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| - A alegação de que o National Health Service (NHS) – o serviço nacional de saúde do Reino Unido – divulgou que morreram apenas 5.115 pessoas devido à Covid-19 no país circula há vários dias nas redes sociais. A fonte mencionada nas publicações é o site “The Exposé”, dedicado à partilha de informação sobre a Covid-19 e as vacinas contra a doença. Vários artigos publicados no blogue referido têm sido alvo de verificação por fact-checkers desde o início da pandemia.
Desta vez, num artigo publicado a 27 de abril, desmentem-se as estatísticas dos óbitos divulgadas por fontes oficiais no Reino Unido. “160 mil mortes por Covid? O NHS confirma que morreram de Covid-19 apenas 5.115 pessoas em Inglaterra desde o início da pandemia”, destaca-se no título do artigo em análise.
Na realidade, os dados mais recentes divulgados pelo Governo do Reino Unido indicam que o número de mortos provocados pela pandemia, a 28 de abril, era superior a 161.000.
Tal como verificado pelo “Lead Stories“, a argumentação do “The Exposé” baseia-se na descontextualização dos dados publicados no relatório “Covid-19 total de mortes – resumos semanais”, da autoria do NHS.
O documento de 21 de abril de 2022 mostra que, desde o início da pandemia, 114.721 pessoas morreram em hospitais ingleses devido ao novo coronavírus. Do número indicado, 109.606 tinham pelo menos uma condição médica pré-existente e 5.115 não tinham nenhuma condição. No artigo analisado, apenas este último dado, dos doentes sem comorbilidades, foi tido em conta.
“Este ficheiro contém informação sobre as mortes de pacientes que morreram em hospitais, em Inglaterra, e que testaram positivo à Covid-19″, descreve-se na legenda de uma tabela do relatório mencionado, em que se expõem os dados relativos à categoria “Mortes por Covid-19 por faixa etária e condições médicas pré-existentes”.
Desta forma, o conteúdo em análise, exposto no blogue inglês, é enganador. Estão a ser excluídos dos registos de morte por Covid-19 todos os que tinham uma qualquer comorbilidade pré-existente à infeção por Covid-19. Da mesma forma, são omitidas todas as mortes por Covid-19 que ocorreram fora dos hospitais, tais como aquelas que sucederam em lares de idosos, por exemplo.
O Gabinete de Estatísticas Nacionais do Reino Unido explicou, em janeiro de 2022, como são classificadas e contabilizadas as mortes por Covid-19 e o porquê de se provocar desinformação quando se omitem das estatísticas os pacientes com comorbilidades identificadas.
“Um médico que certifica uma morte pode listar todas as causas na cadeia de eventos que levaram à morte e condições pré-existentes que podem ter contribuído para a morte, e isso é usado para determinar uma causa básica de morte. Usamos o termo ‘devido à Covid-19’ quando nos referimos apenas a mortes para as quais o Covid-19 foi a causa básica”.
“Independentemente da causa da morte, é muito comum que a pessoa que está a morrer tenha algum tipo de condição de saúde pré-existente, mas isso não significa que a pessoa estava em risco iminente de morrer dessa condição, ou mesmo considerada como tendo uma esperança de vida reduzida”, lê-se no esclarecimento. A entidade britânica assinalou ainda que, entre as vítimas mortais de Covid-19 no Reino Unido, “a condição pré-existente mais comum era o diabetes”. Ou seja, “uma condição crónica, que é grave e pode tornar a pessoa mais vulnerável a outros problemas de saúde, mas que não está associada automaticamente ao risco de vida”.
“Um médico que certifica uma morte pode listar todas as causas na cadeia de eventos que levaram à morte e condições pré-existentes que podem ter contribuído para a morte, e isso é usado para determinar uma causa básica de morte. Usamos o termo ‘devido à Covid-19’ quando nos referimos apenas a mortes para as quais o Covid-19 foi a causa básica”, esclarece ainda o gabinete.
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