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| - Esta terça-feira (28 de março) ficou marcada pelo ataque ao Centro Ismaelita, em Lisboa, que resultou na morte de duas mulheres portuguesas. O agressor foi neutralizado pela PSP e encaminhado para o Hospital de São José, onde foi alvo de uma intervenção cirúrgica.
Ainda que as motivações deste homem, um cidadão afegão que se encontrava em Portugal há cerca de um ano, ainda estejam a ser investigadas, as reações não tardaram a chegar. André Ventura, líder do Chega, condenou a “política de portas abertas” do governo de Costa que levaram, na sua perspetiva, a este resultado.
“A política de portas abertas sem qualquer controlo deu nisto. O sangue destas vítimas é responsabilidade do criminoso afegão, mas está nas mãos do governo de António Costa”, escreveu Ventura no Twitter poucas horas após o ataque.
E a reação motivou rapidamente um alerta: “Doutor, não contribua por favor para exponenciar o pânico social que se tornou responsável pela estigmatização de certas comunidades associadas, de modo superficial, ao fenómeno terrorista. Isso só vai alimentar a discriminação de cidadãos com base nas características religiosas”, lê-se em resposta ao tweet de Ventura.
E esta não se ficou por aqui. Menos de uma hora depois, o mesmo autor da resposta acrescentou que “o doutor bem sabe que este pânico social, que resulta da ameaça de terrorismo, é capaz de provocar alta conflitualidade social e crescente suspeição contra determinadas comunidades e que é difícil de contrariar”.
O autor desta perspetiva? O próprio André Ventura. “Houve quem não tivesse gostado destes meus dois tweets. Peço desculpa por tê-los induzido em erro. O que escrevi devia estar entre aspas pois não é da minha autoria, mas sim do doutor André Claro Amaral Ventura e podem ler na sua tese de doutoramento”, conclui o autor do tweet.
Será então verdade que Ventura – que ao dia do ataque destacou o agressor como “criminoso afegão” salientando a origem do agressor – afirmava na tese de doutoramento que o “pânico social se tornou responsável pela estigmatização de certas comunidades associadas, de modo superficial, ao fenómeno terrorista”?
Sim. Na tese de doutoramento, que tem sido frequentemente apontada como fonte de contradições entre o que defendia e o que defende atualmente publicamente, André Ventura aborda o impacto social da elevada cobertura mediática do “fenómeno terrorista” e condena a associação entre estes atos e as “características religiosas” dos seus intervenientes.
“Um elemento de indiscutível relevância, que está intimamente relacionado com os tempos modernos é a cobertura mediática do terrorismo, o pânico como arma de agressão. O pânico e a mensagem de pânico tornaram-se em si mesmos elementos da ameaça terrorista. Como observa Marques da Silva, a ameaça permanente do terrorismo tornou-se a arma mais letal e eficiente que os terroristas e criminosos organizações podem usar. Por outro lado, esse novo tipo de pânico social tornou-se responsável pela estigmatização de certas comunidades, que têm sido associadas, superficialmente, ao fenómeno terrorista”, pode ler-se na tese de Ventura.
O mesmo frisa ainda a questão do pânico social que é de “extrema importância”.
“O pânico social, resultante da ameaça do terrorismo, tem sido capaz de provocar alta conflitualidade social e crescente suspeição, difícil de repelir, direcionada a certas comunidades”, acrescenta ainda.
O Polígrafo tentou contactar André Ventura, mas não obteve qualquer resposta.
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Avaliação do Polígrafo:
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