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| - “O rigor dos números é importante neste tipo de debates”, começou por sublinhar Pedro Marques, antigo ministro do Planeamento e das Infraestruturas e atual eurodeputado do PS, propondo-se corrigir uma afirmação que Ricardo Baptista Leite, deputado do PSD, tinha proferido alguns momentos antes, em debate na SIC Notícias.
“Portugal tem uma recuperação prevista para 2021 e 2022 um pouco abaixo da média europeia, mas exatamente porque no ano passado não teve um comportamento económico tão mau como a União Europeia. É exatamente o contrário do que disse há pouco. Nós no ano passado tivemos uma recessão, é verdade, mas uma recessão menor do que aconteceu na União Europeia. Foi o que aconteceu. A União Europeia teve uma recessão de quase 8% e Portugal não chegou aos 7% de recessão no ano passado. E portanto é natural que este ano a recuperação ainda não seja tão acentuada, porque também a queda não foi tão significativa“, assegurou Marques.
Quem tem razão?
De acordo com o boletim de “Contas Nacionais Trimestrais” publicado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) no dia 26 de fevereiro de 2021 (pode consultar aqui), “em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) registou uma taxa de variação de -7,6% em volume, após um aumento de 2,5% em 2019. Esta contração foi a mais intensa na atual série de Contas Nacionais, refletindo o efeito negativo extraordinário da pandemia Covid-19 na atividade económica”.
“A procura interna foi particularmente afetada, passando de um contributo para a variação anual do PIB de +2,8 p.p. em 2019 para -4,6 p.p. em 2020. O consumo privado (Despesas de Consumo Final das Famílias Residentes e das Instituições Sem Fim Lucrativo ao Serviço das Famílias) registou uma variação de -5,9%, em termos reais, e o Investimento diminuiu 4,9% (variações de 2,6% e 5,4%, respetivamente, em 2019). A procura externa líquida apresentou um contributo de -3,0 p.p. (-0,3 p.p. em 2019), com as Exportações de Bens e Serviços a registarem uma diminuição (-18,6%) mais intensa que a observada nas Importações de Bens e Serviços (-12,0%), destacando-se o significativo contributo negativo das exportações de serviços”, informou o INE.
Também em fevereiro de 2021, o Eurostat, gabinete de estatísticas da União Europeia, publicou uma estimativa rápida (pode consultar aqui) indicando que, no ano de 2020, o PIB diminuiu 6,8% na Zona Euro e 6,4% no conjunto da União Europeia. Ou seja, de acordo com estes dados preliminares (ainda sujeitos a eventual revisão), a recessão no conjunto da União Europeia foi inferior à de Portugal, exatamente ao contrário do que garantiu Marques, evocando a importância do “rigor dos números”.
Mais recentemente, em março de 2021, o Eurostat publicou outra estimativa rápida (pode consultar aqui) em que apresentou valores diferentes para a queda do PIB em 2020, a saber: 6,6% na Zona Euro e 6,2% na União Europeia. Ou seja, ainda mais distante do nível de recessão (7,6%) estimado para Portugal no ano transacto.
Baptista Leite ainda tentou refutar Marques, mas o eurodeputado do PS insistiu na sua correção e apontou para “as previsões económicas da Primavera” de 2021 da Comissão Europeia. De facto, esse documento existe (pode consultar aqui), tendo sido publicado em maio de 2021.
O problema é que confirma, precisamente, o erro de Marques, ao informar que “em 2020, a economia da União Europeia registou uma contração de 6,1% e a da área do euro de 6,6%”. Ao passo que Portugal sofreu uma queda de 7,6% do PIB, consubstanciando uma das mais maiores recessões entre os Estados-membros da União Europeia no ano em causa.
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Avaliação do Polígrafo:
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