o antigo presidente e primeiro-ministro de Timor-Leste (pelo aspeto físico e voz) desfere duas bofetadas numa mulher já com alguma idade e, poucos segundos depois, outras duas bofetadas, com maior violência, num jovem adulto. A cena passa-se na via pública, a maioria das pessoas não tem máscara (inclusive o homem que se parece com Xanana Gusmão) e há polícias e seguranças por perto.
O vídeo é autêntico? E o agressor é mesmo Xanana Gusmão?
Sim. A autenticidade do vídeo já foi confirmada pelo jornal australiano The Sydney Morning Herald, tal como a identidade do agressor: Xanana Gusmão, antigo presidente de Timor-Leste. A Agência Lusa também aponta no mesmo sentido.
A situação ocorreu no dia 12 de abril, em Díli, capital da República Democrática de Timor-Leste, um dos países mais jovens do mundo. Além das agressões, Xanana Gusmão também se envolveu numa discussão com a ministra da Saúde, Odete Freitas Belo.
Na origem destes acontecimentos está a discordância sobre a causa do óbito e o funeral daí decorrente de um homem de 46 anos que morreu em Díli no domingo passado. As autoridades de saúde garantem que tinha Covid-19 (o que representaria apenas a segunda morte oficial pela doença, desde o início da pandemia), diagnóstico obtido através de teste PCR, após o doente ter dado entrada no hospital com a respiração afetada e com outros sintomas graves. O paciente foi então transferido para o centro de isolamento de Vera Cruz, onde viria a falecer e à volta do qual se verificaram os incidentes registados nas imagens do vídeo.
Ora, a respetiva família – apesar de dois dos três elementos do restante agregado familiar também terem acusado positivo no teste – nega que a Covid-19 tenha sido o motivo da morte e exigiu que seja enterrado no cemitério previsto para a sua área de residência e com um funeral sem restrições, ao contrário do determinado pelas autoridades sanitárias, que impõem um cemitério próprio para as vítimas da pandemia (nos arredores e não na capital) e rigorosos condicionamentos às cerimónias fúnebres.
Xanana Gusmão solidarizou-se com essa família e deslocou-se para a porta do centro de isolamento de Vera Cruz, de onde se recusa a sair enquanto o féretro não for entregue aos seus mais próximos (durante o dia de segunda-feira, as informações apontavam para que o antigo líder timorense estivesse há já mais de oito horas lá “barricado“).
“Este homem não morreu de Covid-19, estava doente há um mês em casa. A família está em boa condição física, levou-o para o hospital e diz que é mentira. Querem levar o corpo”, justificou aquela que é a maior referência política do país fundado em 2002.
A movimentação de Xanana Gusmão arrastou consigo dezenas de pessoas, no mesmo protesto, o que, segundo o referido jornal australiano, terá originado alguns excessos de familiares da vítima. E terá sido nesse momento que os comportamentos menos adequados dessas pessoas foram reprimidos com as agressões perpetradas pelo antigo presidente.
O jornal australiano cita ainda a discussão entre Xanana Gusmão e a ministra da Saúde, na qual a ministra defende a posição das autoridades atendendo ao resultado do teste PCR e o líder histórico timorense lhe responde que não acredita no resultado dos testes e promete aconselhar as pessoas a não irem ao hospital se se sentirem doentes, porque todos os problemas de saúde são agora diagnosticados com Covid-19.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Verdadeiro: as principais alegações do conteúdo são factualmente precisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Verdadeiro” ou “Maioritariamente Verdadeiro” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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