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  • O período de calor extremo que atingiu Portugal no mês de julho motivou a partilha de publicações em que são apresentadas supostas provas para questionar as alterações climáticas. Numa dessas publicações, é afirmado que “os histéricos do aquecimento global acreditam que os verões excecionalmente quentes são um fenómeno exclusivo das últimas duas décadas, simplesmente porque desconhecem que em 1949 o país e a Europa suportaram as maiores ondas de calor no verão” e que “também ignoram que os três verões mais frios foram os de 1977, 1971 e 1972”. A acompanhar a publicação, surge um gráfico com dados registados pela estação da Amareleja entre 1971 e 2000. O Polígrafo já verificou outras publicações sobre a existência de temperaturas extremas registadas em Portugal há várias décadas e sobre o facto de as temperaturas baixas servirem alegadamente de prova de um suposto “arrefecimento global”. Perante esta nova publicação, coloca-se uma questão: confirma-se que a ocorrência de ondas de calor em 1949 e de verões frios na década de 1970 provam que o aquecimento global e as alterações climáticas não existem? Não. Apesar de Portugal ter vivido, em 1949, um dos verões com maior somatório de dias em onda de calor, e de 1977 ter sido um verão frio, esses dados não provam que o aquecimento global não existe e que há um “histerismo” à volta do tema. De facto, o verão de 1949 foi “um dos verões com maior número de dias em onda de calor”, em somatório, esclarece o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). “As diversas ondas de calor que ocorreram nos anos de 1943, 1946 e 1949, tiveram entre seis e oito dias de duração, [e atingiram] essencialmente regiões do interior”, acrescenta. A ocorrência de ondas de calor pode ser relacionada com as alterações climáticas, admite o IPMA, “mas não poderemos dizer que o aparecimento das ondas de calor depende das alterações climáticas”. “As ondas de calor são uma característica marcante do período estival no território continental [português]”, podendo fazer “parte das condições que caracterizam climatologicamente a região da Península Ibérica”, acrescenta. Nesse ano foram atingidos valores máximos de temperatura máxima em Alvega (45,5ºC) e no Pinhão (44,5ºC). No entanto, “ocorreram ondas de calor igualmente significativas antes e depois do ano de 1949”, prossegue o IPMA, destacando “os seguintes anos com ondas de calor expressivas (em relação ao número de dias em onda de calor) no período de verão: 1943, 1949, 1953, 1981, 1991, 2003, 2006, 2010, 2013, 2017”. No ano de 2003 foi identificada “a onda de calor com maior duração alguma vez registada (desde 1941)”, tendo durado 17 dias em regiões do interior do território (norte, centro e parte da região sul). Desde a década de 1940, quando começou a haver uma observação meteorológica sistematizada e baseada num maior número de estações e em suporte informático, “têm-se verificado ondas de calor, de extensão espaço-temporal variável. No entanto, é a partir da década de 1990 que se verifica a maior frequência deste fenómeno”, sustenta o mesmo instituto. Numa análise ao gráfico que representa anomalias da temperatura média no verão, disponibilizado ao Polígrafo pelo IPMA, é possível observar que houve “nas últimas duas décadas, uma persistência em verões com temperatura do ar acima do normal”, havendo “apenas cinco anos em que o valor foi inferior ao normal”. O mesmo gráfico mostra que, a partir do início da década de 1990, a temperatura média do ar esteve quase sempre acima da normal climatológica – estipulado com base nos valores registados entre 1971 e 2000. De facto, o verão de 1949 foi mais quente do que o dos anos anteriores e seguintes, mas esse valor foi igualado e até ultrapassado nos últimos 30 anos. A ocorrência de ondas de calor pode ser relacionada com as alterações climáticas, admite o IPMA, “mas não poderemos dizer que o aparecimento das ondas de calor depende das alterações climáticas”. “As ondas de calor são uma característica marcante do período estival no território continental [português]”, podendo fazer “parte das condições que caracterizam climatologicamente a região da Península Ibérica”, acrescenta. Apesar de poderem ocorrer em qualquer altura do ano, as ondas de calor têm maior impacto, normalmente, nos meses de verão. O ano de 1949 figura também entre os anos mais quentes desde 1931, surgindo em 12.