schema:text
| - “Sabe o que é carmina? É um corante alimentar feito de insetos esmagados. Também é chamado de extrato de cochonilha, que vem da espécie de inseto Dactylopius coccus Costa. É um corante vermelho usado numa variedade de produtos alimentares e cosméticos, incluindo: doces, gelados, snacks infantis, misturas para bolo, sumos, hambúrgueres, salsichas, iogurte, batons, sombras, champôs, loções, revestimentos de pílulas”, destaca-se num post de 10 de fevereiro no Facebook, indicado ao Polígrafo com pedido de verificação de factos.
“Ao contrário de outros corantes alimentares naturais, como o urucum, que vem das sementes do achiote, a carmina é feita com insetos triturados. Isso mesmo, insetos que são secos, moídos e usados para fazer um corante”, sublinha-se no texto, para logo depois lançar o alerta: “Carmina tem efeitos colaterais potenciais e, afinal de contas, é feito com insetos, então é melhor evitá-lo por completo.”
Este alerta sobre a carmina tem fundamento?
Em dissertação no âmbito do Mestrado em Segurança Alimentar apresentada em 2019 à Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra – com o propósito de avaliar o risco para a saúde que este corante possa representar – sublinha-se que o carmim (substância corante que contém a carmina) é “um dos corantes naturais mais consumidos no mundo, (…) obtido através do corpo seco da cochonilha”.
Na tese assinada por Adriana Rodrigues da Silva Pereira explica-se que a cochonilha é “obtida a partir de insetos esmagados“, confirmando assim parte da alegação difundida no post sob análise.
Outro estudo da Universidade de Coimbra, apoiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e publicado em 2021, converge com a tese acima referida, indicando que “os carmim (E120) são utilizados mundialmente como corantes alimentares naturais de origem animal, com ampla aplicação, inclusive em iogurtes”.
Quanto ao eventual risco para os consumidores, a tese no âmbito do Mestrado em Segurança Alimentar debruça-se sobre “o teor de carmina expresso em ácido carmínico presente nas amostras”. Foram analisadas “30 amostras, 13 de iogurtes líquidos e 17 de iogurtes sólidos”.
“Para a avaliação do risco foi utilizada a ADI [Ingestão diária admissível] recomendada pelo Painel da EFSA [Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar], em 2015, para ácido carmínico de 2,5 mg/Kg peso corporal /dia. Assim, considerando a percentagem do rácio EDI [Ingestão diária estimada]/ADI, obtém-se um risco de 4,16%, pelo que podemos concluir que a ingestão de ácido carmínico através do consumo de iogurtes não apresenta risco para os consumidores”, detalha a tese.
Assim, constatou-se que “apesar de algumas amostras se encontrarem acima dos valores permitidos, o valor da EDI não ultrapassou o valor da ADI estabelecido pela EFSA em 2015, podendo concluir-se que a ingestão de ácido carmínico veiculada pelo consumo de iogurtes não apresenta risco para a saúde dos consumidores”.
O estudo mais recente, por sua vez, adverte para as reações alérgicas que este corante alimentar possa causar. “Apesar de serem considerados seguros para a saúde humana, os carmim são conhecidos por causar reações alérgicas“, salienta-se. No entanto, assegura-se que “a ingestão de carmim através do consumo de iogurte apresenta baixo risco para os consumidores portugueses”.
“As crianças foram o grupo populacional mais vulnerável com um valor de risco calculado de até 10% considerando o cenário de conteúdo médio. Estas primeiras constatações apontam para a necessidade de reforço dos programas de vigilância e estudos de monitorização, contribuindo para uma maior sensibilização quanto à exposição ao carmim”, destaca-se.
O Polígrafo contactou ainda Rui Jorge, nutricionista especializado em nutrição clínica, com trabalhos académicos desenvolvidos no âmbito do consumo de insetos, que indicou que “como qualquer substância, pode sempre trazer riscos. Todavia, em doses de consumo normais, aparentemente é um aditivo alimentar considerado seguro e devidamente aprovado pelas entidades competentes”.
De resto, “salienta-se apenas que, também à semelhança de muitas outras substâncias, pode induzir reações alérgicas a pessoas sensíveis”.
______________________________
Avaliação do Polígrafo:
|