schema:text
| - No passado dia 7 de maio, uma publicação no Facebook, escrita em tom de alerta, procura mostrar como o desconfinamento está a ser precipitado e como vai fazer com que, “no fim de maio”, estejamos “todos fechados em casa, novamente com novo estado de emergência”. Este utilizador conta que, no dia anterior ao da publicação, a 6 de maio, viu “pessoas sem máscaras ou viseiras, supermercados completamente cheios, pessoas a andar na avenida a passear sem proteção, parques com crianças, adultos e idosos sem qualquer distanciamento de segurança, pessoas nas praias a apanhar sol, entre outras tantas situações”.
Acontece que, embora não seja possível provar se o que diz é verdade ou não, a imagem que escolheu para ilustrar a publicação, que já de si é escrita num tom alarmista, é enganadora e abusiva. A fotografia da Baixa de Lisboa cheia de gente é antiga, logo, não é ilustrativa da forma como os portugueses estão ou não a cumprir o dever cívico de recolhimento.
“Venho por este meio informar que no final do mês de Maio vamos estar todos fechados em casa novamente com novo Estado de Emergência. Ontem e hoje os casos de Covid-19 subiram novamente. Mas o verdadeiro tuga pensa que já pode sair para a rua e fazer o que bem lhe apetece”, continua a ler-se no post, que foi partilhado por centenas de pessoas e chegou quase às 55 mil visualizações, segundo dados do Facebook.
É verdade que nos dias 6 e 7 de maio houve um ligeiro aumento percentual dos novos casos de infeção, em comparação com os dados do dia anterior, mas trata-se apenas de um aumento de 0,1% no dia 7 face à taxa de crescimento de novos casos que tinha ocorrido no dia 6; e no dia 6 trata-se de um aumento de 1,2% face à taxa de crescimento de novos casos que se tinha registado na véspera, segundo os dados do relatório diário da Direção Geral de Saúde.
Como escreveu o Observador, no dia 7 de maio houve um aumento de 533 novos casos, o que, em termos brutos, não acontecia desde o dia 25 de abril (uma vez que desde esse dia houve sempre menos de 500 novos casos diários), mas o aumento percentual face ao dia anterior foi de apenas 2%. O mesmo para o dia 6, em que o aumento percentual de novos casos foi de apenas 1,9% (nesse dia, houve 480 novos casos registados).
Boletim DGS. Número de novos casos volta a passar barreira dos 500, casos internados sobem pelo terceiro dia seguido
Boletim DGS. Lisboa e Vale do Tejo teve hoje 83,3% dos novos casos no dia em que houve o maior número de recuperados em 24 horas
A imagem usada para ilustrar a publicação retrata a baixa lisboeta cheia de gente. Mas não é de agora. A fotografia aparece em pesquisas na internet como sendo usada, pelo menos, desde setembro de 2019, numa altura em que era verão, as ruas estavam cheias de turistas, e não havia indícios do surto pandémico do novo coronavírus. Não há, contudo, nenhuma referência ao facto de a imagem não ser de agora no texto que a acompanha.
A primeira vez que a imagem aparece na internet é numa publicação da Associação Brasileira de Franchising, no dia de 27 de setembro, a anunciar a realização de uma missão de franqueadores brasileiros ao mercado português em novembro. A mesma imagem aparece novamente em outubro para ilustrar o mesmo tema. Ou seja, a imagem nada tem a ver com o comportamento dos portugueses durante o surto da Covid-19, agora que acabou o estado de emergência.
Outro dado relevante a destacar desses dias é o de que, a 6 de maio, o número de casos recuperados em Portugal passou para 2.076, mais 333 do que na véspera, o que representa uma subida de 19,1% dos recuperados que contrasta com a subida verificada na véspera, que tinha sido apenas de 1,8%. Trata-se do maior aumento de casos recuperados em termos brutos desde o início do surto – para se ter noção do crescimento, houve quase tantos recuperados entre o dia 5 e o dia 6 de maio (333) do que em toda a última semana (360).
O tom da publicação que está a ser partilhada no Facebook, contudo, é alarmista porque a pequena subida de novos casos naqueles dois dias não se traduz numa inversão da tendência. O post diz ainda que os “experts” dizem que “temos de voltar à rotina diária”, o que, no seu entender, é sinónimo de ir para os cuidados intensivos. “Os cuidados intensivos estão à vossa espera, pode é não haver ventiladores para todos”, lê-se.
Numa altura em que o Presidente da República decidiu não prolongar o estado de emergência e o governo começou a levantar restrições de forma gradual, mantendo a pedagogia do “dever cívico de recolhimento”, o tom da publicação é alarmista e pouco fundamentado. Além de que a imagem é erradamente utilizada, o que induz os leitores em erro e amplia o efeito desejado de causar alarme social.
A publicação prossegue afirmando que “as pessoas não sabem cumprir as novas regras” e que os portugueses só sabem cumprir se for “declarado novo estado de emergência”. A imagem usada para ilustrar a publicação é enganadora e abusiva, na medida em que impulsiona esse sentimento de alarme que o autor deseja incutir em quem lê a publicação. Ou seja, não ilustra as supostas situações de desrespeito das regras que o autor descreve no texto.
Conclusão
Uma publicação no Facebook procura mostrar que os portugueses não estão a respeitar o dever de recolhimento e distanciamento social agora que o estado de emergência acabou. Para isso, recorre a uma imagem da Baixa lisboeta cheia de gente, não dizendo em nenhum momento que a fotografia não é atual. A imagem é antiga, pelo menos de setembro do ano passado, e é usada de forma abusiva e enganadora para ampliar o tom alarmista do texto que a acompanha. O texto diz que os portugueses não estão a respeitar as regras, que circulam na rua e em supermercados sem máscaras, viseiras e distâncias necessárias, o que vai culminar com novo confinamento no fim de maio, diz o post. O texto não é devidamente fundamento e a fotografia serve apenas para ampliar o tom alarmista da publicação.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.
|