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| - O vídeo em causa está a ser partilhado nas redes sociais desde há uma semana, mas já tinham sido difundidas outras experiências similares nos últimos anos, com o intuito de “provar” que a água supostamente “própria para consumo” está, na verdade, repleta de “veneno” e outros componentes tóxicos.
Depois de colocar num copo de vidro uma garrafa de água da marca “Vimeiro”, o autor do registo passa a explicar o procedimento: “Vamos então ligar aqui o nosso aparelho de eletrólise que serve para testar a qualidade da água e todos os químicos que ela tem dentro. (…) Como podem ver ela já está a mudar de cor, é sinal de que tem uma boa quantidade de veneno dentro. Até já está a ficar preta.”
De facto, não há margem para dúvidas: a água começa a mudar de cor e atinge uma tonalidade muito semelhante ao preto. O autor do vídeo indica que terá que desligar o aparelho, caso contrário “ainda rebenta“, e prossegue com a “experiência“, que passa agora a incluir um íman:
“Agora vamos fazer aqui um teste com este íman bastante forte, vamos colocar no copo [parte exterior] e vamos ver o que é que acontece.”
As partículas pretas que, até ao momento, boiavam no topo do copo, começam a aproximar-se do íman para onde quer que ele vá, num movimento de atração: “Olhem o que está a acontecer quando nós pomos o íman, (…) análise à ‘Água do Vimeiro’ através da eletrólise e de um íman.”
O vídeo termina e nada é ainda conhecido sobre o seu autor. No post onde este é difundido, o alerta é claro: “À atenção de todos pela vossa saúde.” O Polígrafo contactou a “Água do Vimeiro” por forma a esclarecer o processo químico que vemos no registo.
De acordo com a empresa de distribuição de água, situada em Torres Vedras, este tema não é propriamente novo. “Em 2021 começámos a receber, por parte de consumidores da ‘Vimeiro’, links com o vídeo com o intuito de nos alertarem para o caso”, começa por explicar fonte oficial da empresa.
O vídeo foi analisado pelo gabinete jurídico, uma vez que difunde “conteúdo falso e difamatório“, mas a verdade é que “as demais possíveis abordagens para a reposição e/ou a salvaguarda dos direitos à imagem e ao bom nome da ‘Água do Vimeiro’ esbarram todas na falta de elementos de identificação pessoal do autor da produção audiovisual e/ou da respetiva partilha e, na verdade, de uma pessoa física a quem possa assacar-se a responsabilidade pelos atos e comportamentos em questão”.
Apesar disso, a empresa procedeu a analisar o tema junto de entidades competentes e certificadas na área. Dessa iniciativa resultou um parecer no qual se explica que, o que observamos no vídeo, “acontecerá com qualquer água que contenha minerais na sua composição, sendo que apenas as águas destiladas, por não terem minerais, não verificam esta reação“.
“As águas minerais naturais são de origem subterrânea e provêm de aquíferos (lençóis subterrâneos de água) naturalmente protegidos de qualquer tipo de contaminação. Sob o ponto de vista nutricional, as águas minerais naturais são ricas em minerais essenciais à saúde” e que são “responsáveis por várias funções no nosso organismo, onde se destaca o seu papel no equilíbrio ácido-base, no bom desenvolvimento dos ossos e dos dentes e na manutenção do sistema nervoso”, sublinha a empresa na resposta ao Polígrafo.
Mas, assim sendo, o que vemos acontecer no vídeo em análise? Acontece que, devido à presença destes minerais essenciais à vida, “as águas são boas condutoras de corrente elétrica e, por esse motivo, são muitas vezes utilizadas em experiências que evidenciam essa mesma propriedade”.
À parte de todas as restantes água, apenas a destilada não permite a passagem de corrente elétrica. No vídeo em causa recorre-se a um aparelho elétrico, com elétrodos metálicos, “os quais sofrem uma reação de decomposição devido à passagem da corrente elétrica“. Deste modo, “qualquer outra que fosse a água utilizada, à exceção da água destilada, o fenómeno seria o mesmo“.
Porquê a cor preta? “A cor observada deve-se à decomposição da peça metálica do equipamento na água. O fenómeno é conhecido e tem o nome de eletrólise. As partículas metálicas libertadas do equipamento serão atraídas pelo íman. A cor da água deve-se às substâncias libertadas pelo metal dos elétrodos do equipamento, sendo que varia consoante o tipo de metal utilizado e a sua reação com os diferentes minerais presentes na água”.
A “Água do Vimeiro” reforça ainda que “a qualidade da água é avaliada continuamente pelas autoridades competentes, sendo que as análises efetuadas requerem vários tipos de equipamento e profissionais qualificados, não existindo nenhum equipamento que, isoladamente, permita avaliar a qualidade da água”.
Além disso, a empresa garante que a “Água Mineral Natural do Vimeiro” não sofre nenhum tipo de “modificação, química, física ou microbiológica, sendo engarrafada assepticamente, com as características com as com as quais é naturalmente captada”, sendo avaliada periodicamente por diferentes entidades competentes, nomeadamente a Direção-Geral da Saúde e a Direção-Geral de Energia e Geologia.
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