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| - “Nestas últimas semanas tem ficado claro que há em Portugal filhos e enteados, com regras para uns e regras para outros (…). Permitimos milhares de pessoas num festival de um partido mas não permitimos cinco pessoas num areal de uma praia. Permitimos milhares de pessoas num festival de um partido, mas não permitimos que uma pessoa tome banho de mar, a menos que leve uma prancha de surf ou quem sabe leve uma t-shirt do PCP”, questionou João Cotrim Figueiredo a 14 de maio de 2020, no plenário da Assembleia da República.
“Que sentido é que isto tem? Nenhum, absolutamente nenhum. É o mesmo que se viu no 1º de Maio, é desigualdade pura e dura. São regras para os portugueses normais de um lado e outras regras privilegiadas para quem pode ou tem influência sobre o governo. É esta a mensagem que queremos passar lá para fora?”, continuou.
O discurso do líder e deputado único do Iniciativa Liberal (IL), João Cotrim de Figueiredo, foi uma crítica à permissão da realização da “Festa do Avante!”, por oposição às restrições aplicadas nas praias.
Nos 14 dias anteriores à intervenção do deputado da Iniciativa Liberal (IL) (29 de abril a 13 de maio de 2020) tinham-se registado 1.952 novos casos de Covid-19 na região de Lisboa e Vale do Tejo (passou-se de 5.695 casos totais na primeira data para 7.647 na segunda).
Passado pouco mais de um ano, o discurso mudou. No dia 31 de maio de 2021, o candidato da IL à Câmara Municipal de Lisboa, Bruno Horta Soares – anunciou que o partido promoveria um arraial de Santo António em Lisboa (“Arraial Liberal”), a 12 de junho, apesar deste tipo de evento estar proibido devido ao aumento do número de casos de Covid-19 na região de Lisboa.
Para que tal fosse possível, os liberais beneficiaram da mesma prerrogativa legal do PCP para a concretização da “Festa do Avante!” em 2020 (a impossibilidade de proibir qualquer iniciativa e atividade política, como a manifestação).
Nos 14 dias anteriores ao anúncio do arraial (entre 16 de maio e 30 de maio de 2021) tinham-se registado mais 2.939 novos casos de Covid-19 na região de Lisboa e Vale do Tejo (que passou de 318.033 para 320.972 casos totais).
Foi o próprio líder do IL que reconheceu ter usado um privilégio que a lei apenas concede aos partidos e organizações políticas – e que tinha sido tão criticado por si – para outro fim: “Sim, estamos a usar um privilégio partidário para dar às pessoas essa hipótese e esse sinal, é isso que estamos a fazer. Não é por sermos um partido que quer usar esse privilégio, é para dar um exemplo com esse privilégio de que é possível fazer algo de diferente em Lisboa”.
Em suma, é verdadeiro que Cotrim Figueiredo e o Iniciativa Liberal usaram regras que, aquando da “Festa do Avante!”, classificaram como “privilegiadas” e veículo de uma “desigualdade pura e dura” para organizar uma festa do partido, o arraial de Santo António.
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Avaliação do Polígrafo:
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