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| - Um grupo de pessoas, empunhando armas de alto calibre, descem uma das ruas da favela Rocinha – a maior do Rio de Janeiro. Ao fundo da rua, encontra dois polícias numa favela do Rio de Janeiro, Brasil. Os agentes da autoridade ficam sem reação, apelando à calma e não atuando perante o grupo armado que segue o seu caminho. A situação descrita anteriormente está a ser partilhada em vídeos pelas diversas redes sociais – por exemplo, no Facebook, Instagram e no Twitter – como sendo um acontecimento real. Mas não é: este vídeo foi captado durante a gravação de uma longa-metragem.
Ao analisar as imagens, é possível encontrar um vídeo semelhante que foi partilhado pelo ator brasileiro Pedro Brandão, na sua conta de Instagram, a 20 de agosto de 2020. Na descrição, o ator refere que se trata da gravação do filme “Rocinha, Toda História tem Dois Lados”, realizada no dia anterior (19 de agosto). A publicação tem ainda a localização “Favela da Rocinha, Maior da América Latina – Rio de Janeiro-Brasil”.
Mais recentemente, a 31 de julho de 2022, a revista de entretenimento francesa “Koulwit” partilhou um vídeo no Facebook do mesmo momento, com um enquadramento muito parecido. Em ambos os vídeos é possível ver cinematógrafos, câmaras, microfones, uma claquete e pelo menos duas pessoas com uma t-shirt vestida onde se lê a palavra “produção”.
O vídeo partilhado por Pedro Brandão rapidamente se tornou viral. As imagens de bastidores do filme foram divulgadas como se de um acontecimento real se tratasse. Nas publicações alega-se que este episódio é o “resultado” da decisão do Supremo Tribunal Federal do Brasil de proibir as ações policias nas favelas durante a pandemia de Covid-19. Por exemplo, um utilizador escreveu: “Rio de Janeiro, após Ministro Facchin proibir a subida da PM [polícia militar] nos morros. Como adjetivar o STF? Esse é o legado que o PT deixou ao país.”
No Instagram foi também publicada parte do vídeo de bastidores, alegando tratar-se de um “gang brasileiro a usar a força para subjugar a polícia”. O enquadramento deste vídeo foi alterado de forma a cortar o lado direito, ocultando assim as câmaras e microfones que apareciam no original.
A BS Produtora, responsável pela produção do filme “Rocinha, toda história tem dois lados”, confirmou à AFP Checamos que as imagens tinham sido captadas durante as gravações realizada a 19 agosto de 2020. Também a Secretaria de Estado da Polícia Militar do Rio de Janeiro afirma, ao mesmo meio, que “o material audiovisual em questão faz parte da gravação de um filme”. Ao Estadão, a polícia militar acrescentou ainda que todos os intervenientes no vídeo “são atores, incluindo os vestidos de policiais”.
A veracidade destas imagens foi também analisada por fact-checkers brasileiros – “Globo” e “Estadão” – e pelo programa brasileiro “Flagrante” do canal Jovem Pan. Em entrevista ao programa, Raíssa de Castro, realizadora do filme, explica que “a Rocinha é uma comunidade como outra qualquer”, onde, além da criminalidade e dos problemas como o saneamento e a pobreza, “existem moradores honestos”. Cerca de 70% da equipa que participou na realização do filme moram na Rocinha.
Conclusão: as imagens divulgadas como sendo um gang brasileiro da favela a subjugar dois agentes da polícia não representam um acontecimento real. Foram captadas nos bastidores de uma longa-metragem que foi gravada na favela Rocinha. Em algumas das publicações, o enquadramento do vídeo foi alterado para não se ver as câmaras e os microfones.
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Avaliação do Polígrafo:
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