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| - “Rangel foi o 12.º eurodeputado (entre 761) que mais rendimentos obteve fora da sua atividade parlamentar (imagino que decorrentes da advocacia). A propósito de conflitos de interesses, ouvi-lo pregar a moral e as virtudes públicas é, assim, como que para o chocante. Também não é novidade.” O texto é de um post publicado no Facebook em 2019 (em ambiente de pré-campanha para as Eleições Europeias), recuperado no passado mês de novembro, seis dias antes dos militantes do PSD decidirem se o seu presidente seria Rui Rio ou Paulo Rangel.
A publicação é também constituída por um quadro com o suposto ranking de rendimentos obtidos pelos eurodeputados fora da atividade parlamentar, mostrando os três melhor remunerados, o lugar de Paulo Rangel (12º) e ainda aqueles que o circundam (11º e 13º). A republicação agora realizada é introduzida pela expressão “Paulo Rangel está entre os 12 eurodeputados (em 761) que mais enriqueceram (…)”.
Paulo Rangel é mesmo o 12º eurodeputado com maiores rendimentos fora dessa função entre os 705 eleitos?
O Polígrafo verificou, em primeiro lugar, a autenticidade do ranking reapresentado em novembro (com referência a março de 2019).
De facto, a 10 de julho de 2018 a “Transparency International EU” (a delegação da Transparência Internacional que funciona em estreita colaboração com a União Europeia) publicou o ranking dos rendimentos extra-Parlamento Europeu dos eurodeputados. O “Moonlighting in Brussels”, relatório que se centrou nas preocupações com emprego e ética no Parlamento Europeu, divulgou os valores auferidos pelos então 751 eurodeputados fora do âmbito daquelas funções, entre julho de 2014 e julho de 2018 (período coincidente com quase toda a 8ª Legislatura).
A consulta desse ranking permite confirmar a veracidade dos poucos dados reproduzidos no post já citado. No que respeita a Paulo Rangel, além do 12º lugar, também os montantes mínimo (280.048 euros) e máximo (704.000) e as atividades desenvolvidas (advogado e comentador televisivo) correspondem ao publicado pelo relatório da “Transparency International EU”.
Há dados mais recentes e, se sim, apresentam a mesma tendência?
O “Transparency International EU” tem disponível online a versão atualizada deste ranking, com os valores desta nova legislatura, a 9ª (2019-2024), apresentados numa lógica de rendimentos auferidos por ano.
Atualmente, a posição e os dados de Paulo Rangel são bastante diferentes: entre os 705 eurodeputados (número de mandatos diminuído desde 1 de fevereiro de 2020, por força do Brexit), na categoria de rendimento máximo, Rangel passou do 12º para o 56º lugar, com um rendimento anual que baixou dos 176 mil (o valor total apresentado em 2019 a dividir por quatro) para os quase 66 mil euros obtidos em atividades que – também elas – se alteraram (a docência universitária substituiu a advocacia, mantendo-se o comentário na televisão/rádio).
Em suma, a publicação no Facebook em causa refere-se com fidedignidade ao período 2014-2018 mas, relativamente ao presente, os dados que apresenta não são atualizados. Paulo Rangel já não é um dos eurodeputados que mais dinheiro recebe por trabalhos ou atividades fora de Estrasburgo/Bruxelas. Tal sucedeu, de facto, em quatro dos cinco anos do seu mandato anterior (2014-2018), mas no atual (desde 2019) esta situação alterou-se substancialmente: Rangel deixou de exercer advocacia e passou a auferir menos de metade dos montantes anuais da legislatura anterior.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falta de contexto: conteúdos que podem ser enganadores sem contexto adicional.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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