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| - A publicação é já antiga, mas continua a circular nas redes sociais com o título “Vacinas contra o coronavírus parecem estar a causar 50 vezes mais efeitos adversos do que as vacinas contra a gripe” ou “Taxa de reações adversas às vacinas Covid já é 50 vezes maior do que a vacina contra gripe”, como consta no tweet encontrado pelo Polígrafo.
Os efeitos secundários das vacinas têm sido um dos temas mais abordados desde que os reguladores aprovaram a administração dos fármacos. Mas será que se confirmam estes dados?
A afirmação partiu de um artigo publicado no dia 6 de janeiro, no site relacionado com o antigo congressista norte-americano republicano Rod Paul. No texto é referido que “o jornalista Alex Berenson descobriu números perturbadores sobre cerca de um milhão de doses da vacina experimental para o coronavírus que tem sido injetada em americanos até 22 de dezembro [2020]”.
Os dados surgem depois: “o sistema de notificação de reações adversas por vacinas do Centro norte-americano de Controlo e Prevenção da Doença (CDC, na sigla inglesa) recebeu o relato de 307 visitas às urgências e 17 eventos com ‘risco de vida’ de pessoas que receberam a primeira das duas doses no programa de vacinação. Isto, escreve Berenson, é ‘perto de 50 vezes a taxa de efeitos adversos da vacina contra a gripe‘.”
Em declarações à plataforma de fact-checking norte-americana Politifact, o jornalista identificado no texto explica que o trabalho que fez não tinha como objetivo reportar que a vacinas que protegem da Covid-19 estavam a causar sintomas adversos, mas sim focar-se no facto de existirem mais dados reportados no Sistema de Notificação de Efeitos Adversos das Vacinas (VAERS) do que para a vacina contra a gripe. “Estou a mostrar o potencial problema que estes dados criam”, explicou Alex Berenson.
Mas os dados disponibilizados na plataforma VAERS podem causar uma má interpretação. E, por isso, existe um aviso na página: “Apesar de ser importante monitorizar a segurança das vacinas, os relatos do VAERS sozinhos não podem ser usados para determinar se a vacina causou ou contribuiu para um efeito adverso ou doença. Os relatos podem conter informação que é incompleta, imprecisa, confidencial ou não verificada. Na maior parte dos casos, os relatos ao VAERS são voluntários, o que significa que são sujeitos a vieses.”
Quer isto dizer que qualquer pessoa pode inserir na plataforma um efeito secundário, o que não significa que tenha sido uma consequência da administração da vacina ou que tenha uma relação de causa-efeito com o fármaco.
“Apesar de ser importante monitorizar a segurança das vacinas, os relatos do VAERS sozinhos não podem ser usados para determinar se a vacina causou ou contribuiu para um efeito adverso ou doença. Os relatos podem conter informação que é incompleta, imprecisa, confidencial ou não verificada”.
Paul Offit, diretor do Centro de Educação para a Vacinação e médico de doença infecciosa no Hospital Pediátrico de Filadélfia sublinha, em entrevista ao Politifact, que “o sistema VAERS é muito ruidoso”, o que torna difícil fazer a comparação. Existe “muita associação temporal que não é necessariamente causal“, acrescenta.
Também Werner Bishcoff, professor de doença infecciosa na Faculdade de Medicina da Universidade de Wake Forest, nos Estados Unidos, disse, ao mesmo fact-checker, que as vacinas contra a Covid-19 são muito mais monitorizadas do que as vacinas que protegem da gripe, uma vez que todas as pessoas ficam sob observação pelo menos 15 minutos – em Portugal são 30 minutos – depois de serem inoculadas.
As vacinas contra a Covid-19 são muito mais monitorizadas do que as vacinas que protegem da gripe, uma vez que todas as pessoas ficam sob observação pelo menos 15 minutos – em Portugal são 30 minutos – depois de serem inoculadas.
O VAERS apenas apresenta dados absolutos do número de relatos introduzidos na plataforma. Para que se realize a análise, é necessário ter em conta vários fatores, sendo um dos mais importante a quantidade de pessoas que tomou as diferentes vacinas. Quando comparamos a vacina contra a Covid-19 e a gripe, podemos verificar que mais pessoas receberam o fármaco contra o novo coronavírus. Em média, perto de 65% da população norte-americana tem pelo menos uma dose da vacina contra a Covid-19, enquanto apenas 52% recebe a vacina contra a gripe. Os especialistas do “Meedan Digital Health Hub“, uma plataforma de investigação que combate a desinformação na área da saúde, lembram que, “quanto mais pessoas receberem a vacina, mais provável é haver relatos”.
Além disso, a maior parte das vacinas contra a Covid-19 requerem a administração de duas doses, o que também “aumenta o número de oportunidades de sintomas indesejados ocorrer em associação à vacina, independentemente se ter sido causada por ela”, acrescentam.
Não se pode fazer uma comparação entre as duas vacinas, uma vez que protegem contra dois vírus diferentes, duas doenças diferentes e, em alguns casos, utilizam duas técnicas de desenvolvimento completamente diferentes. Apesar disso, a comunidade científica reconhece que a vacina contra a gripe pode provocar sintomas mais leves do que a da Covid-19. Por outro lado, as vacinas contra a Covid-19 apresentam também efeitos mais moderados do que outras vacinas – como, por exemplo, a vacina da zona, uma doença causada pelo vírus varicela zoster.
A maior parte das vacinas contra a Covid-19 requerem a administração de duas doses, o que também “aumenta o número de oportunidades de sintomas indesejados ocorrer em associação à vacina, independentemente se ter sido causada por ela”.
Em Portugal, o Infarmed identificou, até 26 de setembro, um total de 15.922 reações adversas às vacinas contra a Covid-19, num total de 15.956.183 vacinas administradas – o que corresponde a um caso de reações adversa por cada 1.000 inoculações. Dessas, 5.926 foram reações graves, o que representa 0,4 casos por 1.000 vacinas administradas.
As vacinas que são administradas à população passam por vários testes e ensaios clínicos antes de serem sujeitas à avaliação por parte dos reguladores. As entidades como a Agência Europeia do Medicamento (EMA) realiza uma avaliação sobre o processo de desenvolvimento e produção das vacinas e, para serem administradas, estes têm de demonstrar serem seguras e eficazes. Mesmo depois de receberem luz verde, todos os fármacos continuam a ser monitorizados pelas entidades competentes.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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