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| - As publicações das redes sociais cujos autores negam as mudanças no clima provocada pela atividade humana recorrem com frequência ao argumento de que os cientistas, os jornalistas e as organizações internacionais abandonaram o termo “aquecimento global”, substituindo-o pela expressão “alterações climáticas”.
Num desses posts lê-se, inclusive, que o motivo inerente a esta suposta mudança de vocabulário se prende com o facto de o planeta estar a arrefecer e não a aquecer. “Agora mudaram o nome para alterações climáticas, pois parece que o planeta está a arrefecer”, sustenta o autor da publicação.
No entanto, além de não se assistir atualmente a um arrefecimento do planeta (informação já verificada anteriormente pelo Polígrafo), é falso que o termo “aquecimento global” tenha sido substituído pela expressão “alterações climáticas”. Aliás, tal como explica o Serviço Geológico dos Estados Unidos numa secção do seu site dedicada a responder a perguntas frequentes, “o aquecimento global é apenas um aspeto das alterações climáticas”. Isto é, enquanto o “aquecimento global se refere ao aumento da temperatura global devido principalmente ao aumento das concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera”, as alterações climáticas dizem respeito “às mudanças crescentes nos parâmetros do clima durante um longo período de tempo – incluindo a precipitação, temperatura e padrões de vento”.
Noutro plano, várias notícias nacionais e internacionais recentes detetadas pelo Polígrafo – nomeadamente nos sites do Público, da TSF, do Eco, do Washington Post e da BBC – utilizam no mesmo texto o termo “aquecimento global” e a expressão “alterações climáticas”.
O mesmo se verifica em estudos científicos recentes, como este relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, e em artigos publicados em sites de entidades reconhecidas a nível internacional como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Parlamento Europeu.
A título de exemplo, um artigo publicado no site da ONU aponta outros fenómenos relacionados com as alterações climáticas além do aquecimento global, como as tempestades severas, as secas, a subida dos oceanos, o desaparecimento de espécies e a pobreza.
Por fim, tal como o climatologista Carlos da Câmara já havia adiantado ao Polígrafo a 9 de julho de 2022, o termo alterações climáticas passou a ser utilizado mais frequentemente quando se percebeu “que o impacto dos gases com efeito de estufa não existe apenas no aquecimento, no aumento de temperatura”, e que “reside também em alterações brutais na distribuição da precipitação”, nomeadamente “com um aumento enorme de secas, com um aumento enorme de vagas de calor, e com furacões que estão a chegar mais a norte do que habitualmente chegavam”.
Em suma, o termo “aquecimento global” não foi substituído pela expressão “alterações climáticas”. Ambas as expressões são usadas pelos cientistas, pelos jornalistas e pelas organizações internacionais já que dizem respeito a conceitos que, embora estejam interligados, são diferentes.
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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.
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