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| - “As pessoas têm uma memória curta. Ainda há uma semana eu ouvi, por exemplo, o PSD a dizer que era necessário alargar o período de funcionamento dos restaurantes das 13 horas para as 15 horas e meia”, declarou ontem o primeiro-ministro António Costa, na entrevista à TVI, respondendo a uma pergunta sobre a demora do Governo em avançar com medidas mais restritivas para a contenção da pandemia.
O líder do PSD, Rui Rio, reagiu de imediato no Twitter, desmentindo o primeiro-ministro: “Na entrevista à TVI, António Costa repete Eduardo Cabrita e diz que eu defendi na semana passada a abertura de restaurantes para lá das 13h. Repito: é mentira. Eu critiquei a medida do Governo que levava à excessiva concentração de pessoas de manhã. Nunca falei em restaurantes”.
No debate parlamentar sobre a renovação do “estado de emergência”, no dia 13 de janeiro, o Governo e o PSD já tinham trocado acusações sobre a resposta à Covid-19. O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, dirigiu-se então à bancada parlamentar do PSD para acusar Rui Rio de ter defendido o prolongamento do horário dos restaurantes.
“Quando dizíamos que para limitar contágios, o que tínhamos era a direita parlamentar a querer abrir restaurantes e comércio ao fim-de-semana”, disse Cabrita, dirigindo-se ao líder do PSD. “A alternativa não estava no que dizia o doutor Rui Rio de ter restaurantes abertos”.
Rui Rio respondeu a tal acusação, igualmente através do Twitter: “Onde é que o Sr. ministro Eduardo Cabrita me ouviu falar sobre os restaurantes? Eu critiquei a concentração de pessoas nas manhãs de sábado e domingo, questionando a eficácia da medida do Governo. E acho que tenho razão. Foi mal feito. O Sr. ministro quer criticar, mas não sabe como”.
Afinal quem é que tem razão?
Questionada pelo Polígrafo, fonte oficial do PSD esclarece que no dia 5 de janeiro, ao intervir numa conferência online da Juventude Social Democrata (JSD), Rui Rio defendeu que era “necessário afinar a medida relacionada com o recolher obrigatório aos fins-de-semana“. A mesma fonte ressalva, contudo, que Rui Rio “não mencionou as medidas aplicadas aos restaurantes“.
“Acho que tem de afinar aquela medida em que à uma da tarde ao sábado e ao domingo toda a gente deve ir para casa, porque o que é que eu tenho visto ao sábado e ao domingo? Aglomerados brutais de pessoas que têm de ir às compras, porque têm de ir, porque durante a semana trabalham e, portanto, concentram-se”, afirmou o líder do PSD, segundo confirmou o Polígrafo na gravação em vídeo.
No decorrer da conferência, Rui Rio não fez qualquer referência ao horário ou medidas restritivas aplicadas na restauração. Mais, não afirmou que deveria ser aplicado um alargamento do horário dos restaurantes.
Ao analisar as intervenções mais recentes do líder do PSD, o Polígrafo também não encontrou qualquer tipo de referência a restaurantes ou ao horário de funcionamento destes estabelecimentos.
Questionado pelo Polígrafo, o gabinete do primeiro-ministro respondeu enviando as mesmas declarações do líder do PSD durante a conferência, a par de outras, mais antigas e fora do período temporal indicado na declaração de Costa.
Em suma, conclui-se que a afirmação do primeiro-ministro não corresponde à verdade. Rui Rio, na intervenção em que criticou a medida de recolher obrigatório implementada pelo Governo, não defendeu o alargamento do horário dos restaurantes. Referiu-se, sim, ao excesso de concentração de pessoas que a restrição provoca nas manhãs de fim-de semana no comércio.
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Avaliação do Polígrafo:
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