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| - “Esquerdalhada sempre a pedinchar? André Ventura pede 154 mil euros em donativos aos militantes do Chega para comprar outdoors“, salienta-se num post de 27 de fevereiro no Facebook, remetendo para uma outra publicação da autoria de Victor Meira de Sousa, antigo candidato à Câmara Municipal de Famalicão pelo Chega e fundador do partido naquele município.
Nesse mesmo dia 27 de fevereiro, poucas horas antes, Meira de Sousa tinha revelado a cópia de um e-mail (assinado por Ventura) que o partido Chega supostamente enviou aos respetivos militantes a pedir dinheiro para adquirir cartazes. Sob o mote “Vamos ter um outdoor em todos os concelhos do país?“, nesse e-mail começa por se lamentar que “não é fácil passar a nossa mensagem a nível nacional”, pois “a comunicação social insiste em descrever-nos como um partido racista, fascista e xenófobo“.
“Nós sabemos que isto não é verdade, mas e as outras pessoas? Essas são todos os dias enganadas com a mensagem que os outros partidos e a imprensa passam de nós: uma mensagem errada que tem como propósito travar o crescimento do Chega para, assim, protegerem este sistema podre que está instalado no país desde 1974“, prossegue-se no texto em causa.
“Isto significa que temos de ser nós a ir à luta e a dar a conhecer o verdadeiro Chega a quem ainda vota noutros partidos porque não sabe o que realmente defendemos”, sublinha-se. “Como? É simples: vamos colocar um outdoor do nosso partido em todos os concelhos do país! Todos! Já imaginaram o que é ter um outdoor com a nossa mensagem em cada um dos 308 concelhos? Já imaginaram o que é ter 308 outdoors espalhados por todo o nosso território? É isto que queremos e precisamos da vossa ajuda“.
Seguem-se as contas: “O partido vai pagar o valor correspondente a metade do valor total de cada outdoor. Por outras palavras, o partido pagará 500 euros por cada outdoor e os militantes os outros 500 euros. Os donativos serão feitos por cada concelhia, isto é, cada concelhia terá de amealhar 500 euros para um outdoor. Este é um investimento para o futuro, pois os outdoors serão nossos e poderemos utilizá-los em qualquer momento.”
Posto isto, Meira de Sousa comenta que “já sabíamos que este partido não tem gente capaz nas suas estruturas. Também já sabíamos que muitos deles estão lá para benefício próprio, para liquidar dívidas, para ter festas e festinhas privadas com tudo do melhor e para saírem do anonimato e terem algum protagonismo. Já sabíamos, igualmente, que grande parte (para não dizer todo) do valor das quotas dos militantes serve para o ragabofe dos deputados e acólitos do Ventrulha, seus vícios privados, álcool e afins”.
“Depois de nas Presidenciais Ventrulha ter amealhado mais de 146 mil euros em subvenções, mas os gastos foram suportados por militantes, dinheiro esse recolhido em jantares privados. Depois de nas Legislativas o Chega ter metido ao bolso mais de 1,2 milhões de euros por ano (nas Autárquicas ninguém sabe). Vem agora o partido endinheirado, que queria comprar a Sede do CDS, pedir aos seus militantes que suportem metade do valor dos outdoors do seu concelho… Coitadinhos, tão pobrezinhos”, critica.
“Recebem dos 40.000 pseudo-militantes mais de 760 mil euros por ano e não têm 350 mil euros (se comprarem com IVA, coisa que sei que eles não o fazem) para gastar nos 308 concelhos de Portugal? Paga burro! Enquanto eles engordam lá em baixo à custa do Estado, enquanto eles sonegam os dinheiros do partido para gastos privados, tu vais pagar a campanha do Messias… Afinal ele quer a cara dele espalhada por todo Portugal, tipo o ‘Galo de Barcelos'”, sublinha.
Contactado pelo Polígrafo, Meira de Sousa garante que “o partido enviou o e-mail para todos os militantes e simpatizantes registados no portal Chega”.
“A minha relação com o Chega não existe após conhecimento de várias situações irregulares, duvidosas e, se calhar, ilegais. Depois de tomar conhecimento do tipo de pessoas que este partido estaria a recrutar para os seus quadros decidi abandonar, na altura juntamente com os restantes presidentes concelhios e candidatos autárquicos”, explica o antigo candidato a autarca de Famalicão pelo Chega e que entretanto deixou de ser militante do partido.
“Para mim, conhecendo eu internamente as pessoas e o modus operandi desta direção, este é um partido unipessoal que só serve o ego de uma pessoa. A suspensão, além de ter sido considerada ilegal pelo Tribunal Constitucional, não influenciou em nada a minha já programada decisão de abandonar aquilo a que chamo seita“, conclui.
Por sua vez, em resposta ao Polígrafo, fonte oficial do Chega justifica o pedido de donativos indicando que “esta será a maior campanha de sempre de comunicação local em Portugal”. E acrescenta: “Nenhum partido – mesmo os que têm subvenções bem mais altas – tem outdoors em todos os concelhos do país. Nós temos essa ambição. Ora, sendo este já um grande projeto autárquico, faz sentido que sejam envolvidas as estruturas e os militantes a nível local e distrital”.
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Avaliação do Polígrafo:
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