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| - As declarações de António Costa relativamente ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) tiveram especial repercussão nas redes sociais, uma vez que, aparentemente, o primeiro-ministro terá comparado duas estatísticas incomparáveis.
“Quando nós entramos para a União Europeia (UE), em 1986, vamos comparar só com a UE a 15, que é aquela que podemos comparar, o nosso produto era de cerca de 53% da média da UE. Hoje é 73%. Portanto, nós ao longo destes anos aproximamo-nos dos países mais desenvolvidos da Europa. Dos que vieram depois, só quatro é que hoje estão à nossa frente. Dois deles, aliás, ultrapassaram-nos antes de entrarem para a UE: Malta e a Eslovénia”, disse o primeiro-ministro, defendendo o desenvolvimento do país face a outros membros da União Europeia.
De facto, as afirmações de António Costa podem induzir em erro. À primeira vista, o primeiro-ministro parece comparar a posição de Portugal relativamente à média da UE a 15 com a posição de Portugal relativamente à média da UE-27. Mas não é isso que se verifica:
Em 1986, quando Portugal aderiu à Comunidade Económica Europeia (CEE), o PIB per capita nacional era de cerca de 56% da média da UE-15, como revelam os dados da base de dados macroeconómicos da Comissão Europeia, Ameco. Um desvio de três pontos percentuais na afirmação de Costa torna-a imprecisa, mas o valor mencionado relativamente ao ano de 2021 está correto: Segundo dados ainda provisórios, o PIB per capita em Portugal é, neste momento, 73% da média da mesma UE-15.
Desta forma, e segundo a Ameco, os dados apresentados por António Costa, com ligeiros desvios, estão factualmente corretos. Será que o resto da afirmação também está?
Disse o primeiro-ministro que, entre a entrada de Portugal na CEE e o período atual, Portugal se tinha aproximado dos países mais desenvolvidos da Europa. Embora, no geral, esta afirmação se constate, não é correto afirmar que se tratou de uma evolução constante e que perdura no tempo. Portugal tem tido, aliás, alguns recuos nesta matéria.
Olhando para os dados verifica-se que entre 1986 e o novo milénio houve um crescimento quase constante da média do PIB per capita português, que passou de 56% para 71,8% da média europeia. A partir de 2000 e até 2004 houve uma descida pouco significativa deste valor, que nunca caiu da barreira dos 70%. Já desde 2005 e até 2010 foram atingidas médias recorde, nomeadamente em 2010, quando o PIB representava 74,3% da média da UE-15, mais do que o verificado em 2021.
Ainda que relevantes para compreender o panorama económico português, estas variações não voltaram a ser tão significativas quanto no primeiro período, que engloba a entrada de Portugal na CEE e a adesão ao Euro. Entre 2000 e 2021, o PIB per capita em Portugal manteve-se praticamente imutável face à média europeia, crescendo um ponto percentual: de 71,8% em 2000 para 72,8% (valor provisório) em 2021.
Em suma, os números correspondem aos referidos por António Costa, mas a aproximação de Portugal à média da UE aconteceu apenas na primeira fase, entre a entrada do país na CEE e a adesão ao Euro.
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Avaliação do Polígrafo:
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