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| - Várias escutas telefónicas no âmbito da “Operação Marquês” revelaram nomes de código que o Ministério Público (MP) considerou estarem relacionados com pedidos de dinheiro feitos por José Sócrates ao amigo Carlos Santos Silva. Entre os quais a palavra “fotocópias”, de que o antigo primeiro-ministro diz agora não ter memória.
Consultando a acusação do Processo Marquês, pode ler-se que a 11-07-2014 Carlos Santos Silva fez uma entrega a João Perna, o motorista de Sócrates, de um montante de 5.000 euros, a pedido do ex-líder do Partido Socialista. Isto na sequência de uma conversa telefónica em que o ex-Primeiro-Ministro solicitara ao seu amigo a entrega de – expressão dele – “metade das fotocópias” da “última vez”. Depois da recepção do montante em causa, João Perna confirmou o sucesso da operação a José Sócrates. Antes disso, falou com a então namorada do ex-governante, Fernanda Câncio, a quem afirmou: “Documentos entregues.” Quando soube deste diálogo com Câncio, Sócrates censurou João Perna.
Na decisão instrutória do juiz Ivo Rosa deparamos ainda com a seguinte fundamentação: “Da análise feita às conversas telefónicas mantidas entre os arguidos Carlos Santos Silva e José Sócrates denota-se um cuidado, traduzido no recurso a uma linguagem codificada, mantido entre os mesmos quando falam sobre entregas de quantias em numerário (…). Com efeito, os arguidos, por forma a evitar a utilização da palavra dinheiro, recorrem à utilização de palavras como ‘documentos’, ‘fotocópias’ e ‘livros'”.
Nas últimas páginas do documento apresentam-se os factos “suficientemente indiciados”, entre os quais se encontram, pelo menos, dois contactos telefónicos estabelecidos entre Carlos Santos Silva e José Sócrates em que a palavra “fotocópias” foi utilizada. Num deles, a 5 de dezembro de 2013, o arguido Carlos Santos Silva disse ao arguido José Sócrates que ia “tirar o resto das fotocópias” e “daqui a uma horita” tinha isso pronto.
Outro exemplo de contacto telefónico: cinco dias depois, “o arguido José Sócrates perguntou ao arguido Carlos Santos Silva quando podia lá passar, tendo este respondido que ‘por volta das 15.30 horas tenho as fotocópias todas‘”.
Este termo não era, no entanto, exclusivo de Sócrates e Santos Silva. Isto porque, seguindo a tese apresentada pelo MP, Santos Silva mantinha o uso de “fotocópias” em conversas com a mulher, Inês do Rosário – por exemplo, quando se encontrava no estrangeiro.
Ainda nos factos “suficientemente indiciados”, desta feita excluindo José Sócrates das conversas, podemos encontrar interações de Santos Silva em que o empresário “quis certificar-se de que Inês do Rosário tinha conseguido notas mais pequenas, razão pela qual lhe perguntou se tinha conseguido ‘as fotocópias mais miúdas‘”.
Em resposta à pergunta, Inês do Rosário especificou que tinha feito “uma troca com o dinheiro que havia no escritório, explicando ‘daqueles documentos que tinhas… Daqueles, daqueles que foste buscar ao escritório, aquelas fotocópias‘”.
Esta não foi a única conversa entre Santos Silva e Inês do Rosário incluindo tal nome de código. Nas últimas páginas da decisão instrutória de Ivo Rosa lê-se – mais uma vez sob a forma de facto suficientemente indiciado – que “o arguido Carlos Santos Silva disse à arguida Inês do Rosário que ‘ele’ já estava à espera e que já lhe tinha enviado uma mensagem e que lhe devia entregar aquilo que tinha ido buscar, ‘as fotocópias‘”.
Em suma, por várias vezes, durante as conversas entre os dois arguidos, Sócrates e Santos Silva, foi utilizado o termo “fotocópias“. Além disso, também Santos Silva e a mulher, Inês do Rosário, fizeram uso do termo, pelo menos, duas vezes. Estes diálogos estão, de resto, incluídos como factos “suficientemente indiciados” na decisão instrutória do juiz Ivo Rosa.
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Avaliação do Polígrafo:
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