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| - Do Instagram ao Facebook e Twitter, detectámos várias publicações do meme em causa nos últimos dias. Exemplo de uma descrição em língua portuguesa: “2021, a mesma jornalista antes e após a tomada de Cabul, quando as mulheres foram despojadas de quaisquer direitos e obrigadas ao uso de burca, numa história que se repete 32 anos depois da invasão do Afeganistão pela URSS, que foi o gatilho global do terrorismo fundamentalista islâmico”.
“Antes e depois. Jornalista da CNN, Clarissa Ward, a usar hijab enquanto trabalha como repórter no Afeganistão controlado pelos taliban“, lê-se numa descrição em língua inglesa no Instagram.
[instagram url=”https://www.instagram.com/p/CSo_P87IZ2m/”/]
A tomada do poder no Afeganistão pelos taliban gera o receio de que as mulheres afegãs sejam novamente reprimidas e despojadas dos mais elementares direitos humanos, tal como aconteceu até à queda do regime taliban em 2001, através da invasão militar dos Estados Unidos da América (EUA) em resposta aos atentados terroristas de 11 de setembro em solo norte-americano.
É neste contexto que o meme está a ser partilhado por milhares de pessoas, como ilustração do que poderá ou já estará a acontecer no Afeganistão relativamente à condição das mulheres, neste caso uma mulher norte-americana em trabalho de reportagem. Mas será que a referida jornalista da CNN começou mesmo a usar véu islâmico logo após a tomada de Cabul pelos taliban?
Ora, a própria Clarissa Ward já alertou entretanto no Twitter que o meme pode ser enganador. “Este meme é impreciso. A primeira fotografia foi captada no interior de um complexo privado. A segunda fotografia é nas ruas de Cabul tomadas pelos taliban. Sempre usei um lenço nas ruas de Cabul, embora não com o cabelo totalmente coberto e a abaya [túnica que cobre todo o corpo da mulher, excepto a cara, mãos e pés]. Portanto, existe uma diferença, mas não tão acentuada“,
[twitter url=”https://twitter.com/clarissaward/status/1427324200134533121″/]
Ou seja, as imagens são autênticas, mas são apresentadas de forma simplista e descontextualizada. A primeira foi captada no interior de um complexo privado e Clarissa Ward já costumava usar um lenço nas ruas de Cabul, mesmo antes da chegada dos taliban a Cabul.
Ainda assim, a jornalista admite que já existe uma diferença na maneira como se veste em reportagem, passando a cobrir totalmente o cabelo e a vestir uma abaya, ao contrário do que fazia anteriormente.
Na segunda-feira, dia 16 de junho, Clarissa Ward entrevistou vários membros dos taliban nas ruas da capital do Afeganistão. Apesar de estar quase totalmente coberta, vários homens recusaram-se a falar com a jornalista e pediram-lhe que se afastasse. Dirigindo-se a um comandante taliban que aceitou falar, perguntou: “Como vão proteger as mulheres, porque muitas delas estão com medo de não poder voltar a frequentar a escola ou trabalhar?”
“As mulheres podem continuar as suas vidas, podem ir à escola e continuar a sua educação, desde que com o hijab islâmico“, afirmou o comandante. A repórter perguntou se o hijab que estava a usar seria apropriado para estas atividades, mas a resposta foi negativa: “Não como você. A cobrir o rosto também“.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falta de contexto: conteúdos que podem ser enganadores sem contexto adicional.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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