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| - “Henry Ford fez isso [a luta pelos direitos dos trabalhadores] em 1926 para atrair melhores trabalhadores dos seus competidores para a sua empresa de automóveis”, defende uma publicação distribuída milhares de vezes nas redes sociais – sobretudo nos Estados Unidos –, que provocou imediatamente reações junto de muitos leitores.
Na verdade, a luta pelas oito horas de trabalho diário surgiu décadas antes de Henry Ford fundar a sua empresa – e fora dos Estados Unidos. A primeira lei a estipular o horário diário de trabalho em oito horas foi aprovada em 1856 em Melbourne, na Austrália, segundo a plataforma espanhola de fact-checking Maldito Bulo.
Nos Estados Unidos, foi em 1867 que o Estado do Illinois aprovou uma lei que limitava o trabalho diário a oito horas. Esta lei que surgiu na sequência da Guerra Civil, foi alterada em 1868 para ser apenas aplicável a determinadas classes de trabalhadores, mas não chegou a ser implementada corretamente. Na altura era recorrente trabalhar-se 10 ou 12 horas por dia, sendo que no campo as jornadas prolongavam-se de sol a sol.
Depois de Illinois começou a verdadeira luta pelas oito horas de trabalho diário. Em 1884 a Federação de Organizações Comerciais e Sindicatos dos Trabalhadores – que, segundo explica o site de verificação de factos Politifact, é a unidade sindical que antecede a Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO, na sigla inglesa) – exigiu que até ao dia 1 de maio de 1886 fosse aprovada uma lei que impusesse as oito horas para todos os trabalhadores. A reivindicação não foi aceite e precisamente no dia 1 de maio começou uma das maiores e mais violentas greves de trabalhadores da história. O protesto, que durou vários dias, resultou na morte de quatro trabalhadores e sete polícias.
Em Portugal, a lei aprovada em 1919 apenas abrangia os trabalhadores da indústria e do comércio. Segundo um estudo histórico apresentado pela CGTP em 2013, os trabalhadores do campo só alcançaram este direito em 1962, já em pleno Estado Novo, depois de uma série de greves que paralisou o Alentejo e parte do Ribatejo.
Henry Ford, que fundou a sua empresa em 1903, foi de facto um dos pioneiros na adoção dos turnos de oito horas de trabalho, mas não foi o responsável pela aquisição deste direto. Segundo o Politifact, os historiadores consideram que a decisão de Henry Ford foi importante na luta, mas que o empresário não foi o responsável pela conquista deste direito laboral. “Quando Ford adotou as oito horas por dia na sua fábrica, estava a responder à força laboral que tinha vindo a exigir as oito horas por dia durante muito tempo”, explicou à plataforma de fact-checking David Bensman, professor na Escola de Gestão e Relações Laborais da Universidade de Rutgers, no Estado de Newark, acrescentando que “isto aconteceu mais de 60 anos depois dos trabalhadores, através dos seus sindicatos, terem começado a reivindicar oito horas por dia na década de 1860”.
Em Portugal, a lei aprovada em 1919 apenas abrangia os trabalhadores da indústria e do comércio. Segundo um estudo histórico apresentado pela CGTP em 2013, os trabalhadores do campo só alcançaram este direito em 1962, já em pleno Estado Novo, depois de uma série de greves que paralisou o Alentejo e parte do Ribatejo.
Atualmente, em Portugal, um trabalhador tem uma carga horária de 40 horas semanais, sendo que a Função Pública e outras profissões com contratos coletivos de trabalho podem ver a carga semanal reduzida para 35 horas por semana. No entanto, os partidos portugueses de esquerda – o Bloco de Esquerda e o PCP – têm vindo a apresentar propostas no sentido de reduzir o horário semanal para 35 horas por semana para todos os trabalhadores. Até agora a proposta nunca foi aceite pela maioria da Assembleia da República.
Avaliação do Polígrafo:
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