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| - “Previnam-se tendo aspirina em casa. ‘Os investigadores determinaram que o risco de morte ou entrada nos cuidados intensivos foi reduzido quase a metade entre as pessoas que receberam aspirina, em comparação com aquelas que não tomaram esta medicação. Os resultados do estudo foram publicados em outubro, na revista científica Anesthesia and Analgesia‘”, lê-se numa das mensagens mais partilhadas, entre o Facebook e o Twitter.
Confirma-se que a aspirina pode ter um papel importante nos casos mais graves da doença Covid-19?
O estudo é autêntico e foi publicado no dia 21 de outubro de 2020, na revista científica Anesthesia and Anagesia. De facto, a utilização da aspirina no tratamento de casos graves de Covid-19 tem sido testada e o fármaco apresenta-se como uma opção para evitar a criação de coágulos associados às formas mais gravosas da doença.
No entanto, como explica Filipe Froes, pneumologista e coordenador do Gabinete de Crises da Ordem dos Médicos, questionado pelo Polígrafo, é necessário continuar a realizar mais testes para se poder concluir que a aspirina pode ser utilizada com sucesso no tratamento da Covid-19. “Precisamos de estudos, idealmente, com milhares de pacientes, em diferentes centros, com dupla ocultação – onde nem os médicos, nem os doentes sabem o que está a ser estudado para não haver vieses de interpretação – e, em relação à aspirina, esses estudos ainda estão a decorrer“, ressalva.
Filipe Froes refere-se especificamente ao Recovery Trial que se iniciou no dia 6 de novembro em 176 hospitais do Reino Unido, envolvendo 16 mil pacientes. Peter Horby, um dos líderes da investigação, informou que a equipa considerou ser “particularmente importante adicionar a aspirina ao ensaio, uma vez que existe uma clara razão para acreditar que pode ser benéfica, segura, barata e amplamente disponível“.
Segundo o investigador, a equipa “procura medicamentos para a Covid-19 que possam ser utilizados imediatamente por qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo”. E demonstra-se convicto de que o estudo chegará a alguma conclusão: “Não sabemos se a aspirina é esse medicamento, mas vamos descobrir“.
A coagulação do sangue em casos mais graves de Covid-19 é uma situação identificada e cujo tratamento já faz parte do procedimento aplicado nos hospitais portugueses. “Do ponto de vista fisiopatológico, sabemos que há um acréscimo do risco de trombose – sobretudo trombo-embolismo venoso e trombo-embolismo arterial – nos doentes com formas graves de Covid-19″, explica Filipe Froes, indicando que este risco acrescido ronda os 30%.
Por sua vez, Filipe Froes entende que a utilização deste fármaco, “do ponto de vista fisiopatológico, faz sentido pela ação da aspirina em duas vertentes: na anti-agregação plaquetária e na ação anti-inflamatória“. No entanto, o pneumologista sublinha que “os estudos que vão esclarecer isso ainda não são conclusivos“.
A coagulação do sangue em casos mais graves de Covid-19 é uma situação identificada e cujo tratamento já faz parte do procedimento aplicado nos hospitais portugueses. “Do ponto de vista fisiopatológico, sabemos que há um acréscimo do risco de trombose – sobretudo trombo-embolismo venoso e trombo-embolismo arterial – nos doentes com formas graves de Covid-19″, explica Filipe Froes, indicando que este risco acrescido ronda os 30%.
“Isso leva a que faça parte do protocolo padrão de tratamento a profilaxia desses fenómenos”, acrescenta. Neste momento, não é administrada aspirina, mas sim as denominadas heperinas de baixo peso molecular, uma técnica que já é utilizada desde há décadas para o tratamento de outras doenças também associadas a tromboses.
Em suma, a aplicação da aspirina no tratamento da Covid-19 ainda se encontra em fase de estudos. Quanto à recomendação no sentido de ter sempre aspirina em casa, como forma de prevenção, importa clarificar que as pesquisas em curso sobre a aspirina focam-se na sua eficácia em casos graves de Covid-19, quando o paciente já está internado. A aspirina não atua nem de forma preventiva, nem como tratamento da doença em fase inicial. De resto, Filipe Froes adverte que os medicamentos não devem ser tomados sem prescrição médica.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Parcialmente falso: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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