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| - “Portugal é dos poucos países no mundo que poderia fechar as suas fronteiras e viver bem, possivelmente até melhor do que vivemos agora, pois a natureza dá-lhe uma grande riqueza, que contém tudo o que é necessário para que a sua população pudesse viver feliz e em paz”, começa por se salientar num post de 3 de abril no Facebook.
“A maior Zona Económica Exclusiva da União Europeia, que é tão grande como todo o continente europeu. É muito mar com muito peixe onde outros pescam”, destaca-se no texto, apontando-se de seguida uma série de características que justificam esta classificação: “80% de solo arável, mas está quase em completo abandono; Invejável rede hidrográfica ao nível mundial; Grandes reservas de água doce, em aquíferos subterrâneos, quase inesgotáveis; As maiores reservas de ferro da União Europeia, de excelente qualidade; As maiores reservas de cobre da Europa (segundas do mundo); As maiores reservas de tungsténio (volfrâmio) da Europa; As maiores reservas de lítio da Europa; As maiores reservas de terras raras; As segundas maiores reservas de urânio da Europa.”
Além disso, a Portugal são ainda atribuídas “grandes reservas mineiras de ouro, prata e platina; grandes reservas de carvão mineral de excelente qualidade; incomensuráveis riquezas que as águas do Atlântico escondem; uma das maiores reservas de petróleo da Europa ,que já vai ser explorada na costa do Algarve por companhias alemãs e espanholas; reservas de gás natural, que para o consumo de Portugal dão pelo menos para 100 anos sem precisar de ninguém”.
“Isto é apenas a ponta do Iceberg que circula pela Internet”, conclui-se na publicação, sendo que “somando todos os recursos naturais, Portugal é possivelmente um dos países mais ricos da União Europeia e é levado à ruína pelos seus governantes, que em vez de explorarem todos esses recursos de forma ordeira e sem interesses pessoais dos executores, ou nada fazem, ou praticamente os oferecem”.
De entre todos os dados apresentados, o Polígrafo selecionou as alegações relativas às “maiores reservas da Europa”, que neste caso visam o ferro, o lítio, o cobre e o volfrâmio. De onde vêm estes números? E serão mesmo as maiores reservas ao nível europeu?
Começando pelo ferro, dados oficiais do Governo do Canadá indicam que as reservas de ferro bruto em 2020 encontravam-se maioritariamente na Austrália (28,5% das reservas mundiais). Ao nível europeu, a verdade é que quer a Rússia (14,2%) quer a Ucrânia (3,7%) estão no top 10 de minérios de ferro, o que significa que é falso que Portugal (que não possui dados oficiais sobre este metal) possua as maiores reservas da Europa.
Olhando agora para o lítio, confirma-se que, ao nível de reservas, e de acordo com dados do Serviço Geológico dos EUA (USGS na sigla em inglês), de janeiro deste ano, Portugal detém mesmo a maior da Europa (60 mil toneladas), sendo superado ao nível mundial pelos EUA, Argentina, Austrália, Brasil, Chile, China e Zimbabué.
Ainda assim, “devido à exploração contínua, os recursos de lítio identificados aumentaram substancialmente em todo o mundo e totalizam cerca de 89 milhões de toneladas”. Além dos EUA, há outros países como a Bolívia (21 milhões de toneladas), a Argentina (19 milhões de toneladas), o Chile (9,8 milhões de toneladas), a Austrália (7,3 milhões de toneladas), a China (5,1 milhões de toneladas), o Congo (3 milhões de toneladas), o Canadá (2,9 milhões de toneladas), a Alemanha (2,7 milhões de toneladas), o México (1,7 milhão de toneladas), a República Checa (1,3 milhão de toneladas), a Sérvia (1,2 milhão de toneladas), a Rússia (1 milhão de toneladas), o Peru (880.000 toneladas), Espanha (300.000 toneladas) e finalmente Portugal (270.000 toneladas).
Quanto ao cobre, também não se verifica que Portugal tenha a maior reserva da Europa, de acordo com os dados do portal Statista. Sem números específicos para o território português, a verdade é que pelo menos a Rússia, com 7% das reservas mundiais, figura no top 5 de países com as maiores reservas de cobre. Na posição cimeira está o Chile, com 23%, seguido da Austrália (10%) e do Peru (10%).
Relativamente ao volfrâmio/tungsténio, Portugal destaca-se no top 7 de países com as maiores reservas ao nível mundial, não sendo ainda assim o primeiro da Europa. À sua frente estão a China, a Rússia, o Vietname, a Espanha, a Coreia do Norte e a Áustria. Os dados, mais uma vez reunidos no portal Statista, dizem respeito a 2021 e revelam que a China “tinha de longe as maiores reservas de tungsténio do mundo, com cerca de 1,9 milhões de toneladas”. Portugal tinha, no mesmo ano, apenas cerca de 5 mil toneladas.
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Avaliação do Polígrafo:
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