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| - “Alguém no seu juízo perfeito pode achar isto normal? A farmacêutica a utilizar ingredientes adicionais nas picas para supostamente estabilizar o risco de ataques cardíacos súbitos em crianças? Ou seja, estão a assumir com todas as letras que a pica é perigosa e mesmo assim querem impô-la à força?”, questiona-se na descrição da publicação que já foi partilhada em várias línguas, incluindo português.
O título que aparece na imagem coloca em evidência o assunto do post: “Pfizer adiciona ingrediente usado para estabilizar vítimas de ataques cardíacos nas vacinas para crianças.” A acompanhar esta afirmação, surge uma imagem de uma criança a gritar enquanto é vacinada.
Será verdade?
Não. A substância em causa chama-se tris-(hidroximetil)-aminometano – mais conhecida pelo nome comercial: trometamina. De facto, a trometamina passou a ser um dos componentes presentes nas vacinas produzidas pelo consórcio Pfizer/BioNTech, nas não existe qualquer evidência científica que comprove que esta substância previne ataques cardíacos, seja em crianças ou em adultos.
A trometamina tem como objetivo aumentar a capacidade de armazenamento das vacinas, como explica o porta-voz da farmacêutica Kitt Longley, citado pela plataforma de fact-checking da Agence France Presse (AFP), uma vez que “permite ao mRNA resistir à degradação por um período de tempo maior antes da administração – o que significa que a vacina pediátrica pode ser armazenada entre 2 a 8ºC em frigoríficos comuns até 10 semanas”. Inicialmente a vacina da Pfizer tinha de ser conservada a temperaturas negativas.
A farmacêutica explica ainda a razão para incluir esta substância apenas agora, quase um ano depois de ter sido inicialmente aprovada: “O nosso principal objetivo no início da pandemia era disponibilizar às pessoas uma vacina segura e eficaz o mais depressa possível. Ao longo do último ano, à medida que as vacinas se tornaram mais disponíveis, melhorar a estabilidade das vacinas tornou-se uma das principais prioridades para que os fornecedores administrem a vacina.”
“Permite ao mRNA resistir à degradação por um período de tempo maior antes da administração – o que significa que a vacina pediátrica pode ser armazenada entre 2 a 8ºC em frigoríficos comuns até 10 semanas”.
Existe uma ligação entre a trometamina e o tratamento cardíaco, uma vez que este fármaco é usado durante as cirurgias cardíacas de bypass, mas não existe qualquer evidência de que diminua o risco de ocorrerem ataques cardíacos. Isuru Ranasinghe, cardiologista no Hospital Príncipe Charles, em Brisbane, na Austrália, explica à plataforma de fact-checking AAP que este medicamento não é usado “com o objetivo de tratar pacientes com ataques cardíacos” e que, segundo o seu conhecimento, “ninguém o usa para esse objetivo”.
“A trometamina (ou tris) é uma solução-tampão simples e comum que tem um alcance de pH semelhante ao plasma e que estende a longevidade das vacinas na refrigeração sem requerer frigoríficos especializados”, acrescenta o especialista, sublinhando que este fator “torna a vacina mais acessível” a zonas remotas e países em desenvolvimento.
É importante também referir que a trometamina não inclui apenas as vacinas para crianças, como a publicação faz crer, pois passou a ser adicionada também às vacinas para jovens e adultos. Esta alteração foi comunicada ao regulador norte-americano de medicamentos, a FDA, que – no mesmo documento onde anuncia a aprovação da administração das vacinas em crianças dos 5 aos 11 anos, publicado no dia 29 de outubro – autoriza a inclusão da substância nas vacinas para “manter o pH da vacina e a estabilidade”. “Esta nova formulação é mais estável em temperaturas frias por períodos de tempo mais longos, permitindo uma maior flexibilidade para os fornecedores das vacinas”, pode ainda ler-se.
“A trometamina (ou tris) é uma solução-tampão simples e comum que tem um alcance de pH semelhante ao plasma e que estende a longevidade das vacinas na refrigeração sem requerer frigoríficos especializados”, acrescenta o especialista, sublinhando que este fator “torna a vacina mais acessível” a zonas remotas e países em desenvolvimento.
O regulador considera que esta substância “não apresenta preocupações de segurança ou efetividade”, uma vez que é também utilizada em “outras vacinas aprovadas pela FDA e outros medicamentos, incluindo para o uso infantil”. Também a vacinada da Moderna – que é de mRNA, como a da Pfizer – contém na sua composição trometamina, pode se pode ver na lista de ingredientes disponibilizados ao Centro norte-americano de Prevenção e Controlo de Doenças (CDC, na sigla inglesa).
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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