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| - A primeira notícia é do “Jornal de Negócios” e data de 30 de julho de 2007, ao passo que a segunda é do jornal “Expresso” e foi publicada no dia 17 de fevereiro de 2022. Este tipo de publicações (baseadas em comparações de notícias antigas com atuais, sobretudo para realçar aparentes contradições) é recorrente nas redes sociais, por entre muitos exemplos de informação descontextualizada e enganadora, ou mesmo adulterada (títulos e datas modificados, etc.), além da excessiva simplificação inerente a títulos isolados.
Estaremos perante mais um desses casos em que as aparências iludem?
Em julho de 2007, o “Jornal de Negócios” informou que “Portugal está preparado para deixar de importar energia elétrica de Espanha a partir de 2012, devido ao aumento da produção energética no país através de barragens e turbinas eólicas, disse José Penedos, presidente da Redes Energéticas Nacionais (REN), em entrevista à Bloomberg”.
“A balança comercial energética com Espanha tem sido ‘desfavorável’ para Portugal nos últimos cinco anos, mas pode melhorar à medida que Portugal aumenta a produção de energias renováveis. ‘Estou à espera que nos próximos cinco anos, a tendência seja para atingirmos um equilíbrio’, disse o presidente da REN. Em 2010, o objectivo do Governo passa por ter 45% da produção de electricidade através de fontes renováveis, reduzindo as importações do exterior”, lê-se no mesmo artigo.
Ou seja, a notícia baseou-se em declarações do então presidente da REN (na altura ainda era uma empresa pública, até à privatização em 2014), José Penedos, que antecipou a possibilidade de deixar de importar eletricidade de Espanha a partir de 2012.
Mais recentemente, em fevereiro de 2022, o jornal “Expresso” informou que “o sistema elétrico português registou esta quinta-feira [dia 17 de fevereiro] um novo máximo histórico na utilização da capacidade de interligação com Espanha, atingindo um pico de 4.693 megawatts (MW) às 14h15, segundo os dados em tempo real da REN – Redes Energéticas Nacionais. O valor é ainda provisório e está sujeito a acertos, mas se se confirmar é o mais alto nível de utilização da rede para importação de eletricidade de Espanha“.
“Como mostram os dados da REN, às 14h15 a eletricidade importada de Espanha chegou a abastecer 68% da energia elétrica que nesse instante estava a ser consumida em Portugal por famílias, empresas e outras instituições. Mas se considerarmos o consumo global de eletricidade incluindo a usada nas bombagens das centrais hidroelétricas, então o peso das importações às 14h15 era de 58%”, lê-se no mesmo artigo.
Terá sido um fenómeno momentâneo? De acordo com os dados da REN, parece que sim, mas não deixa de ser um pico na importação de eletricidade de Espanha. Assim contrariando a referida previsão de que, a partir de 2012, Portugal deixaria de recorrer a essa importação para suprir as necessidades de consumo de energia elétrica.
A presente situação de seca severa ou extrema na maior parte do território nacional estará a contribuir para esse aumento da importação de eletricidade. De qualquer modo, no ano de 2021, segundo os dados da REN, “a produção renovável abasteceu 59% do consumo de energia elétrica em Portugal. A energia eólica representou 26%, seguida da hidroelétrica com 23%, biomassa com 7% e a fotovoltaica com 3,5%. A fotovoltaica, embora continuando a ser a menos significativa, registou um crescimento acentuado de 37% face ao período homólogo”.
“A produção não renovável abasteceu 31% do consumo, repartida por gás natural com 29% e carvão, com a última central encerrada no final de novembro, a representar menos de 2%. O saldo importador abasteceu os restantes cerca de 10%“, informou a REN.
Ou seja, no ano passado, cerca de 10% do consumo de energia elétrica em Portugal foi garantido por importações de Espanha.
A contraposição de notícias no post não é enganadora, mas carece de algum contexto e informação adicional. Desde logo o facto de a previsão de 2007 (apontando para 2012) ter sido expressa pelo então presidente da REN, não por um qualquer membro do Governo liderado por José Sócrates. De resto, o pico de importação terá sido momentâneo, voltando a baixar nos dias e semanas seguintes.
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Avaliação do Polígrafo:
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