º lugar. A lista é liderada pelos anos de 1997, 2017 e 1995. O IPMA destaca que, dos 30 anos considerados mais quentes, “21 ocorreram depois de 1990 e 14 desde 2000”. Pedro Miranda, diretor do Instituto Dom Luiz e professor de meteorologia física na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, afirma que “as alterações climáticas estão a alterar a temperatura do mundo” e que isso “está medido”. “O mundo está a aquecer – aqueceu 1,2ºC –, mas não aquece homogeneamente”, garante. Aliás, segundo o especialista, “a temperatura média em Portugal aumentou mais ou menos o mesmo que a média mundial ao longo do último século, mas se formos para o Ártico, a temperatura aumentou o dobro da média do mundo.” “Nós temos agora mais fenómenos extremos – mais frequentes ou mais intensos. Dependendo da zona do mundo, temos tempestades que são mais violentas, temos coisas inauditas como um furacão a chegar a Portugal. São coisas que não costumavam acontecer”. O especialista sublinha que as alterações climáticas “estão a alterar a temperatura do mundo” e que “estão a aumentar a variabilidade” meteorológica previamente existente. “Nós temos agora mais fenómenos extremos – mais frequentes ou mais intensos. Dependendo da zona do mundo, temos tempestades que são mais violentas, temos coisas inauditas como um furacão a chegar a Portugal. São coisas que não costumavam acontecer”, conclui. “Verões frios” em 1971, 1972 e 1977 provam a inexistência do aquecimento global? Não. O IPMA confirma que “a década de 1970 foi, em comparação, um período mais ‘frio’”, com destaque para “os anos de 1971, 1972 e 1977”. A anomalia da temperatura média no verão em relação à normal climatológica de 1971-2000, mostra que o ano de 1977 terá tido o verão mais frio dos últimos 90 anos, seguido por 1971 e 1972. Mas será que a temperatura do verão destes três anos prova de que não existe aquecimento global? “A nossa temperatura média não tem evoluído linearmente – ela varia – e, na verdade, entre os anos 1940 e os anos 1970, o mundo, como um todo, arrefeceu um bocadinho”, explica Pedro Miranda. “Na média global, o que aconteceu foi que o mundo aqueceu entre o fim do século XIX e os anos 1940, entre os 1940 e os 1970 praticamente estabilizou – houve até pequenos arrefecimentos – e depois começou a aquecer a partir dos anos 1975/1976”. Este arrefecimento está relacionado com vários fatores que os investigadores conseguiram identificar posteriormente, tais como a emissão de poeiras provenientes de grandes vulcões e a variabilidade oceânica, ou seja, a variação do El-Niño. “A nossa temperatura média não tem evoluído linearmente – ela varia – e, na verdade, entre os anos 1940 e os anos 1970, o mundo, como um todo, arrefeceu um bocadinho”, explica Pedro Miranda. Também Duarte Costa, especialista em alterações climáticas, afirma que “não se consegue refutar um processo físico da atmosfera recorrendo a um exemplo de um ano ou outro”. “As alterações climáticas são a variabilidade climática que hoje é mais quente e mais extrema do que era antes. Não é o tempo que está a mudar – não é este ano que está mais quente ou mais frio – é o sistema que está a mudar e está-nos a trazer outro tipo de clima, seja na média, seja nos extremos”, sublinha. Importa sublinhar que, como se pode ver no gráfico das anomalias da temperatura média no verão, o número de verões com valores abaixo da normal climatológica 1971-2000 em Portugal continental é muito menor do que o registado nas décadas anteriores a 1990. Dados da Amareleja não estão relacionados com onda de calor de 1949 A acompanhar a publicação, surge um gráfico que mostra dados da ficha climatológica da estação da Amareleja (concelho de Moura, distrito de Beja) disponibilizados pelo IPMA. Estes dados não estão relacionados com o texto da publicação e é necessário deixar algumas considerações. Sobre o valor destacado no gráfico – 46,5ºC de temperatura máxima no mês julho – é necessário referir que se trata de um valor registado no dia 23 de julho de 1995, tendo sido, até julho de 2022, a temperatura mais alta em Portugal durante o mês de julho. No dia 14 de julho de 2022, durante a onda de calor, este recorde foi batido: a estação do Pinhão (Alijó, Vila Real) chegou aos 47ºC. Porém, a estação da Amareleja mantém o valor mais alto de temperatura máxima alguma vez registado em Portugal: 47,3ºC, no dia 1 de agosto de 2003. Quanto a estes recordes, Pedro Miranda deixa um alerta: “Quando olhamos para um recorde, estamos a comparar uma série num certo sítio com um valor registado no mesmo sítio. É preciso ver que as nossas séries de observações não têm todas a mesma duração – há sítios onde temos observações desde 1850 – como Lisboa – e há sítios que temos observações desde 1930 ou que começaram mais tarde. Essas comparações não são todas equivalentes”. Em suma, confirma-se que ocorreu, em 1949, uma onda de calor e que em 1977 se viveu um verão anormalmente frio. No entanto, estas medições pontuais não provam que o aquecimento global ou as alterações climáticas não existem. Além disso, as ondas de calor sempre existiram, mas são agora mais frequentes. ___________________________________ Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute. The sole responsibility for any content supported by the European Media and Information Fund lies with the author(s) and it may not necessarily reflect the positions of the EMIF and the Fund Partners, the Calouste Gulbenkian Foundation and the European University Institute.
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