schema:text
| - O objetivo da publicação em análise parece consistir em associar o pensamento ideológico de Adolf Hitler, antigo líder da Alemanha Nazista, ao dos atuais presidentes dos Estados Unidos da América (EUA) e do Brasil, respetivamente Donald Trump e Jair Bolsonaro. Acumula largos milhares de partilhas nas redes sociais, com especial incidência no Brasil e – embora com uma menor escala de disseminação – também em Portugal.
Confirma-se que Hitler, Trump e Bolsonaro disseram – respetivamente – que os judeus, imigrantes e índios “não são pessoas, são animais”? Verificação de factos.
Na Alemanha Nazi, a desqualificação dos judeus e outros não arianos (ciganos, eslavos, etc.) como “criaturas inferiores” ou “sub-humanas” constituiu uma política oficial que esteve na base do Holocausto. Vários dirigentes nazistas proferiram a frase em causa ou defenderam – por outras palavras – a ideia subjacente. Mesmo não encontrando um registo dessa citação exata de Adolf Hitler nos livros de História, o facto é que se tratava de uma ideia central do nazismo, patente desde logo na propaganda anti-semita e de exaltação da supremacia ariana.
Quanto à citação atribuída a Donald Trump, atual presidente dos EUA, terá sido baseada numa declaração controversa que data de 17 de maio de 2018, proferida no decurso de uma reunião na Casa Branca em que se discutiam políticas de imigração. Trump falava então com Margaret Mims, xerife do condado de Fresno, Califórnia, a qual se queixava que com a nova lei SB-64 se tornava mais difícil a deportação de criminosos.
“Se eu reconhecer alguém do MS-13, não posso queixar-me ao ICE [Immigration and Customs Enforcement] a não ser que [os imigrantes] pisem o risco”, afirmou Mims. Importa aqui salientar que o MS-13 (ou Mara Salvatrucha) é um grupo criminoso formado na sua maioria por salvadorenhos e que atua sobretudo na América Central e nos EUA.
Trump respondeu a Mims da seguinte forma: “Há imensas pessoas a entrar no país ou a tentar entrar. Estamos a travar muitas delas e a expulsá-las do país. É incrível como estas pessoas são más. Não são pessoas, são animais. E estamos a expulsá-las a um nível e a um ritmo como nunca antes aconteceu”.
Ou seja, a citação de Trump é verdadeira, mas está descontextualizada. O presidente dos EUA não se referia a imigrantes no geral, mas sim aos membros do grupo criminoso MS-13. Aliás, no dia seguinte explicou ao jornal “The New York Times” o que pretendia dizer: “Estou a referir-me aos membros do MS-13 que estão a entrar no país. Temos leis sobre a imigração que são gozadas. Portanto, quando entra no país alguém do MS-13, refiro-me a eles como animais. E adivinhe… Sempre o farei”.
Se Trump é conhecido pelas suas declarações polémicas, Jair Bolsonaro, por seu lado, também conta com muitas controvérsias no seu historial. Contudo, o atual presidente do Brasil não proferiu a afirmação em causa.
Em novembro de 2018, no âmbito de uma entrevista à Rede Bandeirantes, estação de televisão brasileira, Bolsonaro declarou que era contra a demarcação do território indígena: “No que depender de mim, não tem mais demarcação de terra indígena. Temos uma área maior que a região sudeste de terra indígena e qual é a segurança para o homem do campo? O fazendeiro pode acordar hoje e de pronto ter conhecimento de que via portaria ele vai perder sua fazenda para nova terra indígena”.
Nessa mesma entrevista acabou por proferir uma frase que gerou polémica: “Ninguém quer maltratar o índio. Na Bolívia, um índio é presidente, porque é que no Brasil devemos mantê-los reclusos em reservas como se fossem animais em zoológicos?” E acrescentou: “O que pretendo, se houver amparo legal, é que como o índio é um ser humano igual a nós, ele quer evoluir (…) porque ele quando tem contacto com a civilização, ele rapidamente vai se moldando à nova maneira de viver que é bem diferente e melhor do que a dele”.
De facto, Bolsonaro não afirmou que “os índios não são pessoas, são animais”, mas comparou a reclusão dos índios nas reservas com a reclusão dos animais nos jardins zoológicos. Aliás, na mesma intervenção ressalvou que “o índio é um ser humano igual a nós“.
Concluindo, a citação de Hitler pode ser entendida como verdadeira (no sentido em que defendeu a ideia subjacente), a de Trump está descontextualizada (não se referia especificamente a “imigrantes ilegais”, no momento em que a proferiu) e a de Bolsonaro não se confirma. Pelo que a publicação em análise não é minimamente factual e rigorosa, acabando por reproduzir desinformação.
***
Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
|